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De Beyoncé a Emicida: videoclipes para entender a luta antirracista nas Américas

Videoclipes de artistas norte-americanos e brasileiros seguem contextualizando a violência policial e o preconceito racial

Beyoncé em cima de uma viatura policial no clipe de "Formation"Beyoncé em cima de uma viatura policial no clipe de "Formation" - Foto: Reprodução

Quando Martin Luther King pediu para a cantora gospel Mahalia Jackson cantar “Take my Hand Precious Lord” no seu funeral, em abril de 1968, já havia a clara certeza de que não há dissociação entre a música negra e a luta antirracista nos Estados Unidos. Meio século depois, homens e mulheres afro-americanos continuam protestando para mostrar que “Vidas Negras Importam” no País. Há quase uma semana, os protestos contra o assassinato de George Floyd, homem negro morto por um policial na cidade de Minneapolis, estão tomando as ruas dos principais centros da América.

A morte cruel de Floyd, 46, não é a única. Embora tendo eleito o 1º homem negro como presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, as desigualdades raciais continuaram em solo americano. No Brasil não é diferente. E a arte, em especial, a música, vem denunciando o racismo nas duas nações. Videoclipes de artistas norte-americanos e brasileiros seguem contextualizando a violência policial e o preconceito racial. São obras que venceram os boicotes da indústria e impactaram a luta antirracista.

Em tempo. Também em homenagem a Floyd, Spike Lee lançou, no último domingo, o curta-metragem “3 brothers”, que conecta a história dele a outros dois homicídios de negros por policiais em circunstâncias semelhantes. O cineasta usou imagens da morte de Eric Garner (2014), e do assassinato de Radio Raheem, personagem de "Faça a Coisa Certa", um dos seus principais filmes (1989). 

 Beyoncé - “Formation” (2016)

 

Beyoncé trata o racismo em “Formation”, do disco “Lemonade”, em 2016. O videoclipe foi dirigido pela cineasta Melina Matsoukas. No começo do curta-metragem, aparecem frases do rapper e Big Freedia, e imagens do influencer Messy Mia, assassinado em Nova Orleans em 2010. No filme, há a abordagem sobre o descaso com a população negra após o Furacão Katrina, em Nova Orleans, em 2005; a violência entre os jovens negros; a segregação racial e a herança escravocrata no Sul dos Estados Unidos. Ela ainda faz alusão ao movimento “Vidas Negras Importam”, nascido em 2012, após o assassino de Trayvon Martin ser inocentado.

Logo após o lançamento, a cantora fez uma apresentação ao vivo no Super Bowl - evento assistido por mais de 100 milhões de pessoas -, fazendo alusão aos Panteras Negras, partido que surgiu em defesa dos afro-americanos na década de 1960. Logo após a performance, a texana foi vítima de ataques de grandes políticos da extrema-direita. Em abril daquele ano, ela lançou o Lemonade, disco que discutiu amplamente as questões raciais na América, e é tido como o álbum mais importante da década de 2010 pela crítica especializada.


Childish Gambino - “This is America” (2018)

 

“Veja como estou vivendo agora, a polícia está viajando agora”. Em quatro minutos, o rapper e cantor de R&b Childish Gambino, pseudônimo do também ator Donald Glover, critica a forma de vida norte-americana. As referências vão do visual em homenagem ao precursor do afrobeat, Fela Kuti, ao assassinato de um negro com um violão - fazendo alusão ao silenciamento da música de protesto nos Estados Unidos. Um dos pontos que chamam atenção é a caricatura ao personagem Jim Crow, que fazia a prática de black face, em detrimento das pessoas negras. Com a música, o cantor foi um dos maiores vencedores do Grammy 2019.

Kendrick Lamar - “Alright” (2015)

Um dos rappers mais renomados da indústria norte-americana (é o 1º músico popular a levar a honraria do Pulitzer da Música), Kendrick Lamar usou, mais uma vez, sua voz contra o racismo na música e do videoclipe “Alright”, quarto single do disco “To Pimp a Butterfly”. O filme, todo em preto e branco, mostra o rapper flutuando em meio à cidade. Uma das cenas icônicas mostra negros em cima de uma viatura de polícia. A música foi utilizada em vários protestos de negros nos EUA em 2015 e 2016.

Emicida - “Boa Esperança” (2015)

O que acontece quando a senzala se vira contra a casa grande? O rapper paulista Emicida escancara as lutas raciais e de classe no videoclipe de “Boa Esperança”, lançado em 2015. No filme, empregados se revoltam contra os patrões após sofrerem abusos morais e sexuais. Nas cenas finais, os trabalhadores amarram os brancos e tocam fogo na mansão, acobertados pelo porteiro, interpretado pelo artista. Na música, o rapper toca em temas, ainda, como a sexualização do homem negro, como diz o trecho: “Cês diz que nosso p** é grande/ Espera até ver nosso ódio”, canta.

Ellen Oléria - “Testando” (2012)

A primeira vencedora do reality “The Voice Brasil”, Ellen Oléria traz em seu trabalho “Testando” as dores dos negros brasileiros. No videoclipe, que é intercalado com apresentação dela, Oléria interpreta uma mulher negra trabalhadora que é vista como bandida enquanto os ladrões são da cor branca. "A minha ameaça não carrega bala, mas incomoda o meu vizinho. O imaginário dessa gente dita brasileira é torto. Gritam pela minha pele, qual será o meu fim?”, aponta um dos trechos da canção.


 

 

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