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Dez pontos sobre "O aprendiz", a cinebiografia que Donald Trump não quer que você assista

Presidente eleito dos EUA chegou a ameaçar processar os produtores para impedir estreia do filme, que foi bem recebido no Festival de Cannes

Sebastian Stan interpreta Donald Trump em  O AprendizSebastian Stan interpreta Donald Trump em O Aprendiz - Foto: Divulgação

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Se tem uma coisa que você já sabe sobre o "O aprendiz", a cinebiografia de Donald Trump, é provável que seja isso: o presidente eleito dos EUA não quer que você veja o filme.

O drama, que estreou com críticas positivas no Festival de Cannes, em maio, acompanha a juventude de Trump, interpretado por Sebastian Stan. Entre os principais pontos da trama estão o início de sua relação com o advogado e lobbista Roy Cohn (Jeremy Strong); com a sua primeira esposa, Ivana Trump (Maria Bakalova); e a obsessão em vencer, em tudo, a qualquer custo.

 

Apesar dos elogios a Stan e Strong, o filme, dirigido pelo cineasta iraniano Ali Abbasi e escrito por Gabriel Sherman, teve dificuldade em garantir distribuição nos EUA, e Trump ameaçou entrar com uma ação judicial para bloquear seu lançamento. Mas, em agosto, a Briarcliff Entertainment, uma distribuidora fundada por Tom Ortenberg, produtor de "Spotlight" e "W", adquiriu os direitos de exibição e anunciou planos de lançar o filme antes da eleição presidencial.

A estreia nos cinemas americanos foi em 10 de outubro, novamente atraindo críticas amplamente positivas, mas apenas US$ 3,5 milhões nas bilheterias. Abaixo, separamos os principais pontos da saga fora das telas e a história nas telas.

Que período da vida de Trump o filme retrata?
Ele narra a juventude de Trump, que na época trabalhava no mercado imobiliário em Nova York, embora o título venha da série de TV apresentada por ele anos depois.

O filme começa com Trump aos 27 anos conhecendo Cohn em um clube chique de Nova York, em 1973. Acompanha ainda seu namoro desajeitado e separação com Ivana e termina com os esforços de Trump para se distanciar de Cohn, que era gay e sofria de AIDS, quando ele morre em 1986.

Como Trump é retratado?
Ele é apresentado como uma pessoa motivada: ele se aproxima do bem-relacionado Cohn para tirar a si mesmo e seu pai de problemas legais quando eles são processados por discriminação racial em questões de moradia. Mas também o retrata como vaidoso (ele passa por lipoaspiração e cirurgia de redução do couro cabeludo para se livrar de uma calvície), insensível (parece indiferente ao sofrimento de seu mentor doente) e cruel (em uma cena difícil de assistir, ele estupra Ivana).

Quem é Roy Cohn?
Um promotor implacável e mais tarde advogado de defesa, Cohn colocou dezenas de supostos simpatizantes comunistas em julgamento nos anos 1950. Era um negociador durão que frequentemente livrava clientes (incluindo chefes da Máfia) de riscos legais por meio de conexões privilegiadas no mercado imobiliário, na política e nos negócios de Nova York. Além disso, também ajudou a expulsar funcionários públicos gays de seus empregos — enquanto ele próprio era homossexual, em segredo.

Cohn negou ser gay até o fim da vida e insistiu publicamente que tinha câncer no fígado. Ele foi indiciado quatro vezes por acusações de extorsão, fraude de valores mobiliários e obstrução da justiça, mas nunca foi condenado. Semanas antes de morrer, ele foi destituído por, entre várias ofensas, fraudar clientes.

Quão real é o roteiro?
O filme começa com uma ressalva de que alguns aspectos da história são imaginados, mas observa que a maior parte é documentada. Mas, embora livros e artigos tenham especulado ao longo dos anos sobre algum tipo de procedimento capilar, Trump sempre negou.

