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MÚSICA

Em entrevista à Folha de Pernambuco, Rogério Skylab comenta sobre MPB e novo livro

O artista carioca, conhecido pelas músicas de profundo humor ácido e escatologias, analisa a Música Popular Brasileira e critica postura altamente politizada no gênero

Rogério Skylab esteve no Recife em setembro de 2023Rogério Skylab esteve no Recife em setembro de 2023 - Foto: Clarice Melo/Folha de Pernambuco

Em sua segunda passagem pelo Recife, em setembro último, o cantor, compositor, poeta e escritor carioca Rogério Skylab fez show e lançou o livro de poesias “Futebol de cego”.

Na ocasião, a reportagem da Folha de Pernambuco conversou com o artista, que já adiantara qual seria o seu próximo lançamento: o livro “A Melodia trágica”.

A publicação traz 13 textos dedicados a se debruçar criticamente sobre a canção popular brasileira e sobre as mudanças na indústria da música a partir deste século XXI. Em “A Melodia Trágica”, publicado pela Editora Hedra e Acorde Editorial, Skylab exibe seu lado crítico musical.
 
Na entrevista à Folha, entre muitos assuntos, ele contou como observa a MPB e como ele se situa dentro dessa sigla, da qual diz ser um dissonante. Confira os melhores momentos do bate-papo.



Capa de "A Melodia Trágica" | Foto: Reprodução

Skylab é MPB
“Eu não sou muito roqueiro, sabe? Depois é que eu vim a ouvir mais rock, mas, desde o primeiro momento, o meu campo de interesse era a música popular brasileira. Se me perguntar sobre heavy metal, eu não vou saber te responder nada. Se me falar sobre MPB, eu te respondo tudo o que você quiser, porque eu entendo de MPB. Eu me situo dentro da MPB, apesar de toda a influência do rock, de pessoas como Frank Zappa, John Zor, mas eu acho que o fundamento é a MPB. Esse é o tema predileto do meu trabalho. Nesse livro, eu falo sobre essa questão.”

Primeiros impactos
"Eu comecei a pegar o (Festival) Abertura. Era década de 1970, por aí. Pela primeira vez, eu conheci um artista pernambucano que estava aparecendo na cena musical: Alceu Valença. Ele cabeludo, cantando “Vou-me embora pra Catende”, Zé Ramalho tocando uma viola. E tinha o Lula Côrtes. Aquilo me impactou. Eu pensei: 'Isso é forte! Isso é uma coisa radical!'

Nesse festival, eu me lembro do Djavan, cantando a primeira música dele. Do Jards Macalé, cantando “Princípio do Prazer”, nessa música, ele pegava a maçã, mastigava e cuspia na câmera. Isso era uma coisa radical, né? O Walter Franco também, cantando “Cabeça”. Foi tudo isso nesse Festival Abertura.

"Gênero" MPB
“Existe a MPB como gênero, e talvez as fundações dela estejam nesses anos de 1967, 1968, dos grandes festivais. Ali estão as bases da moderna música popular brasileira, que a gente chama de MPB. Ali, você vai ter uma confluência de gêneros: que o tropicalismo, o jazz, o samba jazz está ali. Fundamentalmente, eu acho que a base da MPB é a bossa nova. Isso é o que a gente vai identificar como MPB como gênero, que é diferente do samba, que é diferente do reggae."

Poesia x Letra de canção
Há uma diferença entre a experiência da literatura, da poesia, e a experiência da canção. São coisas completamente diferentes. Na experiência da literatura, da poesia, você está lidando diretamente com a palavra. E na experiência da canção, não. Ela vem a reboque do som. Quem instaura a canção não é a palavra. Quem instaura a canção é o som. O som é a mola propulsora da canção.

Dissidente da MPB
"Eu achava, àquela altura dos acontecimentos (anos 1980, quando começou na música), que a MPB tinha caducado. Era algo muito higiênico, muito politizado. Se estamos falando que a origem da MPB está nos festivais, é claro que a origem da MPB é política. Não tem como fugir disso. Até hoje, se você ouvir a MPB contemporânea, todos eles são alinhados à política.

Mas, eu queria fazer outra coisa, eu não queria continuar com esse discurso político. Se você está muito atrelado à política, necessariamente você vai cair num discurso ideológico, seja de esquerda ou de direita. E o que é que a ideologia propicia? Uma camisa de força. Palavras de ordem.

Naquele primeiro momento, eu não queria seguir essa linha do politicamente correto, que é perigosa. Eu entendo tudo isso em termos de um país como o Brasil, é claro que isso é fundamental, mas, eu queria fazer um trabalho que fosse sujo, escatológico."
 

Rogério SkylabRogério Skylab | Foto: Clarice Melo/Folha de Pernambuco

Puritanismo à brasileira
"A alta cultura brasileira – Guimarães Rosa, João Cabral de Mello Neto – é puritana por influência da igreja, que teve um papel na colonização brasileira muito forte. Tirando algumas pessoas da cultura brasileira, por exemplo Fausto Fawcett, Zé Agripino, eu me sinto muito solitário, seja em relação ao Caetano, ao Chico, porque o meu projeto estético é completamente diferente do deles. Eu ainda sofro resistências. Até hoje, é muito raro você me ver tocando num grande festival. Fiz parte de muitos festivais independentes, mas, um Rock in Rio? Um Lollapalooza? Vai ser muito difícil me ver nesses festivais."

Sobre ter afirmado, em 2015, ser “um cadáver” na música brasileira
"Foi um sentido figurado que eu procurei dar para mostrar aminha dissonância em relação à MPB. Agora, quando eu falo tudo isso, eu quero dizer que eu sou ligado à MPB. Eu não poderia nunca estar exercendo essa discussão sobre a MPB se eu não tivesse inserido dentro dela."

O que Skylab ouve?
"Ouço o silêncio. Porque eu já ouvi muito. Nós, músicos, quando a gente sai do estúdio, a gente não quer ouvir mais nada. Porque a música ali não é entretenimento, é trabalho. A gente passa um dia todo ouvindo, repetindo, mixagem. Quando eu saio do estúdio, eu quero limpar meus ouvidos. Eu quero o silêncio mesmo". 
 

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