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"Choro e Frevo - Duas viagens épicas"

Em novo livro, José Teles registra caravanas históricas de artistas pernambucanos no RJ

Publicação narra as aventuras de dois grupos de artistas pernambucanos, do frevo e do choro, que desbravaram o Rio de Janeiro, então capital da República nos anos de 1950

José Teles, jornalista, crítico e escritorJosé Teles, jornalista, crítico e escritor - Foto: Divulgação

As aventuras de músicos pernambucanos desbravando o Rio de Janeiro, então capital da República nos anos de 1950, são contadas em riqueza de detalhes no livro "Choro e Frevo – Duas viagens épicas", do jornalista e crítico musical José Teles, lançado esta semana no Recife.

“São histórias muito importantes para a cultura brasileira que até então continuavam inéditas e restritas a Pernambuco. Juntar as duas histórias aconteceu por acaso. Há muito tempo eu pretendia contar a viagem do clube Vassourinhas ao Rio em 1951. Fiz uma matéria longa, no Jornal do Commercio. Mas nunca toquei em frente o projeto. A história do choro eu também tinha interesse em escrever, mas achava que seria mais difícil. A do Vassourinhas teve uma cobertura muito grande na imprensa daqui e do Brasil. A do choro quase nada”, explica o jornalista.

“Uma noite, conversando com Amaro Filho, na Mamede, ele me falou sobre o interesse em fazer um doc sobre os chorões que foram à casa de Jacob do Bandolim, em 1959, num jipe, acho que a viagem durou uns seis dias. Sugeri um livro reunindo ambas as viagens. Ele topou, a Página 21 entrou com o projeto num edital do Funcultura, e foi aprovado. Comecei a escrever acho que no início de 2019”, conta o autor.

Garimpo em registros históricos 
O livro inclui documentos raros como a publicação inédita do Diário de Melita, feito por Conceição Rolim (Dona Melita), professora que integrou a odisseia dos chorões. A publicação traz uma pesquisa minuciosa em jornais e revistas de época, acervos particulares, acervo do Instituto Jacob do Bandolim e muitas curiosidades. Um projeto editorial impecável e bem ilustrado.

Por falta de personagens vivos, a viagem do Vassourinhas precisou de mais pesquisa em registros históricos. “Acho que juntando o quebra-cabeças de matérias, notas e entrevistas deu pra contar bem a história da dessa viagem, que considero a maior epopeia do carnaval brasileiro", comenta José Teles.

Frevo em alto mar
A odisseia de integrantes do Clube Carnavalesco Mixto Vassourinhas do Recife, no Navio Santarém, em 1951, é repleta de aventuras.

“300 pessoas num navio rumo ao Rio, deixando o Carnaval do Recife pela primeira vez, desde 1889, sem o Vassourinhas. Uma viagem cheia de rolos, perrengues, dinheiro sumido, cachês que não chegaram aos dirigentes do clube… uma história que daria um filme. Nem todos que foram voltaram. E para voltar foi preciso a prefeitura do Rio ajudar, o jogador Ademir Menezes, pernambucano, o craque da seleção de 50, também procurar ajuda. Uma história complicada”, conta José Teles.

“Fiz uma pesquisa muito demorada nos jornais sobre Vassourinhas, infelizmente, a história tinha acontecido quase 70 anos antes de eu começar a escrever. Não encontrei ninguém que tivesse participado. Quando escrevi a matéria pro JC ainda conheci uma pessoa que tinha ido, mas não a encontrei mais. Mesmo assim acho que juntando o quebra-cabeças de matérias notas, entrevistas deu pra contar bem a história da dessa viagem, que considero a maior epopeia do carnaval brasileiro”. 

