entrevista

Emanuelle Araújo fala sobre unir música e atuação: "Me permito viver as duas coisas entrelaçadas"

Atriz e cantora baiana estará no Recife neste sábado (2), cantando com a Orquestra Imperial no Armazém 14

Emanuelle Araújo, atriz e cantoraEmanuelle Araújo, atriz e cantora - Foto: Pablo Grotto/Divulgação

Emanuelle Araújo desembarca no Recife neste sábado (2), para o show que fará com a Orquestra Imperial, no Armazém 14, cantando sucessos de Rita Lee. Em paralelo à turnê com a banda, a cantora e atriz baiana aguarda as estreias de projetos no audiovisual.

No cinema, Emanuelle dá vida a Sônia, protagonista de "O Barulho da Noite", primeiro longa-metragem da diretora tocantinense Eva Pereira. O filme, que já rodou por eventos como o Festival de Gramado e a Mostra de São Paulo, aborda temas delicados, como violência doméstica e abuso sexual infantil. Um detalhe é que, além de atuar, a baiana também assina a trilha sonora do filme.

Em 2024, a atriz será figura presente em mais dois filmes. Um deles é "O Meu Sangue Ferve Por Você", cinebiografia de Sidney Magal, em que Emanuelle interpreta a sogra do cantor. Ela também estará em "Traição Entre Amigas", adaptação do livro de Thalita Rebouças dirigida por Bruno Barreto.
 

Em entrevista à Folha de Pernambuco, a artista de 47 anos detalhou seus projetos atuais, falou sobre maternidade e analisou as conexões entre música e atuação na sua carreira. “Com o passar do tempo, hoje eu me permito viver mais essas duas coisas entrelaçadas”, revelou.

Confira a entrevista com Emanuelle Araújo:

O que representa para você subir ao palco cantando Rita Lee?
Uma emoção muito grande, na verdade. Esse show surgiu antes da partida da Rita. Fomos convidados para um festival chamado Doce Maravilha, que aconteceu no Rio de Janeiro. O Nelson Motta, que era curador, sugeriu à nossa produção que fosse uma homenagem a ela. Começamos a pensar o roteiro, ensaiar, e aconteceu que nós a perdemos. A Rita, para mim, sempre foi um ícone, uma referência artística, musical e feminina. Sempre foi uma régua de uma mulher que tem personalidade e um talento para revolucionar no meio dos homens. É uma coisa que eu percebi desde criança. Mesmo sem entender muito o que isso significava em termos sociais e políticos em termos de atitude, lembro que eu já tinha um fascínio pela postura da Rita Lee, não só pela música, mas pela atitude também. 

Você integra a Orquestra Imperial há 12 anos. Qual é o grande “barato” de estar nesse projeto?
São muitos baratos. O primeiro é que estou entre grandes amigos. Antes de ser efetivada como cantora da banda, eu já estava com orquestra, dando canjas ou na plateia. Quando cheguei ao Rio, já conhecia o Alexandre Kassin, que é o sócio-fundador da Orquestra, junto com o Bernas Ceppas. Eles produziram o primeiro álbum da Moinho, que é minha outra banda, e a partir disso, passei a conviver muito com a Orquestra. Quando a maravilhosa Thalma de Freitas foi morar em Los Angeles, eles sentiram falta de outra voz feminina e foi quando fizeram a proposta. 

Também tem um barato musical. Para mim, o show da Orquestra é uma catarse musical. A gente tem a onda do samba, dos solos de improviso… é uma coisa meio jam session, de aparecerem figuras importantes da música, assim como vai acontecer no Recife.

Falando no Recife, o que você espera da apresentação na cidade?
Eu amo o Recife. Tenho uma relação muito forte com a cidade, em princípio através da música. Desde os meus tempos de carnaval, os meus shows no Recife foram muito emblemáticos, muito fortes para mim. Minha relação com o cinema também, através dos festivais e de alguns filmes que já apresentei por aí. Eu amo essa cidade, amo o carnaval de Olinda. Faz muito tempo que eu, Emanuelle, não toco no Recife e a Orquestra também não se apresenta aí há um bom tempo. Então, eu acho que vai ser um reencontro de amor e de festa. 

A Moinho, sua banda com Lan Lan e Toni Costa, completa 20 anos em 2004. Neste ano, vocês voltaram a se apresentar. O que motivou esse retorno?
Na verdade, a banda nunca acabou. O que aconteceu é que somos três artistas com carreiras muito diversas. Eu ainda tenho que conciliar minha carreira de atriz com a de cantor, mas há momentos em que fica difícil. Então, acontecem esses hiatos longos da Moinho, como foram os últimos dois anos. Esse ano recebemos muitos convites de shows corporativos, eventos fechados e, quando começamos a postar, percebemos que o público ainda gostava da gente. Decidimos fazer alguns shows abertos, que tiveram todos com casa lotada. Demos essa aquecida no segundo semestre e pretendemos, no ano que vem, fazer uma grande comemoração dos 20 anos do Moinho.

Então, vem disco novo por aí?
Nunca paramos de compor, nem na pandemia. Isso é muito doido. Existem várias canções inéditas no nosso caldeirão. Pensamos em gravar e lançar alguma coisa, mas, para além dos inéditos, o que a gente quer é fazer aquela farra da gente, como era na Lapa. No nosso primeiro álbum, tinha música do Nando Reis, da Ana Carolina, participação do Davi Moraes, do Donatinho. Sempre foi um caldeirão de pessoas da música popular brasileira que a gente ama. Então, pretendemos repetir isso nessa comemoração. 

