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eSports

Como o Free Fire tem democratizado o acesso aos jogos nas periferias

Campeonatos também estão buscando a inclusão e a profissionalização de jogadores das quebradas brasileiras

Free Fire virou uma febre nas quebradas brasileirasFree Fire virou uma febre nas quebradas brasileiras - Foto: Divulgação

Em uma época que os eletrônicos estão cada vez mais caros, dar o próximo passo para subir de nível poderia ser cada vez mais difícil para jogadores e jogadoras das periferias brasileiras. Equipamentos custam, em média, R$ 2,5 mil, impossibilitando a participação de muitos jovens das favelas nas competições de eSports. Aproveitando o terreno fértil e acessível do Free Fire  - jogo eletrônico de ação para o mobile - , campeonatos estão buscando a inclusão e a profissionalização de jogadores das quebradas brasileiras.

Lançado no final de 2017, o Free Fire ganhou os aparelhos eletrônicos brasileiros em pouco tempo. O game se tornou um dos mais populares do gênero “battle royale” do mundo, com 80 milhões de pessoas ativas neste ano. O segredo para o sucesso do jogo nas periferias está na acessibilidade: pode rodar em qualquer smartphone android e iOS, dos mais baratos até os mais caros, e sem a necessidade de consumir muitos dados 4G. Além de ser um fenômeno na jogabilidade, ele tem invadido a cultura pop brasileira de uma maneira geral, presente até em música, a exemplo de “Zé Guaritinha”, canção de Jottapê e Mano Brown.

O “battle royale” vai na contramão do mercado. Com o alto preço dos equipamentos, o Banco do Brasil anunciou no último mês um consórcio gamer, em linhas que vão de R$ 1,5 mil a R$ 11 mil. No site da instituição, diz que computadores, consoles, kit headset, kit driving e periféricos podem ser financiados para quem quiser montar equipamentos eficientes caseiros, os quais possibilitam jogadores a terem eficiência em campeonatos on-line ou atuarem como streamer de jogos.

O que as organizações querem fazer agora é poder democratizar esse acesso aos eSports. Um desses exemplos é a Copa das Favelas. A modalidade vai agregar 100 favelas brasileiras, das quais 12 (com jogadores dos mesmos estados) serão sorteadas em equipes para um campeonato em uma fim de semana de novembro. As inscrições abrem nesta quarta-feira (16) e serão estendidas até o dia 07 de novembro. “Vamos também permitir jogadores de favelas diferentes se inscreverem no mesmo time, apenas será necessário o time ser do mesmo estado.”, explica Rennan Costa, um dos organizadores do torneio.

Rennan trabalha com eSports há cinco anos e busca estimular a participação de garotos e garotas das favelas em torneios virtuais. “A maior forma de ''hackear'' esse sistema é se engajar e fazer barulho no cenário de eSports em geral. Hoje principalmente com o Free Fire, vemos atletas que moravam em comunidades carentes tendo sucesso no cenário profissional e melhorando a qualidade de vida.”, conta ele, que possui projetos em andamento e é professor do AfroGames - centro de treinamento de eSports nas favelas. 

Costa pontua que eSports abrem várias possibilidades para jovens das quebradas. "Ele pode se tornar um streamer ou um influencer digital. Muitos as vezes não tem o nível competitivo, mas tem o carisma certo para conquistar o publico e assim conquistar uma melhora de vida por causa do game.".

Resistência virtual

Por ser um jogo aberto a jovens das favelas e de regiões, como a Norte e a Nordeste, há um certo elitismo em torno do Free Fire. “Tem uma discussão de classe mesmo em torno do Free Fire, porque ele é um jogo de mobile, de celular. A galera quer zoar os gráficos, dizendo que é isso ou aquilo, mas na verdade é apenas um ódio. A gente vive um ódio, infelizmente, aos pobres e tudo que remete à pobreza, e que remete às desigualdades de classe”, frisa Andreza Delgado, uma das organizadoras da copa e também criadora do PERIFACON.

Ela, que também é criadora de conteúdo geek, afirma que eventos, a exemplo da Copa das Favelas, são importantes para que os consumidores da cultura nas favelas possam também se profissionalizar. “É preciso abraçar a periferia não só enquanto consumidor disso tudo, porque é preciso parar e pensar também: ‘o cara passa o ano todo consumindo quadrinhos, filmes e jogos, mas por que não ter um acesso a esses eventos também? É importante a gente conseguir criar pontes e conectar mais esse público”, enfatiza Delgado.

Nos últimos anos, Andreza tem se dedicado a produzir conteúdo geek a dar visibilidade sobre as temáticas para as periferias. “Apesar dos comentários elitistas, apesar das posições errôneas, a gente ainda pode contar com pessoas legais e bacanas. Figuras do streaming e emblemáticas do mundo geek estão sempre apoiando essas iniciativas. Então essas posições são um mero detalhe. Essas paradas vão sempre querer fechar as portas para a gente. E se fechar a gente mete o pé. Iniciativas como essas não vão surgir de empresas, mas da gente”, afirma a produtora de conteúdo. 

Copa indígena

Na semana passada, ocorreu o primeiro torneio indígena do game. Organizado pelo Movimento da Juventude Indígena de Rondônia, o intuito do torneio era aproximar jovens de etnias distintas. O evento reuniu 56 jogadores, os quais foram divididos em 14 equipes. Os povos Apurinã, Cinta Larga, Juma, Karitiana, Muduruku, Surui, Tupari e Uru Eu Wau Wau participaram da edição. A etnia Cinta Larga levou a melhor na final contra a etnia Karitiana, levando uma premiação de R$ 200.

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