De Accioly Neto para ele e por ele mesmo
Álbum "Meu Forró", último gravado pelo compositor pernambucano, ganha lançamento nas plataformas digitais
Via de regra a Música Popular Brasileira (MPB) é de quem lhe dá voz e cair no embalo de um “tengo-lengo-tengo” com um Santanna, O Cantador, por exemplo, já é suficiente para firmar laços de amor com o gênero mais nordestino de todos, o forró.
E não se trata de afastar o mérito dos intérpretes, mas de trazer à tona quem assina letras cantaroladas “de cor”. Como não atribuir ao cearense Fagner aqueeeeela versão de “Espumas ao Vento” e não curtir também a versão trazida por Elza Soares? Assim como é impensável não “ouvir” o paraibano Flávio José quando os acordes da sanfona anunciam “Me Diz Amor”.
Esses são só alguns nomes da música brasileira que dão voz a clássicos do pernambucano Accioly Neto (1950-2000), autor destas canções e de centenas de outras entoadas por inúmeros intérpretes. No entanto, hoje, com o lançamento do álbum “Meu Forró” (2001) nas plataformas digitais, é fincado mais um passo na consolidação do seu cancioneiro, chancelando também digitalmente o seu nome como um dos compositores de maior peso da cultura local.
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Accioly, para ele e por ele mesmo
“Queremos manter a obra dele viva e também que essas músicas estejam ligadas ao nome dele. O brasileiro não tem a cultura de saber quem são os compositores das obras, e colocar o álbum gravado por ele com as músicas mais conhecidas dele, ajuda as pessoas a perceberem que é dele”, conta Talitha Accioly, filha do compositor, em conversa com a Folha de Pernambuco.
Composto por quinze faixas, “Meu Forró” ganhou seu primeiro lançamento em 2001, pouco depois da morte de Accioly Neto no ano anterior. Mixado por Robertinho do Recife, o trabalho estava pronto e assinado pelo compositor que não teve tempo de ver o disco “na boca do povo”. “As pessoas cobravam que esse álbum fosse digitalizado e seguisse para as plataformas. E então pensamos em fazer isso agora, neste ano atípico em que só temos no momento, o virtual”, complementa Talitha.
Em 2016, pelo selo Passadisco, esse mesmo álbum de Accioly foi relançado e agora se junta ao recém “Natureza Sonhadora” (2019), trabalho que reuniu nomes da música brasileira em tributo ao compositor pernambucano e também está disponível nas plataformas.
“Ele escolheu o repertório, ele quis lançar esse disco. Ele próprio sinalizava de que tinha muita música dele mas as pessoas não sabiam que eram suas. Meu pai realmente teve cuidado nessa escolha, justamente o que ele queria ouvir em sua própria voz”, ressalta Talitha.
Integram “Meu Forró”, entre outras, as clássicas “Espumas ao Vento”, “Lembrança de um Beijo”, “Me Diz Amor”, além de “Canção da Saudade”, “Mel e Aveloz”, “Veneza, Veneza” e “Máquina de Fazer Doido”, esta última escolhida como single pela atualidade da letra, embora escrita há mais de vinte anos. “Ela é incrivelmente atual.
Na época se falava sobre o HIV e hoje se aplica ao coronavírus, assim como à situação política que estamos vivendo”, justifica ela que à frente da obra do pai, pretende seguir contemplando o cancioneiro de brega, pop e canções românticas deixadas por Accioly.
“Tem muita coisa inédita guardada, de vários estilos. Eu quero disponibilizar os outros discos em breve também, os LP`s... Porque o tempo vai passando e tende a cair no esquecimento, e quero que as canções sigam sendo gravadas, conhecidas pelas novas gerações, mas que levem o nome dele”.