Dia Nacional do Frevo: 'Ô, ô saudade, saudade tão grande'
Data, celebrada nesta terça-feira (14), desperta a vontade de cair no passo do ritmo pernambucano
Ah, o Frevo... e a saudade de madrugar lá pelas bandas do bairro de São José para depois chegar em Olinda - na Praça do Jacaré ou em quaisquer espaços que caibam gente. Era bom demais! Tal qual o frevo de J. Michiles saudado por Alceu e suas tantas mesuras na ponta do pé.
Há pelo menos dois Carnavais o ritmo não paira em ruas e ladeiras – esvaziados por uma pandemia, que há de passar para ceder espaço a multidões em êxtase em meio à folia sorrateira e inconteste que “só aqui que tem, só aqui que há”.
Para quem espera o ano inteiro “até chegar fevereiro para ouvir o clarim clarinar”, de chapéu, de sol aberto, como diria Capiba, tem sido mesmo de amargar.
Mas, transgressor e atemporal que é, o ritmo Patrimônio Imaterial da Humanidade (Unesco, 2012) simboliza resistência, tem em seus tons a liberdade e a expressão artística e cultural de um povo e, portanto, deve ser celebrado em qualquer dia, a qualquer hora, como hoje, Dia Nacional do Frevo que, de bloco ou de rua permanece efervescente e incólume a adversidades.
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Dos áureos cancioneiros tradicionais que levam a tesouras, ferrolhos e pontilhados, a reinvenções assinadas por novas gerações, cair no passo do ritmo – que pela bandas de cá tem a efeméride de ser celebrado em 9 de fevereiro, data que faz menção à estreia do termo “frevo” citado pela imprensa (Jornal Pequeno do Recife, 1907) – faz parte da memória coletiva de quem sobe e desce as ladeiras de Olinda ou de quem percorre ruas do Bairro do Recife sob o lirismo dos flabelos ou ebulição das orquestras.
De Luiz Bandeira a Capiba, de Edgar Moraes a Nelson Ferreira, de Clóvis Pereira a Getúlio Cavalcanti, são muitas as letras e melodias que “fervem” mundo afora, já que é do Frevo escapulir sem destino e impregnar-se em quem tem no seu compasso um habitat de alegria irremediável e que há de ressoar em “evoés” em um próximo Carnaval com “ (...) todo o povo nas ruas, nas pontes, nas praças, se amando, se encontrando com alegria” (Viva o Recife, Banda de Pau e Corda).
Show virtual, documentário e premiação
Dia de festa é dia de Frevo e vice-versa, e em seu nascedouro, Pernambuco, hoje é tempo de celebrar com a entrega da premiação aos vencedores do Concurso Nordestino do Frevo, no Complexo Cultural Gilberto Freyre, em Casa Forte, Zona Norte do Recife.
Promovido pela Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj), por meio da Diretoria de Memória, Educação, Cultura e Arte (Dimeca), canções inéditas premiadas pelo festival vão ser executadas pela Orquestra do Maestro Duda e pelo Coral Edgard Moraes. O evento é transmitido pelo Youtube da Fundaj, às 17h.
Já o Paço do Frevo traz programação especial com apresentação virtual da Orquestra Arruando e a presença do maestro e Mestre-Vivo Edson Rodrigues, a partir das 19h, em live direto do museu. No repertório vai ter Capiba, Zé Menezes e Banda de Pau e Corda, dentre outros.
O show marca também o lançamento do projeto “O Frevo Vive, o Frevo Continua”, da Arruando, com o documentário “O Frevo: conversas livres com os mestres” – dirigido por Nilo Otaviano e Lucas Fitipaldi. O longa esboça a visão de músicos, Mestres-Vivos do Frevo e pesquisadores, sobre o que foi, o que é e o que pode vir a ser o Frevo.
Gravados (sem público) no Teatro do Parque e na Arena Pernambuco – os shows trazem temas como “O Frevo dos Anos 60-70-80” e “A Universal Música Pernambucana”.
O projeto – realizado pela Secult-PE, com recursos da Aldir Blanc – lança também a Camerata Arruando com o show “O Novo Sotaque da Música Pernambucana”. Violinos, viola, violoncelo, flauta, sanfona, entre os instrumentos, difunde a música pernambucana com clássicos como "Asa Branca" e "O Trenzinho Caipira" sob arranjos do frevo, maracatu, ciranda e baião.
Frevo na Rádio Folha
A Rádio Folha 96,7FM, inspiradora da Lei do Frevo nas rádios da Capital Pernambucana, por tocar o ritmo durante todo o ano, tem programação especial hoje, como não poderia ser diferente.
Além da grade musical dedicada ao estilo, vai entrevistar o cantor e compositor Rogério Rangel, às 15h. Premiado pela nova música do Bloco A Turma da Jaqueira Segurando o Talo, e do diretor de Planejamento da Fundaj, Allan Araújo, às 14h39.