Detonautas: banda segue atenta em musicar reflexões sobre realidades do País
Álbum "Laranja", recentemente lançado, traz à tona temas atuais da história política e social do Brasil
Leia também
• Detonautas lança música em que indaga Michelle Bolsonaro
• Detonautas lança single com apelo social e defesa da democracia
• Detonautas Roque Clube lança inédita "Carta ao futuro"
Dentre os conluios da arte que se harmonizam bem com realidades, a música integra rol indispensável para compreensões históricas, políticas e culturais de um país, a exemplo do Brasil atual. Versos que servem como “armas”, cujos disparos podem (e devem) atingir a todos com o intuito de sobrevivência, já que artistas “(...) têm voz, acessam a cabeça e o coração das pessoas”, funções que vão além do entretenimento para levar a reflexões.
Faz tempo que Tico Santa Cruz exerce esse papel, em redes sociais ou onde quer que lhe seja dada voz, inclusive dentro da banda Detonautas com o recente “Laranja”, álbum lançado ao lado de André Macca (baixo), Fábio Brasil (bateria), Phil (guitarra) e Renato Rocha (guitarra, violões e teclados), integrantes de um dos grupos mais atuantes quando se trata de aliar repertórios a conteúdos necessários e de alerta a ouvidos sensatos. “(...) quando nossos netos, bisnetos forem procurar a respeito do que aconteceu no País nessa época e de como nós nos comportamos como artistas, esse disco vai refletir muito bem tudo o que vivemos até aqui”, complementa o cantor, compositor e militante de crônicas musicadas.
Para ele, o disco é um documento histórico de uma banda formada na década de 1990 e que se vale de temáticas importantes para pautar as canções. “Sempre nos propusemos a fazer abordagem social e política, como também sobre desigualdades e injustiças”, reforça Tico que, desde o ano passado, vem soltando singles em redes sociais e ganhando público.
“Quando escrevi ‘Carta ao Futuro’ (julho, 2020) não imaginava que seria um álbum, era um single que acertou em cheio a todos e tirou a banda das redes e jogou para um público mais amplo. Depois veio ‘Micheque’, com uma viralização incrível, e entendemos que havia uma demanda reprimida de músicas e ideias”, ressalta ele sobre duas das dez faixas que compõem o disco, o sétimo de estúdio que traz também versão de “Racismo é Burrice” (Gabriel, o Pensador) e “Político de Estimação” (rapper Gigante no Mic).
E como diria o próprio Tico, assunto para musicar é o que não falta no Brasil. “A faixa ‘Mala Cheia’ é sobre fundamentalismo e política, utilização da fé para manipular e ganhar dinheiro em cima das pessoas. Falamos também sobre fake news e outros assuntos dessa triste etapa, de ataque à democracia, à liberdade de imprensa, à cultura, pesquisa, ciência (...) praticamente uma era medieval tentando se levantar”, explicou ele, antenado que é por pautas da vida real.
“Leio livros, assisto a documentários, converso com intelectuais, com o povo, fico ligado nas redes e a novas bandas, temos um farto material”, conta, já adiantando sobre outro álbum para breve, já pronto, além de trabalhos com nomes como Marcos Mena (LS Jack).
“Nossa ideia é usar a visibilidade do Detonautas para trazer artistas para essa órbita, para que façamos novamente do rock um estilo relevante para roqueiros e para a população”.
Apesar de ameaças, ataques, censuras, boicotes e tentativas de silenciamento, Tico Santa Cruz e a Detonautas seguem ávidos em resistir dentro de um segmento que tem padecido nos últimos tempos.
“Estamos sendo muito e cada vez mais agredidos por pessoas que se sentem representadas e não têm vergonha de mostrar o fascismo e relações de autoritarismo de forma aberta. (...) cultura é a forma de resistência mais forte que existe dentro de um momento crítico como este. Lidamos com o imaginário das pessoas e todo governo autoritário tenta destruir o pilar da cultura e da educação, de lugares que podem colocar em xeque suas ideias”, conclui o músico sobre o disco que conta com as faixas “Kit Gay”, “Roqueiro Reaça”, “Bandeira Brasileira”, “Fica Bem” e “Clareiras”, esta ilumina a escuridão e vocifera para “levar o medo pra longe daqui e trazer de volta a liberdade”.