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Estreia

'Deserto Particular': representante do Brasil no Oscar é uma história de amor em tempos de ódio

Filme de Aly Muritiba mostra um policial curitibano em busca de sua amada no Sertão da Bahia

"Deserto Particular", filme de Aly Muritiba"Deserto Particular", filme de Aly Muritiba - Foto: Divulgação

A escolha do representante do Brasil na disputa pelo Oscar de melhor filme internacional em 2022 pode até ter surpreendido alguns menos atentos ao cinema nacional, mas não chega a ser estranha. Afinal, desde sua estreia no Festival de Veneza deste ano, com direito a prêmio do público, “Deserto Particular” vem chamando atenção por onde passa. A partir desta quinta-feira (25), os brasileiros podem conferir o longa-metragem nos cinemas e tirar suas próprias conclusões. 

Aly Muritiba, diretor responsável pelo filme, conta que acreditava que a obra tinha chances de concorrer à estatueta de ouro, mas sabia que existiam outros ótimos títulos na lista de possíveis indicações. “Eu acredito que o que pesou foi a visão que o meu filme tem de mundo, essa coisa de tentar proporcionar sensações boas e propagar, quase de maneira messiânica, que o amor pode vencer”, comentou, em entrevista à Folha de Pernambuco.

O diretor acaba de voltar de uma semana de exibições e debates nos Estados Unidos, entre Los Angeles e Nova York, onde o filme teve sessões promovidas pelo La Times, Museu of Moving Imagens e abriu o Hollywood Brazilian Film Festival, entre outros eventos. Esses compromissos integram a jornada da produção rumo à indicação ao Oscar. “Foi uma semana intensa, cheia, exaustiva e muito emocionante”, disse. 
 



Uma história de amor

A trama de “Deserto Particular" apresenta Daniel (Antonio Saboia), um policial afastado de suas funções após agredir um recruta. Homem introspectivo e embrutecido, ele se dedica a cuidar do pai doente e só “baixa a guarda” quando está conversando com Sara, que ele só conhece virtualmente. Após o sumiço repentino da moça, ele resolve viajar de carro de Curitiba até o Sertão da Bahia para procurá-la. 

O argumento original existe desde 2016 e foi criado por Henrique dos Santos, que divide o roteiro com Aly. De acordo o diretor, a narrativa foi pensada inicialmente como um drama de desencontros, mas foi sendo modificada aos poucos. “À medida em que trabalhávamos e discutimos que tipo de emoções queríamos provocar nas pessoas, ela foi se transformando numa história de amor”, contou.

Robson se veste como Sara (Foto: Divulgação)

É como se o longa-metragem se transformasse em outro quando Daniel chega à cidade de Sobradinho. Além do cenário mais “quente”, o filme passa a focar também na história de Sara, que na realidade é Robson (Pedro Fasanaro), um jovem LGBTQIA + que esconde sua real essência por conta da pressão familiar. 

Neste encontro entre universos tão distintos e aparentemente antagônicos estão refletidas sensações a respeito do atual momento social e político que vive o Brasil. “É um filme que revela a capacidade que o amor e a paixão têm de nos levar aos lugares mais distantes, mesmo que estes lugares estejam dentro de nós. Em tempos de ódio, decidi fazer um filme de amor”, defendeu.

De volta ao Nordeste

Gravar em Sobradinho foi, para Aly, também um reencontro com suas origens. O cineasta deixou Mairi, cidade do Interior da Bahia onde nasceu e cresceu, para estudar em São Paulo, em 1998, e logo depois mudou-se para o Paraná. 

“Era muito importante que, ao falar de amor nesse país continental em que vivemos, eu pudesse dar à audiência a sensação física, tátil, climática e cromática do que é viver e demonstrar afetos no Sul e no Nordeste, e de como o lugar onde se vive afeta o comportamento dos personagens. Então, para mim, que hoje em dia moro no Sul do País, voltar ao Nordeste, ao calor extremo, mexeu com as minhas sensações. No Nordeste, os poros se abrem, os fluidos corporais aparecem com mais facilidade e tudo isso afeta o modo como nos relacionamos conosco e com o outro”, apontou. 

Cenas forma garvadas em Sobradinho, na Bahia (Foto: Divulgação)


Sobre o protagonista

Antonio Saboia foi escolhido para dar vida ao protagonista antes mesmo do diretor vê-lo em cena em “Bacurau”. “Ele me procurou para fazer o papel. Amigos souberam do filme e deram a dica para ele. Quando o encontrei pela primeira vez, tomamos um café, conversamos e fechamos o papel. Não teve teste. Foi incrível, porque ele trouxe muito dele para o personagem”, contou.

Daniel, assim como outros personagens escritos por Muritiba, bebe da experiência que o baiano vivenciou como carcereiro. Antes de despontar como diretor de produções como a série “O Caso Evandro”, “Jesus Kid” e “Ferrugem”, o cineasta chegou a trabalhar como agente penitenciário em Curitiba, ao longo de sete anos. 

“A minha experiência como carcereiro foi fundamental para que eu aprendesse a olhar as pessoas e, por consequência, os personagens, de uma maneira mais complexa. Acho que foi isso que eu busquei no Daniel, um policial com uma rica vida interior, como cada um de nós”, afirmou.

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