Documentário acompanha candidatas negras após a morte de Marielle Franco em 2018
A tentativa de impedir a imersão da negritude carioca no poder acabou se transformando em sementes plantadas nas eleições daquele ano.
Quando a vereadora Marielle Franco foi assassinada na noite de 14 de março de 2018, na área central do Rio de Janeiro, havia quase um consenso, em primeiro plano, que aquilo seria o silenciamento de vozes das mulheres negras que estavam ocupando a política institucional. Entretanto, a tentativa de impedir a imersão da negritude carioca no poder acabou se transformando em sementes plantadas nas eleições daquele ano. É com este plano de fundo que o documentário “Sementes: Mulheres Pretas no Poder” estreou nesta segunda-feira (7) na plataforma Embaúba (embaubafilmes.com.br), para contar a trajetória de seis mulheres negras na política fluminense - que surgiram após a morte de Marielle.
Mônica Francisco, Renata Souza, Talíria Petrone, Rose Cipriano, Tainá de Paula e Jaqueline Gomes são as protagonistas desta história. As diretoras Éthel Oliveira e Júlia Mariano as acompanharam durante o primeiro turno do pleito 2018, mostrando como são os processos de construção política dessas mulheres, como fizeram uma campanha sem grandes recursos financeiros e a conexão com os eleitores desacreditados da política institucional no Rio de Janeiro.
De certa forma, essas mulheres romperam algumas estruturas políticas. O Brasil é o país com menos representatividade parlamentar na América do Sul, onde elas ocupam apenas 10% das cadeiras. Mas, em 2018, havia um movimento diferente: a roteirista Helena Dias estava percebendo uma maior articulação de chamadas de mulheres afrodescendentes para ocupar cargos políticos e convocou a diretora Júlia Mariano para participar do projeto.
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O contato de Júlia com Éthel, que também assina a direção, se deu em um evento no espaço Casa das Pretas, no Rio, em uma mobilização após o assassinato de Marielle Franco. “Eu, como mulher branca, não podia tocar isso sozinha. Precisava de um quantitativo de mulheres em papeis estratégicos do documentário, seja na direção de fotografia, na captação de som, entre outros. Foi quando conheci Éthel na Casa das Pretas, eu precisava dela com a gente para contar essa história incrível”, explica a diretora Júlia Mariano, que atuou também como produtora executiva.
A conexão entre as duas foi imediata. Éthel, que sente a necessidade de contar outras narrativas sobre a negritude, encarou o filme como um ebó político e audiovisual - uma referência à limpeza espiritual das religiões afro-brasileiras. “Eu topei na hora. Eu tenho o compromisso de colaborar com uma memória preta que esteja firmada na ousadia estética, política e de linguagem. E acho que esse documentário tem isso principalmente. É um compromisso com a nossa memória política.”, conta Éthel, que morou em Olinda, no Grande Recife, durante 10 anos.
Orçamento e divulgação
Fazer o filme não foi fácil. Acompanhar as candidaturas das mulheres desafiou a formação de uma equipe firmada em 99% das mulheres, tendo cinco ou seis homens, apenas, na equipe. Durante a apuração, o “Sementes” chegou a ter seis equipes simultâneas no Rio. E, na posse, uma em Brasília, e outra no Rio. Para começar a produção, Júlia levou seus próprios equipamentos e outros emprestados, e só depois conseguiu financiamento para o pagamento e divulgação do longa-metragem.
Para a divulgação, as diretoras querem que o filme se torne um registro documental do processo histórico brasileiro. Após a estreia, ontem, o filme ficará um mês disponível no Youtube da Embaúba e as realizadoras pretendem disseminar discussões com grupos organizados através das plataformas, enquanto durar a pandemia. Para entrar em contato para exibição e debate do documentário, os interessados devem enviar um e-mail para o endereço [email protected].
Nesta terça-feira (8), às 20h, as diretoras promovem uma live no canal da Embauba Filmes com a participação de Anielle Franco, diretora do Instituto Marielle Franco, e três das personagens retratadas no filme, que foram candidatas em 2018: Rose Cipriano, Tainá de Paula, Talíria Petrone. A mediação é com a jornalista Didi Couto.
Assista ao documentário