BRASIL

Deputados acionam o Ministério Público contra mudanças nas regras de conselho do Iphan

Ofício do Psol pede isonomia nas renovações dos mandatos do Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural da autarquia

Ministério Público FederalMinistério Público Federal - Foto: MPF/Divulgação

A bancada do Psol na Câmara dos Deputados acionou o Ministério Público Federal contra o Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), por conta da falta de isonomia nas renovações dos mandatos do Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural da autarquia.

Em ofício protocolado nesta terça-feira (12), o partido argumenta que os 13 membros de notório saber representando a sociedade civil no Conselho não tiveram seus mandatos renovados, diferentemente dos demais integrantes, que inclui a presidência, cinco representantes do poder público, e quatro representantes de entidades independentes.

O Conselho foi dissolvido por um decreto de Jair Bolsonaro, de abril de 2019, que extinguiu diversos conselhos federais com participação da sociedade civil, incluindo o do Iphan. Em janeiro do ano passado, contudo, o Ministério do Turismo (ao qual a Secretaria Especial da Cultura por conseguinte, o Iphan, está submetido) publicou uma portaria recriou o Conselho, estendendo o mandato por quatro anos de membros do poder público e de entidades independentes até janeiro de 2025, sem citar os integrantes de notório saber. Segundo as normas originais, os mandatos destes membros estariam encerrados a partir de abril deste ano, e seria prerrogativa da presidência do Conselho indicar novos nomes.

O ofício destaca que não haver justificativa para o tratamento "diferenciado e não isonômico": "De forma que a medida parece estar sendo tomada para facilitar ações que normalmente não passariam pelo conselho, colocando pessoas de interesse do governo sem o tradicional notório saber devidamente comprovado de todos os que foram nomeados anteriormente."

Os deputados decidiram acionar o MPF pelo risco de que outros interesses, imobiliários e comerciais, pudessem se sobrepor à defesa do patrimônio — cabe ao Conselho autorizar a viagem de obras protegidas para exposições fora do país, o tombamento de bens culturais materiais e registros de bens culturais imateriais a serem preservados e salvaguardados.

O ofício cita atritos com o Iphan durante o governo Bolsonaro, incluindo as indicações para cinco superintendências nos estados de Goiás, Minas Gerais, Distrito Federal, Paraná e Pará atendendo a critérios políticos e não técnicos, em 2019; a progressiva redução do orçamento da autarquia; e o episódio em que o presidente admitiu ter "rifado" diretores que embargaram obras das lojas Havan, cujo dono, Luciano Hang, é aliado político do presidente. Após a declaração, a presidente do Iphan, Larissa Peixoto, chegou a ser afastada por ordem da 28ª Vara Federal do Rio, em dezembro do ano passado, mas a liminar foi suspensa pelo Tribunal Regional Federal da 2ª Região (TRF-2) dois dias depois.

Para a líder da bancada Sâmia Bomfim (Psol-SP), o enfraquecimento do Conselho do Iphan reflete problemas semelhantes que a sociedade civil enfrenta desde 2018.

— O mesmo ocorreu com os colegiados setoriais do Conselho Nacional de Política Cultural que foram extintos e com o conselho da Ancine. Isso revela ainda mais o caráter autoritário, anticultura e sem povo deste governo — comenta Sâmia. — Esperamos que o Ministério Público dê andamento à solicitação, e possa ajudar a garantir a plena participação da sociedade civil no Conselho até 2025 conforme prevê o mandato a que foram designados.

Também assinam o ofício os deputados Vivi Reis (PA), Fernanda Melchionna (RS), Ivan Valente (SP), Áurea Carolina (MG), Glauber Braga (RJ), Luiza Erundinha (SP) e Talíria Petrone (RJ). O Iphan foi procurado para comentar a diferenciação nos mandatos dos membros do Conselho, mas não respondeu até a publicação desta reportagem.

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