Djavan lança 'D', seu novo álbum, para iluminar tempos sombrios
Lançado nesta quinta-feira (11) nas plataformas de música, este é o 25º álbum do artista ao longo de 46 anos de uma profícua carreira
Um disco leve e cheio de esperança para “superar o momento sombrio em que vive o país”. Foi assim que o cantor e compositor alagoano Djavan definiu "D", seu primeiro álbum de músicas inéditas desde "Vesúvio" (2018). Lançado nesta quinta-feira (11) nas plataformas de música, este é o 25º álbum do artista ao longo de 46 anos de uma profícua carreira.
Não por acaso, ao falar sobre o novo disco, ele menciona o contexto político brasileiro. Nos primeiros meses do governo Bolsonaro, Djavan enfrentou uma onda de cancelamento nas redes sociais por declarar que “tinha esperança no Brasil” e que “era cedo para avaliar o governo”. Recentemente, veio a público explicar que na época não achava correto “dar cacetada num governo que nem tinha assumido”. Anteontem, à Folha de S. Paulo, negou o voto pela reeleição do atual presidente e declarou apoio a Lula.
Em meio ao lançamento de “D” nas plataformas, o artista se prepara para levar seus grandes sucessos, no mês de setembro, no palco Mundo no Rock in Rio, no dia 10, e no Coala Festival, em São Paulo, no dia 16.
Amar como ato político
No novo álbum e nos posicionamentos públicos, Djavan tem procurado “desconfundir” seu público a respeito de suas ideias e trazer a mensagem que sempre esteve presente na sua música. “É um disco solar, para quebrar o obscurantismo”, aponta o artista. Dentro do universo do compositor, o amor é capaz de ser uma arma revolucionária, sem precisar ser panfletário, apenas amor. “Belas noites de verão / De mãos dadas por aí / Retomar o que era bom / Mas se não quiser sair / Deixar que o vento leve / E o amor / Se encarregue de tudo”, escreveu na canção “Num mundo de paz”.
Produção em família
Diante da pandemia do coronavírus, e motivado pela vontade de continuar criando, o artista começou a produzir “D” em uma temporada com sua família em São Miguel dos Milagres, no litoral de Alagoas, de junho a abril do ano passado, onde compôs a maior parte das músicas. A ideia era produzir de duas a três faixas, mas aconteceu melhor do que a encomenda: oito novas canções foram feitas nesse período.
A faixa “Iluminado”, por exemplo, foi composta na praia, diante do mar. Ao lado dos filhos e netos, todos reunidos, a melodia nasceu em Djavan a partir de uma batida de ukulele que sua filha Sofia fazia. Em pouco tempo, a canção estava pronta: “Tudo é possível/Como um dia de sol/É jogar o anzol/Esperar/Pra ver o que vem”. A canção proporcionou o velho sonho do artista de gravar com todos os filhos e netos músicos, dos mais velhos e já profissionais Flavia Virginia, João e Max Viana, aos filhos mais novos Sofia e Inácio e os netos Thomas Boljover e Lui Viana.
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Produzido e arranjado por Djavan (incluindo os desenhos de sopros), “D” revela uma nova safra de canções, todas com a marca do autor. Há hits instantâneos como “Num mundo de paz” e também canções das mais sofisticadas. “D” parece conter todas as vertentes da criação de Djavan, indo da estética de seus discos nos anos 1980 e 1990, até o lado mais pop, sem deixar de fora a verve jazzística, nem seu violão característico no samba, a exemplo de "Êh, Êh", parceria com Zeca Pagodinho, lançado por Alcione em 2014 e que só agora tem sua própria versão revelada ao público.
Debute com Milton Nascimento
Uma das participações mais aguardadas do álbum é a de Milton Nascimento, a primeira parceria dos dois artistas. O motivo de ser ainda uma parceria inédita em tantos anos de carreira? Timidez. O traço da personalidade de ambos, conta Djavan, adiou esse encontro. “Nós já tínhamos tocado juntos informalmente, mas é a primeira vez que gravamos juntos em estúdio. Foi muito especial”, lembra.
Em "Beleza destruída", segundo single e clipe do álbum, lançados em 21 de julho, o duo com “Bituca” traz uma mensagem urgente, política, ecológica, uma denúncia sobre a destruição da natureza, sem meias palavras: “Mas o homem, cego por dinheiro, só sabe dizer: dizimar, dizimar. Ver tanta beleza destruída, encolhendo a própria vida assim. É o fim!”. O encontro dessas duas vozes tão marcantes da MPB, em si, já é um acontecimento.