Taylor Swift

"Ela só queria isso: se eu não conseguir ir nesse show, eu morro", disse mãe da jovem que morreu

Corpo de Ana Clara Benevides, de 23 anos, foi liberado e deve chegar por volta das 17h em Mato Grosso do Sul

Ana Benevides era estudante de PsicologiaAna Benevides era estudante de Psicologia - Foto: Reprodução

Dias antes de viajar, a estudante de psicologia Ana Clara Benevides, de 23 anos, que morreu durante o show da cantora Taylor Swift, na última sexta-feira, criou um grupo com os pais no WhatsApp chamado “Ana vai pro Rio” para compartilhar o passo a passo de sua vinda. Em entrevista ao Fantástico, na TV Globo, neste domingo, Adriana Benevides e José Weiny Machado, mostraram parte das últimas conversas com a filha.

– Minha filha é o meu anjo. Deus levou ela, mas levou no momento mais feliz da vida. Ela só queria isso: “se eu não conseguir ir nesse show, eu morro” – disse Adriana, que está no Mato Grosso do Sul. Em um dos vídeos compartilhados no grupo, a jovem dizia: “Oi mãe, Oi pai. Tô embarcando pro RJ. Acho que vou chegar umas 11 horas”.

Na sexta-feira, às 9h43 da manhã, Ana Clara avisou aos pais que estava indo ao show. O pai respondeu “opa, divirta-se”. Essa foi a última interação deles com a filha. Por volta das 19h, Weiny Machado recebeu um telefonema da amiga que foi ao show com ela.

– Eu estava do lado da minha esposa. Até falei: ó, deu ruim. Quando ela ligou, já meio assim, já foi o médico falando que tinha feito de tudo, tal, mas infelizmente ela tinha falecido. Daí eu já não ouvi mais nada. Larguei o celular para lá, minha esposa veio ficar comigo. Eu saí andando pela rua. Fiquei atônito, não sabia o que fazia, tentando não acreditar, como até agora eu tento não acreditar. Ainda não está caindo a ficha. É difícil, porque você está vindo buscar sua filha, só que morta – disse Weiny.

O médico que atendeu Ana Clara também falou com Adriana por telefone.

– O médico mandou mensagem para mim, falando que não era trote. Mandou foto da amiga dela, que era para atender, que ele tinha que falar comigo. Eu liguei e ele falou que o atendimento foi rápido. Eles tentaram reanimar ela por mais de 20 minutos e ela não conseguiu. Minha filha não conseguiu – disse a mãe, em prantos. – Minha filha era tão linda. Tão linda.

Ana Clara trabalhava em uma creche na cidade de Rondonópolis, em Mato Grosso. Ver pessoalmente a cantora era um sonho desde a adolescência e ela combinou com a amiga de faculdade, Daniele Menin, de irem juntas ao show.

– A gente comprou o pacote VIP. Eu pedi o cartão da minha amiga emprestado, deu R$ 1.800 cada uma, mais ou menos. E aí a gente fez em vezes para conseguir pagar – disse Daniele.

Comunicação com os pais
Assim que chegou à capital fluminense, Ana Clara avisou aos pais: “Tô no Rio família!!! Que cidade linda”, e a mãe respondeu: “Aproveita filha, você merece. Tenho orgulho da mulher que você se tornou. Te amo.”. E Ana Clara retribuiu: “Te amo”. Os dois tinham receios em relação à viagem.

– Por ser uma cidade que até então era desconhecida para ela, uma cidade perigosa. Eu sempre pedia para ela não aceitar nada de ninguém, principalmente bebida – disse o pai.

Para Adriana, a distância de casa e o fato de não ter conhecidos no Rio eram motivo de preocupação. Mas, segundo a mãe, aquele era o “show da vida” de Ana Clara.

– Ela dizia “eu quero ser a primeira da fila. Eu quero ficar pertinho dela, mãe”. Eu falei filha, é tão longe daqui. A gente não conhece ninguém lá. E ela falou “mãe, é o show da minha vida” e eu disse tá bom, minha filha, vai no show da sua vida. Vai ver a sua loira. E ela foi. Ela planejou tudo. Eu falei não esquece seus documentos. Não esquece de beber água lá. Comer – lembra Adriana.

