MÚSICA

Em seu novo álbum, "Universidade Favela", Edgar rima as potências das comunidades de periferia

Rapper paulista diminui o teor da militância de seus álbuns anteriores e traz disco mais dançante e descompromissado

EdgarEdgar - Foto: Renato Pascoal/Divulgação

Edgar, o “Novíssimo”, é desses artistas fora da curva. O rapper paulista – também artista visual e audiovisual – é conhecido pela sagacidade de seus versos afiados sobre questões sociais, ambientais, indígenas, pela linguagem sonora experimental, em cadência muito própria e original.

Após os álbuns “Ultrassom” (2018), “Ultraleve” (2021) e o EP “Ultravioleta” (2022), Edgar lançou, neste mês,“Universidade Favela”, seu terceiro álbum pela gravadora Deck. O rapper traz, nas onze faixas deste trabalho, a ideia da formação social e cultural de quem vive na favela, atravessada, sim, por mazelas, desigualdades, mas, também, fonte de potências muitas, que passam ao largo dos estigmas.

Concepção
“Universidade Favela” nasce da volta de Edgar à Favela Coqueiro, em Guarulhos (SP), em 2021, onde nasceu e se criou, após uma temporada morando na Dinamarca e na França. Neste retorno, percebeu que precisava se reconectar com sua essência e com os seus. “Comecei a tentar entrar em diálogo com eles, conversar com as pivetada, fazer freestyle, roda de batalha, a dar mais rolê com eles, colar nos bailes”.

 

Vieram as músicas do disco. Edgar agregou ao seu som gêneros mais populares, como o trap, o funk e o reggaeton. A ideia era “descomplicar” o seu discurso, se reaproximar do ethos favela. “Acho que era isso que faltava um pouco,  porque eu ficava num lugar quase do intelectulóide, nerd, que fica ‘Ah, problemas ambientais…  epistemologia… etnocídio…’, quando você vê, tá criando uma distância com a galera”.

Disco
“Universidade Favela” traz um Edgar um pouco diferente dos trabalhos anteriores. As denúncias sociais continuam a figurar, mas, agora, o sexo ganha evidência nas letras. “Acho que é o meu primeiro disco mais sexualizado, mais íntimo, mais descompromissado”, conta Edgar. “tem aquele dedinho de popular, de diversão. Eu sinto que é o meu disco mais divertido, mais dançante, mais despreocupado”, continua.

Abre o disco faixa sugestiva nesse sentido: “Descansa militante”, em que contrapõe a seriedade da militância ao erotismo. Ainda assim, ele não deixa de dar suas estocadas, em versos como “quem não gosta de política por quem gosta vai ser governado” ou “sempre vai ter um político envolvido na orgia”.

Destaque para a autobiográfica “Incapturável”, em que Edgar, ao contar sua história, subvertendo adversidades, também incentiva os seus. “Bota fé no teu tambor/ bota fé no que tu faz/ bota fé que tu é foda/ Deus protege e ninguém toca”. “A galera ficou tipo: ‘c*r*lho, o Edgar rodou o mundo, cantou em festival internacional, cantou com a Elza Soares e tá aqui na favela de novo, com nós aqui, fazendo um bagulho, que massa eu acho que eu também posso”.

No entanto, Edgar não resistiu a uma pontinha de militância, na faixa que encerra o disco, “Antes que o Mundo Acabe”. “Doe seu dinheiro antes que o mundo acabe/ faça alguém feliz antes que o mundo acabe”, são algumas das ações que Edgar aconselha antes que o Planeta Terra entre em colapso climático, econômico/social, fruto da auto-devoração do Capitalismo.

Conexões
Com o passo inicial ainda no exterior, em “Universidade Favela”, Edgar estabeleceu conexões com produtores e artistas estrangeiros. Na produção das faixas, participam o ítalo-brasileiro Nelson D. (“Original de Quebrada” / “Paso Firme” / Origami” / “Camisa 10”), o inglês Jammz (“Canção de Amor” / “Antes que o Mundo Acabe”) e o francês Dang (“Descansa Militante” / “Perigos Noturnos” / “Relatos Selvagens” / “Camisa 10”). Do Brasil, estão o coletivo carioca Os Fita  (“Incaputrável”) e os paulistas Nakata e Kazvmba (“Caralho Carinho”).

Dividindo vocais com Edgar, estão as participações femininas da cantora paulista Bia Doxum, em “Caralho Carinho”, da franco-japonesa Maia Barouh, que também faz flauta em “Origami”, e da chilena Luta Cruz, em “Paso Firme”.

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