CINEMA

Com ingressos de graça, filme 'Som da liberdade' lidera bilheteria no Brasil

Produção americana, que caiu nas graças de grupos conservadores, gerou controvérsia ao ser associada à teoria da conspiração QAnon

Som da LiberdadeSom da Liberdade - Foto: Divulgação

Para impulsionar a divulgação do filme "Som da liberdade" — em cartaz no país desde a última semana —, a pequena produtora americana Angel Studios decidiu oferecer ingressos ao público brasileiro em troca de... bem, ainda não se sabe com clareza. Mas a estratégia, até agora, deu certo. A produção americana que gerou controvérsia ao ser associada à teoria da conspiração QAnon assumiu a liderança, no último fim de semana, na lista de filmes mais vistos nos cinemas do Brasil, de acordo com o site Filme B.

Desde a última semana, quem acessa o site da produtora do longa-metragem é direcionado para uma página onde são ofertadas entradas gratuitas para o filme. Cada pessoa pode retirar até oito ingressos por sessão. A seguinte pergunta fica sem resposta: afinal, quem está bancando tudo isso? "Um anjo pagou adiantado para que você possa assistir a 'Som da liberdade' nos cinemas gratuitamente", ressalta um comunicado da produtora. E pronto, nada mais. O GLOBO entrou em contato com a empresa, mas ainda não obteve retorno.

Conservadores em ação

Produzido por um modesto estúdio nos EUA — também conhecido pela série "The Chosen" (2017), que narra a vida de Jesus —, "Som da liberdade" já arrecadou mais de US$ 200 milhões ao redor do planeta. Nos EUA, o filme foi lançado em julho e rapidamente desbancou mega produções como "Indiana Jones e a relíquia do destino". Tornou-se a produção independente mais bem-sucedida desde "Parasita" (2019), que venceu o Oscar de Melhor Filme.

Em solo americano, a produção acabou no meio das guerras culturais americanas e tem se mostrado um chafariz de hipóteses conspiratórias. É que o sucesso estrondoso do filme entre o público conservador e o endosso de personalidades da direita americana, como o ex-presidente Donald Trump e o ator Mel Gibson, levou críticos a suspeitarem que "Som da liberdade" aludia à teoria da conspiração conhecida como QAnon, que é bastante popular entre a extrema direita nos EUA. Trata-se de uma narrativa falsa que acusa os progressistas de controlarem redes globais de tráfico sexual infantil.

Sobre o que é o filme 'Som da liberdade'?

Filmado em 2018, "Sound of freedom" (no original) era, a princípio, um projeto da produtora Fox. Acabou sem casa depois de o estúdio ser comprado pela Disney, que engavetou o longa-metragem já filmado. Coube então a Eduardo Verástegui, da pequena Angel Studios, adquirir os direitos da obra para lançá-la comercialmente.

A trama acompanha a história real de Tim Ballard, interpretado por Jim Caviezel (de "A paixão de Cristo"). O ator interpreta um ex-agente especial do Departamento de Segurança Interna do governo americano que passa a "fazer justiça com as próprias mãos" e tentar acabar com o tráfico sexual de crianças. Ele passa a comandar a "Operação Ferrovia Subterrânea", organização não-governamental que combate a violência contra crianças e que já foi alvo de críticas nos Estados Unidos. Em matéria publicada pela Vice em 2020, o grupo foi descrito como uma organização que não conseguia comprovar todos os "relatos heroicos" de suas ações.

Bolsonaristas na jogada

No Brasil, a produtora Angel firmou uma parceria com a Brasil Paralelo, plataforma conhecida por documentários que revistam a História à luz de interpretações conservadoras e acusada por críticos de espalhar negacionismo e teorias da conspiração. Assinantes desse site também ganham ingresso gratuitamente para o filme.

“Som da liberdade” também já caiu nas graças do bolsonarismo. Na terça-feira (19), os deputados Eduardo Bolsonaro, Carla Zambelli e Mario Frias compareceram à pré-estreia do longa em Brasília. Em um vídeo na rede social X (ex-Twitter), a senadora Damares Alves convocou toda a “comunidade cristã” a “lotar os cinemas”.

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