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Crítica: 'Minha fama de mau' é retrato nostálgico e musical dos anos 1960

Com direção de Lui Farias, filme conta a trajetória de Erasmo Carlos, astro da Jovem Guarda, interpretado por Chay Suede

"Minha fama de mau""Minha fama de mau" - Foto: Divulgação

Assistir à "Minha fama de mau", em cartaz nas salas de cinema de todo o Brasil, é fazer uma viagem pela memória da Jovem Guarda por meio de um dos seus maiores expoentes. Ao retratar a trajetória profissional do cantor Erasmo Carlos, o filme transporta o espectador até a cena musical dos anos 1960, mostrando como o movimento cultural também conhecido como Iê-Iê-Iê conseguiu colocar o País em sintonia com o fenômeno internacional do rock da época.

O longa-metragem é baseado no livro homônimo, escrito pelo próprio Erasmo e lançado em 2008. A adaptação para o cinema é uma homenagem afetuosa vinda de alguém que convive com o Tremendão desde a infância. O diretor Lui Farias é filho de Roberto Farias, que dirigiu a trilogia de filmes estrelados por Roberto Carlos entre 1968 e 1971. Com essas informações em mente, não é difícil prever que a produção assumiria uma postura "chapa-branca", consagrando o seu protagonista como um herói sem controvérsias.

Ao contrário de outros artistas que já ganharam cinebiografias, como Elis Regina, Tim Maia e Cazuza, Erasmo Carlos não teve uma vida pública cercada por grandes polêmicas. Talvez por esse motivo, a dramaturgia é mais focada em contar as histórias por trás de músicas como "Minha fama de mau", "Splish splash" e "Parei na contramão". A decisão de usar as vozes dos próprios atores nas canções confere uma maior naturalidade à obra, que ganha ares de musical.

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O ator Chay Suede, galã da jovem safra de atores da TV Globo, é quem interpreta o homenageado. Dando vida aos maiores parceiros de Erasmo, Roberto Carlos e Wanderléa, estão Gabriel Leone e Malu Rodrigues. O trio demonstra excelente desempenho atuando e cantando. Uma revelação é o estreante Vinicius Alexandre, que se destaca no carisma que empresta ao seu Tim Maia antes da fama, quando ainda era conhecido como Tião. Já Bianca Comparato mostra versatilidade interpretando todas as conquistas amorosas do protagonista, incluindo sua primeira esposa, Nara.

  

É possível dividir o longa em duas fases. Na primeira, conhecemos o Erasmo das ruas da Tijuca, no Rio de Janeiro, que roubava canos de cobre de casas abandonadas, junto com seus amigos, para conseguir alguns "trocados". Só após conhecer o radialista Carlos Imperial (Bruno De Luca) é que a sua carreira musical deslancha. Nesta fase, são utilizados recursos narrativos incomuns para esse gênero cinematográfico. Em algumas cenas, surgem balões e desenhos, fazendo referências à linguagem dos quadrinhos. Em outros momentos, Chay Suede fala olhando diretamente para a câmera, quebrando a quarta parede. É interessante também o uso de imagens de arquivo, como entrevistas, propagandas e gravações de shows.

O segundo trecho do filme mostra o período de dificuldades na carreira vivido por Erasmo, no final dos anos 1960. Com o fim do programa de TV "Jovem Guarda" e a ascensão de novas tendências musicais, como o Tropicalismo, o músico viu sua popularidade entrar em declínio, ao passo que a amizade com Roberto Carlos ficava cada vez mais estremecida. A partir de então, a produção ganha tons mais dramáticos. No entanto, de uma maneira geral, "Minha fama de mau" é um filme que não se aprofunda no lado emocional dos seus personagens, mas sim faz um retrato nostálgico e solar de uma época que deixou saudades.

Cotação: Regular

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