Com Will Smith, 'King Richard: Criando Campeãs' aposta na mensagem positiva
Filme narra a luta do pai de Serena e Venus Williams para transformá-las em tenistas de sucesso
Não é preciso ser um grande fã de tênis para saber da importância dos nomes Serena e Venus Williams. Lendas vivas do esporte, as irmãs norte-americanas chegaram ao topo como atletas e tornaram-se também celebridades com forte apelo midiático. Por trás de tanto sucesso, sempre esteve o trabalho de um pai obstinado em fazer de suas filhas grandes estrelas. Seu empenho em cumprir essa missão é retratado em “King Richard: Criando Campeãs”, filme que chega nesta quinta-feira (2) aos cinemas.
Sucesso planejado em detalhes
Dirigido por Reinaldo Marcus Green, o longa-metragem mostra como Richard Williams (Will Smith) projetou o futuro de duas de suas filhas, antes mesmo do nascimento delas, executando cada etapa do seu plano com uma incrível perseverança. No início do filme, o público é transportado para as ruas de Compton, na Califórnia, onde as garotas - ainda na primeira infância - treinavam exaustivamente em uma decadente quadra de bairro, orientadas pelo pai e pela mãe (Aunjanue Ellis), no começo dos anos 1990.
Com roteiro escrito por Zach Baylin, o filme não foge da fórmula tradicional de uma cinebiografia esportiva. Dedicação, fé e superação são palavras-chave para compreender a trama. Espalhando panfletos nos clubes mais ricos da cidade, Richard recebe inúmeras negativas em sua busca por um técnico ou investidores para as meninas. Em meio a isso, ainda precisa lidar com as dificuldades financeiras e problemas com a vizinhança problemática.
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Positivismo e autoajuda
O protagonista parece cair como uma luva para Will Smith, ator afeito a produções permeadas por lições de vida e mensagens positivas, a exemplo de “À Procura da Felicidade” (2006) e “Beleza Oculta” (2016). “King Richard” carrega a mesma vocação ao mostrar uma trajetória cheia de percalços, mas com um final triunfante. Por vezes, o clima de autoajuda domina a narrativa, especialmente quando o patriarca se dedica a ensinar suas crias sobre humildade, foco e planejamento.
O carisma natural de Smith ajuda o público a simpatizar com o personagem teimoso e cujas decisões nem sempre soam sensatas. Mas é nas tensões que o ator consegue desenvolver seu potencial ao máximo e ir além da caricatura. É nos momentos ao lado da impecável Aunjanue Ellis, na pele de Brandi Williams, que a emoção mais genuína surge na tela. O elenco traz ainda as revelações Saniyaa Sidney e Demi Singleton, como Venus e Serena, respectivamente, além de nomes como Kevin Dunn, Jon Bernthal e Tony Goldwyn.
Como se fosse "de verdade"
Mesmo para quem não costuma acompanhar partidas de tênis, os jogos encenados ao longo de 2h24 de filme causam um certo “frio na barriga”. A cada bola rebatida pela raquete, a sensação é de estar torcendo para uma atleta real. Essas vitórias mostradas, no entanto, não são as mais emblemáticas das jogadoras, já que a dramatização do longa chega ao fim com o início da profissionalização de Venus. Os feitos dela e da irmã mais nova ficam para o final, junto com uma compilação de filmagens dos personagens reais que evidenciam a fidelidade na caracterização dos atores.
Vale destacar que as irmãs Williams trabalharam como produtoras do longa. Portanto, o espectador deve saber que assistirá a um filme que apresenta somente um olhar sobre essa história. A vida pregressa de Richard, que abandonou sua primeira família antes de casar com Brandi, é praticamente esquecida pelo roteiro e é mencionada rapidamente apenas em uma cena de discussão entre ele e a esposa. O fato foi criticado recentemente por Sabrina Williams, meia-irmã das tenistas, que sequer é citada na produção. Se tais nuances, por um lado, maculam a boa imagem do personagem real, também trazem uma profundidade humana que parece faltar a sua representação no cinema.