Quanto à acusação de estupro, em seu depoimento de divórcio em 1990, Ivana Trump, sob juramento, detalhou uma agressão de Trump. O jornalista Harry Hurt III obteve o depoimento e escreveu sobre ele em seu livro de 1993, "Lost tycoon: The many lives of Donald J. Trump". Mas ela depois voltou atrás em sua alegação e disse que não pretendia que sua descrição fosse tomada literalmente.

"Como mulher, me senti violada, pois o amor e a ternura que ele normalmente demonstrava por mim estavam ausentes", disse Ivana Trump, que morreu em 2022, em uma declaração fornecida pela equipe jurídica de Trump adicionada ao livro. “Eu me referi a isso como um ‘estupro’, mas não quero que minhas palavras sejam interpretadas em um sentido literal ou criminoso.” Trump nega a acusação.

Como Trump reagiu ao filme?
Após a estreia em Cannes, ele ameaçou um processo para impedir o lançamento. Um porta-voz de sua campanha, Steven Cheung, emitiu uma declaração chamando o filme de obra difamatória de "pura ficção que sensacionaliza mentiras que há muito foram desmascaradas". Os advogados de Trump também enviaram uma carta de cessar e desistir alertando os cineastas para não buscarem um acordo de distribuição. Até o momento, nenhuma ação judicial foi movida.

O que os críticos acham do filme?

As duas performances principais, de Stan e Strong, foram quase universalmente elogiadas. No Rotten Tomatoes, o filme tem 81% de aprovação entre os críticos. A crítica chefe do "New York Times", Manohla Dargis, elogiou o filme por sua "dramatização ficcional alegremente vulgar" e o tornou uma Escolha do Crítico.

Por que o filme teve dificuldade para encontrar distribuição?
Grandes estúdios e plataformas de streaming (incluindo Focus Features, Searchlight, Sony, Netflix, Amazon's Prime Video e A24) deixaram o filme delado, cautelosos tanto com o potencial litígio da equipe de Trump quanto com o risco de bilheteria decepcionante. Então, o Briarcliff, de Ortenberg, adquiriu os direitos em agosto.

Embora o Briarcliff seja relativamente novo na cena, Ortenberg não é estranho à controvérsia: quando era presidente da Lionsgate Entertainment, ele defendeu o documentário anti-Trump de Michael Moore, "Fahrenheit 11/9".

Qual o envolvimento de Daniel Snyder?
Snyder, que foi dono do time de futebol americano Washington Commanders por mais de duas décadas antes de vender o time em 2023 sob pressão em meio a várias investigações da NFL, é um amigo de longa data de Trump. Ele também é patrocinador da produtora Kinematics, uma das financiadoras originais do filme.

Depois que Snyder assistiu ao filme, a Kinematics tentou bloquear seu lançamento nos EUA e, eventualmente, vendeu sua participação no projeto. Snyder não comentou sobre seu papel nas decisões da Kinematics, mas o presidente da empresa, Emanuel Nuñez, disse que a ação legal não teve nada a ver com ele.

"Todas as decisões criativas e comerciais envolvendo 'O aprendiz' sempre foram e continuam sendo tomadas exclusivamente pela Kinematics", disse ele à Variety, acrescentando que ele e o fundador da empresa Mark Rapaport "administramos nossa empresa sem o envolvimento de terceiros".

O que aconteceu no caso de discriminação racial?

As coisas, para dizer o mínimo, não pareciam boas para Trump e seu pai. O Departamento de Justiça apresentou evidências de que eles haviam tomado medidas para evitar alugar para inquilinos negros em 39 de suas propriedades. Cohn aconselhou os Trumps a processarem o governo por difamação, e o caso foi resolvido sem que eles admitissem culpa.

Cohn realmente ensinou a Trump suas "três regras para vencer"?
Talvez não com essas palavras exatas. As três regras fo filme ("atacar, contra-atacar e nunca se desculpar") ecoam a caracterização de um artigo do Washington Post de 2016 sobre a influência de Cohn. Ele nunca alegou pregar as três regras — mas, sem dúvida, foi um modelo para Trump sobre como exercer poder.
 

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