No filme “O Barulho da Noite”, além de atuar, você assinou a trilha sonora. O que achou dessa experiência?
É a primeira vez que eu sou responsável por uma trilha sonora de cinema, junto ao meu parceiro, Rico Viana, que é pernambucano. A Eva Pereira, diretora e roteirista desse trabalho, me convidou, por achar que eu já conhecia tanto o processo desse filme. Eu me assustei um pouco. Era uma responsabilidade muito grande, até porque é um filme de muito silêncio, mas aceitei achei que era hora. Unimos a minha intuição com a experiência do Rico e foi uma parceria incrível. Concebemos essa trilha de um jeito muito mágico. 

Inclusive, eu tive uma experiência muito interessante na semana passada, que foi uma das maiores emoções que já tive com esse trabalho. Fizemos uma sessão no assentamento onde filmamos o longa, para as pessoas da comunidade que inspiraram a Eva a escrever essa história e que vivem essa realidade, lá no Sertão do Tocantins, nesse Brasil profundo e muitas vezes escondido. Montamos uma tela de cinema no meio do assentamento, com as cadeirinhas lá no meio do Sertão e, quando eu ouvi a nossa trilha tomando conta daquele espaço, me deu uma emoção muito grande. Todas as vezes que eu estava [trabalhando] na música do filme, eu fechava os olhos e tentava me conectar àquele lugar, para conseguir trazer a energia do que as personagens viviam.

Sempre foi tranquilo para você transitar entre a música e a atuação?
Isso é recente. No início, eu fazia bastante questão de separar uma coisa da outra. Quando estava fazendo uma personagem, seja na TV, no cinema ou no teatro, não era a cantora em cena, mas a atriz. Eu deixava isso  muito claro isso e gostava dessa separação, porque eu achava que me ajudava a mergulhar melhor nas artes. Isso foi importante para mim durante muito tempo. Depois de tanto tempo trabalhando não só nas duas carreiras, mas na parte burocrática delas, eu me sinto muito mais madura sobre o que é ser uma atriz e o que é ser uma cantora. Eu me permito viver essas duas coisas entrelaçadas. 

Você fez uma recente participação no humorístico “Vai Que Cola”. Como é a sua relação com o humor?
Primeiro, eu amo aquela gente [do elenco do “Vai Que Cola”]. Eu acho o Marcus Majella um dos grandes artistas do nosso Brasil, assim como era o nosso querido Paulo Gustavo. Tenho profunda admiração pela criatividade e pela rapidez do humor dos meninos do “Vai Que Cola”. Pedroca Monteiro, para mim, é um dos gêmeos da comédia brasileira. Eu amo humor e acho uma coisa muito difícil e interessante. Eu adoro um desafio. Desde que protagonizei “Samantha!”, sendo a protagonista da primeira série de humor nacional da Netflix, me libertei para me jogar na comédia e perceber o prazer que tenho em trabalhar com isso. Não distancio muito o humor do drama, no sentido de ofício. Para mim, são dois estilos que conversam. Quando uma personagem é absolutamente dramática e não tem nada de risível, em algum lugar eu dou um jeito de colocar humor, e vice-versa.

Você tem uma filha de 29 anos e, inclusive, fez uma publicação recente nas suas redes sociais comemorando o mestrado dela. Olhando para trás, como foi lidar com as pressões ligadas à maternidade, tendo uma carreira artística para tocar em paralelo?
Fui mãe muito jovem. Engravidei aos 16 anos e a forma mais honesta que eu achei para viver com essa maternidade precoce foi não romantizar. Eu sei que essa é uma pauta muito contemporânea. As mulheres estão falando sobre puerpério - coisa que não se falava e ninguém sabia direito o que significava. Estão falando sobre crises, sobre ter a noção completa de um ser que depende absolutamente de você. Hoje, frequento essas discussões com muito prazer e orgulho, vendo que isso ajuda outras mulheres e as estimula a processar essa coisa estrondosa, maravilhosa e ruidosa que é a maternidade. Porém, acho que, antes mesmo dessas pautas, eu já fazia um pouco isso intuitivamente, porque foi a minha saída, a minha forma de viver esse turbilhão tão nova, ao mesmo tempo em que eu me conectei muito com a maternidade. Foi algo que me tomou muito forte - o que pode não acontecer com outras mulheres. Então a forma que eu tive [de lidar com a maternidade] foi sendo muito honesta, principalmente na minha relação direta com a minha filha. Fui muito honesta quanto às minhas potências e aos meus limites como mãe. Para mim, era muito claro que existiam deficiências por ser uma mãe muito jovem, e eu deixava claro que não era um problema dela, mas que precisávamos passar por aquilo e amadurecer juntas.

Sempre fomos muito unidas, muito grudadas, até o momento quando ela saiu de casa, com 21 para 22 anos. Isso não significou um afastamento. Pelo contrário, a gente ficou ainda mais próximo. Hoje, a minha filha é uma psicanalista lacaniana. Ela é muito séria e dedicada ao ofício dela, vislumbrando uma carreira acadêmica. Está terminando um mestrado e não gosta muito que eu fale da vida dela, o que eu acho certo, porque a vida é dela. Durante toda a minha carreira, as pessoas queriam que eu falasse sobre a minha filha e acho que, agora, ela tem a vida independente. Mas o que eu posso dizer em relação a ser mãe da Bruna é que o meu maior trabalho foi viver o dia a dia com a melhor honestidade emocional.


 

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