Logo Folha de Pernambuco

inspiração

Conheça Marta Arruda, que trabalhou como soldadora e fez 1ª escultura em um canteiro de obras

Exposição com cerca de 40 obras da artista alagoana está em cartaz na Caixa Cultural, no Rio, relembrando sua carreira artística

A artista Marta ArrudaA artista Marta Arruda - Foto: Monica Ramalho/Divulgação

A alagoana Marta Arruda estava no canteiro de obras, onde trabalhava como soldadora — a primeira mulher a atuar no Gasoduto Nordeste, aliás —, quando percebeu que em seu ofício estava a gênese de uma obra de arte.

Durante uma greve de trabalhadores em meados da década de 1980, a artista percebeu que os peões aproveitavam do tempo para fabricar churrasqueiras.

Ela, porém, pensou: “Por que não fazer um enfeite para a minha casa?”

Dito e feito. Ela produziu, assim, a sua primeira peça: uma escultura de aço, pintada em vermelho e com triângulos agudos apontados para o alto, nomeada “Novo horizonte”.

A obra é uma das 37 que está em exposição na mostra “Marta Arruda - 40 anos de esculturas”, em cartaz até 1° de dezembro na Caixa Cultural, no Centro do Rio.

"Porque eu olhei e vi que era um raio e um sol" lembra ela sobre a escolha do título de sua primeira obra.

O trabalho chamou a atenção de uma artista local, amiga de Marta, que lhe indicou se inscrever no Salão de Arte Contemporânea de Pernambuco.

“Novo horizonte”, então, foi selecionada para participar da mostra em 1987, o que foi um pontapé na carreira da artista que ali tinha início.

Ao longo de quadro décadas, o trabalho de Marta ganhou ainda a simpatia do poeta Ferreira Gullar (1930-2016). Ele entrou em contato com as peças da artesã ainda no início da carreira dela.

“Marta Arruda partiu do ponto básico, que foi dominar o material e evoluir seu emocional, criando a partir deste, seu domínio. Pôr a poesia em ação. Poesia viva. Afinal, o que é vivo, é comovido e o que não é vivo, pode ser o mais estranho que for, é acadêmico”, escreveu ele sobre a artista.

A exposição na Caixa Cultural reúne desde obras com tinturas vibrantes, do azul ao amarelo, a esculturas sem qualquer pintura, a não ser aquela advinda do próprio tempo: uma cor escura com tons de vermelho e marrom, oxidação.

A maioria das peças na mostra, 14, foi produzida na década de 1980.

"Por trabalhar com materiais sempre pesados, há um esforço físico que é desgastante. Aos 66 anos, você sente o peso de uma lixadeira, que tem 6.800 rotações por minuto e, mais ou menos, uns 10kg. Mas eu domino bem, por incrível que pareça ela se torna leve e consigo me sentir nas nuvens" afirma.

Toda a sutileza com os materiais de trabalho só surgiu porque Marta não se deixou encabular diante do impasse que lhe apareceu logo no início de sua carreira como soldadora, entre os cursos que realizava e um ou outro serviço que assumia.

Ela tinha cinco crianças para cuidar. Acabou deixando os filhos com a mãe para conseguir trabalhar fora.

"O que me fez deixar as crianças com minha mãe foi uma frase que ouvi quando estava nesse conflito. Era uma passagem do livro ‘O profeta’, de (Khalil) Gibran: ‘Vossos filhos não são vossos filhos. São os filhos e as filhas da ânsia da vida por si mesma. Vêm através de vós, mas não de vós. E embora vivam convosco, não vos pertencem’. E foi nisso que eu me baseei"

Veja também

Filme de Karim Aïnouz com Alicia Vikander e Jude Law estreia direto no streaming no Brasil
Karim Aïnouz

Filme de Karim Aïnouz com Alicia Vikander e Jude Law estreia direto no streaming no Brasil

Cantora Bárbara Silva traz show ao Recife
MÚSICA

Cantora Bárbara Silva traz show ao Recife

Newsletter