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Crise dos festivais: que motivos levaram ao cancelamento e adiamento de eventos de música em 2024?

O ano de 2024 foi marcado por um relevante número de festivais e eventos de música cancelados e/ou adiados; quais fatores levaram a esse cenário?

Festival Rec-Beat, com quase 30 anos, surpreende com line-up que preza pela diversidadeFestival Rec-Beat, com quase 30 anos, surpreende com line-up que preza pela diversidade - Foto: Hannah Carvalho/Divulgação

O setor de entretenimento no Brasil, fortemente afetado pela pandemia de Covid-19, demonstra ainda não ter superado seus efeitos. O ano de 2024, três após a abertura sanitária gradual, foi marcado por diversos cancelamentos de shows e eventos, a exemplo das turnês nacionais de Ivete Sangalo e Ludmilla e grandes festivais.

O Primavera Sounds, que aconteceria no final do ano em São Paulo (SP) e nas edições latino-americanas do festival, em Montevidéu (Uruguai) e Assunção (Paraguai), foi cancelado. Em Pernambuco, o Guaiamum Treloso Rural, que aconteceria em setembro, em Aldeia, com line-up já anunciado, cancelou a data, alegando “dificuldades no mercado de entretenimento e captação de parceiros". 

Mal começou 2025 e o anúncio do cancelamento do Abril Pro Rock, tradicional festival de Pernambuco, já aponta para o grande desafio dos eventos, entre outros fatores, a instabilidade financeira, a retenção de verbas de patrocinadores, a maior exigência do público, importância de boas curadorias e planejamento com infraestrutura. 

Pós-pandemia
“No ano de 2022, a gente mapeou 125 festivais. Em 2023, a gente já teve um salto para 298 eventos. Em 2024, a gente foi para 380”, detalha Juli Baldi, diretora criativa do Mapa dos Festivais (plataforma que mapeia os festivais de música que acontecem em todo o Brasil). Ela falou à Folha de Pernambuco sobre a evolução desse mercado no período classificado como “boom dos festivais”.

Apesar do considerável aumento no número de festivais no ano passado, ela destaca a quantidade de eventos cancelados e/ou adiados: mais de 30, em número ainda não totalmente consolidado, pois o panorama publicado pelo Mapa está em fechamento e deve ser divulgado neste mês de fevereiro. 

Motivos
Ainda em 2024, o Mapa dos Festivais publicou artigo que reflete sobre os motivos que levaram a essa “crise dos festivais” no Brasil.

De acordo com Baldi, alguns deles são o alto custo para a realização dos eventos. “A conta não fecha. Fazer um festival, hoje, é muito caro. Então, para mantê-lo, é preciso vender ingresso, ter apoio, ter patrocínio”, diz.

A grande oferta de festivais – às vezes, em um único mês – versus o alto custo de vida também influencia. “Não tá barato viver. Então, com a grande oferta de eventos, quanto mais evento eu tenho, mais eu tenho que escolher onde eu quero estar”, diz Baldi. 

Também influenciam: custos com logística e infraestrutura do evento, preço de passagens aéreas e cachês artísticos, assim como a má distribuição dos patrocínios, com concentração nos festivais no Sudeste e de grande porte, com público maior de 80 mil pessoas.

Eventos climáticos também foram motivação para cancelamentos. “Desses mais de 30 festivais adiados e cancelados no Brasil, quatro foram por eventos climáticos”, diz Juli Baldi, que ainda acrescenta a “crise dos headliners” - a constante repetição de atrações em diversos festivais. 

Perspectivas
Após um 2024 em que cabem diversas reflexões, 2025 se anuncia como um ano de potencial estabilização do circuito de festivais. De acordo com Juli Baldi, o Mapa dos Festivais já têm registrados 90 eventos previstos para acontecer ao longo de 2025 (esse número vai aumentando no decorrer do ano).

“Acredito que [em 2025] veremos uma diminuição no surgimento de novos festivais, especialmente aqueles que classificamos como festivais de agência — eventos focados apenas em lucro, sem um propósito claro”, diz Ana Garcia, idealizadora do No Ar Molotov, festival pernambucano que, em 2024, teve ingressos esgotados.

Já Gutie, idealizador do festival Rec-Beat, de quase 30 anos, que se destaca pela diversidade do seu line up, diz: “A gente está muito otimista. Foram seis anos entre Temer e Bolsonaro, de total massacre das atividades culturais e demonização do segmento da cultura. Foi um período bastante difícil, com pandemia no meio. Agora, a gente percebe uma melhora em todos os aspectos, na economia, com mais empresas investindo em cultura e as leis de incentivo”.

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