Celebridades

Desinteligência? Termo usado por marido de Ana Hickmann esconde violência, diz especialista

Pesquisadora analisa caso de repercussão nacional: "Ninguém poderia imaginar que uma mulher tão bem-sucedida sofresse violência"

Ana Hickmann e o marido Alexandre CorreaAna Hickmann e o marido Alexandre Correa - Foto: Divulgação

"Desinteligência entre casal". O termo utilizado pelo empresário Alexandre Correa, de 51 anos, para justificar o próprio comportamento agressivo durante um desentendimento com a modelo e apresentadora Ana Hickmann, com quem é casado há 25 anos, mascara, a rigor, outra palavra, o substantivo correto para definir o que se passou num ambiente privado, no último sábado (11): "violência". A análise é da antropóloga e pesquisadora Mirian Goldenberg, que há três décadas se dedica ao estudo de relacionamentos conjugais.

De 1990 — quando publicou o livro "A outra", desdobrado numa série de outros títulos e estudos — até hoje, esta é a primeira vez que Mirian Goldenberg escuta a tal expressão. Na última segunda-feira (13), depois de se desmentir e afirmar que, sim, teve uma briga "como nunca antes" com a mulher, Alexandre Correa usou o vocábulo incomum "desinteligência", que designa, de acordo com o dicionário Houaiss, "discrepância entre pontos de vista"; "desacordo"; "desentendimento"; "falta de amizade"; "hostilidade"; "malquerença"; "falta de inteligência". Trata-se de um eufemismo, na visão da especialista.

— Desinteligência é um termo muito vago e muito leve para esse tipo de violência. O que está em questão não é um descontrole. É muito mais do que isso —afirma. — A justificativa dele acontece muito mais por uma vergonha de ter sido denunciado pela mulher do que pelo fato tê-la agredido. Se ela não o denunciasse, continuaria tudo certo para ele.
 

Como se sabe, no último sábado (11), a apresentadora Ana Hickmann, de 42 anos, registrou um boletim de ocorrência contra o marido por lesão corporal e violência doméstica. O caso ocorreu após uma discussão na casa onde eles vivem em Itu, em São Paulo, durante a tarde. Correa admitiu o fato, mas negou "maiores consequências".

Mirian Goldenberg crê que a repercussão nacional do caso pode servir como um holofote para um assunto de importância crucial no país. Dados do Instituto Maria da Penha apontam que a, cada dois segundos, uma mulher é vítima de violência física ou verbal no Brasil. E, a cada 1,4 segundo, uma mulher é vítima de assédio. O medo e a vergonha, no entanto, acabam impedindo que as denúncias sejam realizadas.

— Ao invés de ficarmos falando sobre o caso da Ana Hickmann em si, devemos nos debruçar sobre a recorrência desse crime no país, para mudar essa realidade. São mulheres que sofrem a violência caladas, solitárias, isoladas. Por quê? — enfatiza a pesquisadora — A denúncia tem que vir no primeiro momento em que o homem xinga, explode e se descontrola. Daí em diante, não tem como desculpar. É crime.

A antropóloga chama atenção para o fato de Ana ter afirmado que só realizou a denúncia em prol do filho. É que a criança de 10 anos estava ao lado dos pais no momento da discussão e presenciou parte dos atos de violência. Está aí outra constante em casos de violência doméstica no país, segundo as pesquisas acerca do assunto.

— Esse caso se tornou mais emblemático porque ninguém poderia imaginar que uma mulher como Ana Hickmann, tão bem-sucedida, com um patrimônio avaliado em R$ 150 milhões, sofresse violência. Mas isso acontece todos os dias! Então, o que as pessoas vêm refletindo é o seguinte: se até ela sofreu, imagina o que não acontece com outras — ressalta Mirian. — E o grande motivo para ela ter denunciado o marido foi pelo fato de a agressão ter acontecido na presença do filho. Parece que o grande motivador da denúncia foi a violência que o filho sofreu, não só por ter sido testemunha da agressão do pai, mas por ter sido a causa da discussão. O mais gritante está aí. É como se ela dissesse: 'Meu filho não pode sofrer, mas eu posso'. Então, esse caso acaba sendo importantíssimo para as mulheres se posicionarem com relação a essa violência que elas sofrem todos os dias.

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