"Choro e Frevo – Duas viagens épicas", do jornalista e crítico musical José Teles

Choro na estrada
Já a pesquisa sobre o choro contou com testemunhos vivos e muitos relatos, diários, fotos e documentos sobre a viagem dos chorões que foram à casa de Jacob do Bandolim, em 1959, num jipe. “Fui com Amaro Filho na casa de Chico Dias, filho da violonista Dona Ceça, que viajou com o marido, João Dias, com Zé do Carmo e sua esposa, dona Melita, Rossini Ferreira e Canhoto da Paraíba. Chico nos presenteou com relíquias da época, fotos, bilhetes, um monte de coisas”, relata José Teles.

“Amaro conseguiu o diário de viagem de dona Melita, extremamente meticuloso. Ela anotou tudo, de uma parada pra tomar uma Coca, anotando o preço de tudo, ao cardápio, peculiaridades das cidades, dos hotéis, das pessoas. Uma coisa espantosa. Depois, o Instituto Jacob do Bandolim, na pessoa de Sérgio Prata, nos disponibilizou gravações feitas pelo próprio Jacob do Bandolim, que fala antes de cada apresentação, fazendo um resumo biográfico de cada chorão da caravana pernambucana. Uma preciosidade”.

“Este sarau na casa de Jacob fez história no Rio. Paulinho da Viola, cujo pai tocava com Jacob, contou que assistiu. Estava com 17 anos, e não pretendia ser músico, embora o pai Cesar Faria, fosse de um dos grandes grupos da história do choro. Paulinho revelou que decidiu ser músico depois de ver o sarau, sobretudo por causa de Canhoto da Paraíba, de quem ele foi amigo até o final da vida do violonista”.

Sobre o autor
Teles é jornalista, formado em 1991 pela Universidade Católica de Pernambuco - Unicap. Foi crítico de música do Jornal do Commercio por 34 anos (1987 a 2021), e já escreveu sobre o assunto em diversas publicações pernambucanas e de outros estados, inclusive no jornal A Bola, de Lisboa. Foi colaborador do, O Pasquim (Rio) e revista Bizz (São Paulo), Revista General (São Paulo), Meus Caros Amigos (São Paulo). Atualmente colabora com a revista Continente e para o site fluminense Instituto Memória Musical Brasileira. 

Publicou mais de trinta livros, entre biografias, contos, crônicas, eis alguns: Do Frevo ao Manguebeat (Editora 34 - SP); O Malungo Chico; O Frevo Rumo à Modernidade e O Baião do Mundo (Fundação de Cultura Cidade do Recife); Lá Vem os Violados – Quinteto Violado 50 anos (CEPE); O Frevo Gravado – de Borboleta Não É Ave a Passo de Anjo (Funcultura/Edições Bagaço); Claudionor Germano – A voz o frevo; ( CEPE); Da Lama ao Caos – Que Som É Esse Que Vem de Pernambuco (Edições SESC-SP).

Escrever sobre música é um interesse que acompanha a carreira de José Teles. Seus livros e críticas diárias sobre artistas consagrados ou novos talentos costumam privilegiar a produção que aconteceu e acontece fora do Rio e São Paulo.“Fiz isto no livro Do Frevo ao Manguebeat, lançado no final de 2000. Dediquei um capítulo do livro à psicodelia pernambucana dos anos 70, esquecida aqui e ignorada lá fora. Um assunto tão importante e maluco, que atraiu o interesse de jornalistas do país inteiro, os discos daquela cena não apenas foram reeditados, valorizados, como estão disponíveis na Europa, Estados Unidos. Quando foram lançados originalmente pouca gente no Recife se interessava por esses álbuns”, lembra Teles.    

Ficha Técnica do livro:
Organização: Amaro Filho.
Projeto - Design Editorial: Eduardo Mafra e Vladimir Barros (Otto Studio).
Revisão: Consultexto.
Produção Executiva: Claudia Lisboa.
Incentivo: Funcultura, Fundarpe, Secretaria de Cultura, Governo de Pernambuco.
Realização: Página 21.

 

 

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