Conheça o duo Claxy, primeira atração brasileira lançada pelo respeitado selo inglês Anjunadeep
Casal de artistas cariocas faz parte de movimento que busca espaço para a música eletrônica cantada originalmente em português
Clara Valente e Gui Gautreaux, que formam o duo de música eletrônica Claxy, se tornaram os primeiros brasileiros a lançarem um EP pelo selo inglês Anjunadeep — um dos mais respeitados do meio e sonho de muitos artistas. Quando souberam que a label queria lançar o trabalho deles, tomaram um “susto”. Eles contam que não se achavam prontos para a chancela da Anjunadeep, mas a recíproca não era verdadeira e, desde a semana passada, está disponível nas plataformas digitais o “Ahead EP”.
Com quatro faixas autorais, Claxy propõe uma experiência de house music diferente. Ainda que as batidas convidem o ouvinte para a pista de dança, existe uma atmosfera introspectiva e profunda criada por paisagens sonoras equilibradas de sintetizadores, baterias eletrônicas e elementos mais orgânicos como instrumentos de cordas. Tudo isso é amarrado pelos vocais de Clara.
Como tudo começou
Clara e Gui, de 38 anos e 40 anos, respectivamente, são do Rio de Janeiro e formam um casal desde 2005. Sob a alcunha de Clara Valente, em 2014, ela lançou o álbum “Mil coisas”, focado em MPB, e, por causa dele, começou a fazer shows pela Europa acompanhada de Gui. Um amigo alemão sugeriu então que eles passassem uma temporada por lá para entender melhor o mercado. Em 2017, decidiram ir para a Alemanha, ficaram, se reinventaram e, em 2020, nasceu a Claxy.
—A gente circulou e fomos mais expostos à música eletrônica. Além disso, quando muda de país, você tem uma página em branco, dá para se permitir mais — avalia Clara.
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Gui completa:
— Também passamos a ter acesso a equipamentos diferentes, usados para compor música eletrônica. Então, começamos a ver um mar de novas oportunidades musicais, de timbres, novas texturas... A gente nunca imaginou que ia poder misturar tudo isso com a nossa musicalidade.
Mesmo que tenham dado uma guinada para um campo da música aparentemente oposto ao da MPB, a dupla diz que tenta manter a essência do gênero, com a tradição da composição inspirada em nomes como Milton Nascimento e Tom Jobim. Eles contam que esbarraram em dois desafios: o de compor em inglês e o da própria house music, na qual a melodia sobressai.
— A gente tem uma tradição literária muito forte na MPB. Então mantivemos isso, mas em vez de estar numa letra, a gente tenta trazer em sons. Para nós é importante ter um conceito, um contexto por trás das músicas — conta Gui.
Para a construção do “Ahead EP” foram fios condutores a vontade de construir uma identidade mais sólida para a Claxy e a pandemia. Eles buscaram o minimalismo e a simplicidade que a vida pedia naquele momento, e somaram com a vontade de ousar, experimentar e brincar com a música. Deu mais certo do que esperavam e, segundo contam, a primeira pergunta que o representante da Anjunadeep fez para eles foi: “Como eu ainda não conhecia vocês?”.
Agora mais seguros, animados e com identidade definida, Clara e Gui têm desejos para além da própria carreira. Querem fazer parte de um movimento que dê espaço para a música eletrônica cantada originalmente em português.
— A gente tem várias composições em português, foi como sempre compus. Então, seria muito especial emplacar com vocais na nossa língua — diz Clara.
Gui complementa a ideia:
— Conseguir lançar uma música com letra em português por um selo como Anjunadeep, por exemplo, é fazer não só pela gente, mas por tantos talentos do nosso país e, com isso, abrir portas.