As duas jovens chegaram no estádio Nilton Santos por volta das 11h da última sexta-feira, um dos dias mais quentes do ano, com temperatura acima de 40 graus e sensação térmica quase de 60. Segundo Daniele, os portões abriram por volta das 15h. Antes, ainda na fila, Ana Clara tinha publicado um vídeo nas redes sociais: “Uma hora da tarde. A gente está aqui desde 11h e estamos aqui no perrengue né, fazer o que? É isso gente. Não vai ter glamour hoje não. Acabou”.

– A gente era pacote VIP, podia entrar um pouco antes. A gente ficou quatro horas na fila. Depois dentro do estádio, até umas 18h30. Estava todo mundo suando. Antes de começar o show, algumas pessoas já saíram mal, carregadas, cambaleando. Ao nosso redor, já tinha contado umas dez meninas mal, saindo, pulando a grade. A gente levou quatro garrafinhas de água – conta a amiga de Ana.

No lugar onde estavam, bem na frente do palco, houve distribuição de água.

- Era água em temperatura ambiente, mas eles estavam distribuindo. Uma hora eu falei, amiga, estou meio tonta, vamos comer a barrinha de proteína. Aí a gente comeu, se molhou um pouquinho e ficou bem – disse.

Ana Clara começou a passar mal na segunda música da apresentação. Na primeira música, “Miss Americana”, as duas amigas choraram e se abraçaram, conforme lembra Daniele.

– Ela começou a cantar Cruel Summer, que é a segunda música. A gente estava pulando feliz e, do nada, a Ana caiu. Eu botei ela em cima da minha perna e eles puxaram ela para o outro lado da grade e a gente correu para o postinho. Lá eu vi a médica falando que era código azul, que ela não estava tendo pulso mais – conta.

 

No Hospital Municipal Salgado Filho, no Méier, para onde foi socorrida, o médico alertou que a situação era grave e que precisava do contato da família.

– Aí eu entrei em desespero. Quando o médico falou com o pai da Ana, eu acho que minha ficha caiu de que ela não ia mais voltar – relata Daniele.

Desde sexta-feira, os pais lidam com a angústia da espera pelo traslado do corpo da filha do Rio para o Mato Grosso do Sul.

– O pessoal do show não está dando suporte para gente trazer ela embora para casa. Sei que essas coisas não passam nem pelos cantores. Os artistas nem ficam sabendo disso. Mas a gente queria que eles dessem suporte para trazer ela para casa, porque infelizmente a gente está arcando com tudo e a minha filha ainda não chegou – lamenta a mãe.

A família diz que recebeu da Time For Fun oferta de assistência psicológica.

Investigações
Com um laudo de necropsia inconclusivo e a solicitação da perícia por exames de toxicologia e histopatologia, a Polícia Civil só poderá determinar em até 30 dias se Ana Clara Benevides morreu por calor excessivo dentro do Estádio Nilton Santos na última sexta-feira, quando assistia ao show da cantora norte-americana Taylor Swift.

– Quero saber a causa da morte dela, porque até então ficou vaga a resposta. Na certidão de óbito diz “aguardando resultados laboratoriais”. Eu acho que, eu mesmo nunca tinha visto – disse Weiny ao Fantástico.

De acordo com a delegada Juliana Almeida, titular da 24ª DP, Ana Clara teve três paradas cardiorrespiratórias e uma hemorragia no pulmão, mas que ainda é prematuro afirmar a causa da morte da jovem.

— O laudo de necropsia não foi conclusivo e o perito solicitou exames complementares de toxicologia e histopatologia. Apesar do laudo indicar que a hemorragia no pulmão pode ser um caso de insolação, ainda não é conclusivo. É prematuro afirmar que ela morreu por causa do calor. Outras causas não estão descartadas. O que sabemos é que ela teve três paradas cardiorrespiratórias e veio a óbito. Só em até 30 dias saberemos se ela morreu devido ao calor — explica a delegada.

A delegada afirmou ter ouvido o depoimento de José Weiny Machado, pai de Ana Clara Benevides, e da amiga que estava com a jovem quando ela começou a passar mal durante o show da cantora Taylor Swift. O corpo de Ana Clara foi liberado na tarde deste domingo.

— Segundo o pai dela, ela era um jovem que não tinha doenças preexistente e ele também não tinha o conhecimento de que ela tomava medicamentos. Temos que aguardar os resultados desses exames para definir a causa de morte. Somente então que a 24 ª DP vai dizer se existe responsabilização penal ou não e se alguém da produção do show vai responder culposamente. Existe uma responsabilidade civil, mas penal ainda não sabemos porque não sabemos do que a Ana Clara morre — completa Juliana.

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