"Divertida Mente 2": entenda como a Pixar criou a aparência da personagem Ansiedade
A diretora Kelsey Mann, a designer Deanna Marsigliese e os supervisores de animação Evan Bonifacio e Dovi Anderson falam sobre o desenvolvimento da personagem
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Com mais de um R$ 1 bilhão em ingresos vendidos em todo o mundo, "Divertida mente 2" traz uma nova safra de emoções para Riley, a protagonista de 13 anos do filme, que começa a história no limiar da puberdade.
Ansiedade, Constrangimento, Inveja e Tédio juntam-se às emoções centrais do filme original: Alegria, Raiva, Medo, Nojo e Tristeza.
A mais representativa entre as novas emoções é Ansiedade, cuja influência bem-intencionada, mas caótica, empurra Riley e as outras emoções para o risco de uma catástrofe mental e social.
Dublada por Maya Hawke (no Brasil por Tatá Werneck) e repleta de detalhes desconcertantes de personagens — cabelos rebeldes, olhos esbugalhados, um sorriso de piano de cauda — Ansiedade surge como a estrela da sequência de sucesso e seu centro de gravidade instável.
Em uma série de entrevistas, a equipe da Pixar que deu vida ao personagem — a diretora Kelsey Mann, a designer de personagens Deanna Marsigliese e os supervisores de animação Evan Bonifacio e Dovi Anderson — detalharam a anatomia de Ansiedade e discutiram a inspiração na pesquisa psicológica, no reino das aves e no corredor de produtos.
Qual foi a ideia inicial para o personagem? Quem era Ansiedade?
Kelsey Mann: Inicialmente, ela era uma metamorfa. Ela seria essa pessoa que estava mentindo sobre quem era. Eu queria alguém que fosse quase feito de barro. Uma espécie de personagem monstruoso, quase como um lagarto. Mas acabamos deixando essa reviravolta porque tornaria o filme muito complicado.
Deanna Marsigliese: Quando você chegou, outras ideias já tinham sido tentadas, mas não estavam funcionando na história. Elas eram um pouco mais sinistras, mais antagônicas. Pensei que talvez pudéssemos tentar suavizar o personagem, ver se poderíamos fazer algo um pouco mais acessível. Fiz cerca de uma dúzia e meia, talvez duas dúzias de miniaturas — esboços bem pequenos. Depois de alguns dias, escolhi dez e coloquei na frente de Kelsey. Ele escolheu a primeira que eu já tinha feito.
Kelsey Mann: Você não quer que o público torça pelo antagonista, mas quer que ele aproveite quando estão na tela. Sempre que a versão anterior do personagem aparecia, eu simplesmente não gostava de assistir.
Onde vocês procuraram inspiração?
Kelsey Mann: Deanna teve uma ótima ideia de associá-la um pouco ao Medo, porque elas são meio primas distantes.
Deanna Marsigliese: Toda vez que eu procurava uma definição para ansiedade, ela sempre começava com "um medo de". "Ansiedade é um medo do que pode acontecer". Então comecei a pensar: "OK, medo e ansiedade são diferentes, mas claramente estão relacionados", então eu a projetei com isso em mente.
Kelsey Mann: Quanto mais pesquisamos, mais percebemos que a Ansiedade está realmente lá para nos ajudar e proteger, o que nos encorajou a nos inclinar para um design mais divertido. Jason Deamer, o designer de produção, destacou que as emoções masculinas pareciam ser mais estilizadas. Raiva é um quadrado e Medo é esse tipo de nervo exposto. Lembro-me dele dizendo que seria realmente ótimo se pudéssemos fazer isso para uma personagem feminina.
Deanna Marsigliese: Ansiedade e Medo compartilham aqueles olhos realmente expressivos e hipervigilantes. Mas onde o Medo tem um design realmente vertical, decidi que, em contraste, a Ansiedade seria mais horizontal. Foi aí que conseguimos aquela boca realmente larga.
Kelsey Mann: Lembro-me de um dos animadores fazendo algumas referências de pássaros para os pequenos movimentos rápidos de seus olhos.
Evan Bonifacio: Os animadores experimentaram muito como ela se movimentaria no ambiente que acabaram influenciando a história. A ideia de que ela está mexendo no painel e assumindo o controle da sede, mas não consegue se conter.
Que características físicas vocês usaram para expressar a personalidade dela?
Deanna Marsigliese: Escolhi vários recursos que apoiariam tiques e hábitos nervosos, sendo as roupas dela um deles.
Kelsey Mann: Lembro que alguém teve a ótima ideia de que ela teria um suéter que realmente coçava. Se você olhar para Tristeza, o suéter é aconchegante, parece cashmere. Mas o de Ansiedade parece ter essa lã que coça, o que meio que aumentou sua ansiedade.
Deanna Marsigliese: Ela tem a gola alta, que imagino que ela estaria puxando muito. É um pouco sufocante. Tem mangas esticadas, as calças levantadas, o que não é o mais confortável. E suas botas são um pouco apertadas demais. Tudo é feito para irritá-la só um pouquinho.
Kelsey Mann: O cabelo dela também é uma grande parte da personagem. É selvagem, mesmo quando ela tenta domar aquele caos. O departamento de simulação, que faz cabelos e roupas, contribuiu muito.
Deanna Marsigliese: Usei o topo de uma cenoura como referência. A maneira como os pedaços de folhas saem do topo da cenoura é realmente rígida e forte, mas depois fica frágil e leve em direção às pontas. Eu queria que fosse um canal para todos os seus tremores e espasmos.
Qual foi a parte mais difícil de animar o personagem?
Evan Bonifacio: A boca, ao criar a base que está por baixo da pele do personagem e que permite aos animadores representarem os braços, a cabeça e o rosto.
Deanna Marsigliese: Os dentes eram importantes. Eles foram feitos para se mover pela boca. É perturbador. Muitas das minhas escolhas foram sobre assimetria: estar descentralizado, desequilibrado. Ela foi criada de uma forma que faz você pensar: “Você está bem? Você vai desmoronar?" Eu realmente queria que ela fizesse as outras emoções e o público ficar um pouco nervoso por tabela.
Dovi Anderson: Estávamos curiosos para saber como seria quando o personagem estivesse falando. Os dentes vão se mover muito? Como podemos fazer com que não seja muito difícil acompanhar o diálogo?
Evan Bonifacio: Se você olhar os desenhos, não tem gengiva nem maxilar. Tivemos que descobrir uma maneira de dar a ela uma ampla gama de expressões, mas ainda assim manter os dentes ancorados em alguma coisa.
Dovi Anderson: Um equipamento de boca padrão tem cerca de 300 controles. Para Ansiedade, provavelmente tínhamos uns mil.
Evan Bonifacio: Havia dois conjuntos completos de controles para a boca, e cada dente poderia ser controlado individualmente, se necessário.