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Música

Em violão e voz, Alceu Valença se reinventa com disco produzido na quarentena

"Sem Pensar no Amanhã" é o primeiro, lançado nesta sexta (12), de uma sequência de álbuns produzidos pelo artista pernambucano de sua casa, no Rio de Janeiro

Disco estreia uma sequência de produções do artista pernambucano durante a quarentenaDisco estreia uma sequência de produções do artista pernambucano durante a quarentena - Foto: Léo Aversa

Sem pressa, e com delongas de lá e de cá. Cadeira confortável (de cá) e barulho de natureza (de lá), arranjo que beira a perfeição para conversas ao telefone com “gentes” tipo Alceu Valença. “Hello, como vai? Bon après midi”, introduziu ele exibindo o seu ‘poliglotismo’ em um bate-papo que começou por  “Sem Pensar no Amanhã”(Deck) - gravado no Estúdio Tambor (RJ), o primeiro de três discos intimistas lançado hoje com releituras de clássicos de carreira e um samba inédito, homônimo ao título do álbum – e seguiu por entre causos e cantorias sobre  pandemia, vacina e o seu desejo inconteste de voltar aos palcos em um futuro que ele espera estar próximo.

“Eu me pego tocando violão em casa, sozinho, e é passando pelas cidades do Brasil que me vejo. Penso nesse retorno aos palcos todos os dias, bichinha”, confessa um afetivo Alceu, que traz Recife e Olinda nas faixas que chegam aos (bons) ouvidos, não à toa, neste 12 de março. 

“As músicas do disco se encaixam, passeiam pelas duas cidades. Quando eu começava a cantar uma, já lembrava de puxar a outra e assim cheguei a esse repertório que entrelaça os locais por onde passei. É uma espécie de roteiro de cinema, com cada uma delas contando uma história”.
 



De fato, o disco – produzido de sua casa no Rio de Janeiro - traz prosa, versos e harmonia em onze faixas, que poderiam ser ouvidas nos bons tempos das "músicas de barezinhos" com a ressalva, é claro, de serem entoadas em violão e voz pelo próprio Alceu. 

A primeira, “La Belle de Jour”, passa por Boa Viagem. Na sequência, Alceu chega em Olinda, com “Mensageira dos Anjos”, até pegar o seu “Táxi Lunar” e trocar de meio de transporte para embarcar no trem da “Estação da Luz”. Já com “Ciranda da Rosa Vermelha”, ele retorna às areias da praia e finca os pés em uma das coisas que mais gostava de fazer. “Eu dançava muita ciranda lá em Itamaracá. Lembro como se fosse hoje de minhas idas para a praia...”. 

 

Crédito: Léo Aversa

Sem escapar à essência do frevo, “Chego Já” e “Pirata José” resgatam o Carnaval. “Me pegava em meio às flores do jardim de minha casa, tocando violão e cantarolando, aí ouvia Yanê (esposa) gritando ‘Lindo! Lindo!’. Pensava eu que ela estava assistindo falando isso de uma uma série, um filme e, quando entrei e ela repetiu isso dizendo que tinha ouvido o que eu estava fazendo, me animei e segui devagar fazendo outras e outras. Foi assim que cada uma delas foi produzida”, contou Alceu, que resgatou seu aconchego com o violão, instrumento que não integrava sua rotina e por isso a novidade deste trabalho intimista e acústico.

“Eu nunca estive tanto tempo em casa. Com essa inacreditável pandemia, foi com esses trabalhos que vi o tempo passar e de uma forma despretensiosa os discos vingaram”, complementa.

“Beija-Flor Apaixonado”, “Iris” e “Marim dos Caetés” inteira o álbum que traz, também, a inédita em ritmo de samba “Sem Pensar no Amanhã”. “Para esta me remeti ao Carnaval de Olinda, porque é assim que a gente se sente quando chega por lá nesta época. E, na quarentena, viajei em pensamento para muitos lugares...”, enfatiza para em seguida reforçar o seu querer em voltar a ser o andarilho da arte que sempre foi.

“Quero vacina da China ou de qualquer lugar, não quero nem saber de onde vem, se a Anvisa autorizar eu tomo. E penso que no pós-pandemia vamos nos tornar mais humanizados, acho que vem uma nova onda por aí”. 

O álbum inaugural somado a outros dois que virão em breve, e um quarto que também está em rota de lançamento, está disponível nas plataformas digitais, ainda sem data para circulação em mídia física. O projeto traz pelo menos quarenta músicas conhecidas do público, mas com uma nova roupagem, e outras inéditas que passam a integrar o cancioneiro do artista pernambucano, que sugeriu, antes de cantarolar por telefone para Recife e Olinda, um casamento entre as cidades.

“Seria ótimo e eu poderia cantar neste casório. Ambas têm história a zelar e a lazer”, brincou Alceu, que escolheu para celebrar o enlace: “Pra começar, eu vou te amar o ano inteiro (...) Vamos brincar todo dia em Olinda no Bloco do Beijo, no Recife na beira do cais. Nos entregar ao desejo, de janeiro a janeiro, sem atropelo”.

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