Empetur e Carvalheira na Ladeira respondem a declarações do presidente da AIP
Empetur emitiu nota sobre denúncia que será oferecida pela Associação de Imprensa de Pernambuco ao MPPE, tratando do uso do Memorial Arcoverde por festas privadas
O Ministério Público de Pernambuco (MPPE) deve receber, nos próximos dias, um relatório da Associação de Imprensa de Pernambuco (AIP) cujo conteúdo servirá de embasamento para oferecimento de denúncia formal contra o uso do Memorial Arcoverde, em Olinda, ocupado pelo camarote privado “Carvalheira na Ladeira” durante o Carnaval deste ano.
De acordo com Múcio Aguiar, presidente da AIP, a preservação do frevo de rua como patrimônio da humanidade, problemas de acessibilidade em Olinda provocados pela festa, além do uso privado de espaço público, deixando de servir à sua finalidade, são motivações para a denúncia. A previsão de finalização do relatório é no dia 15 de março, ocasião em que será marcada uma reunião com a promotoria olindense.
Veja nota emitida pela AIP na íntegra:
A importância dos elementos do carnaval são tão expressivos para a cultura olindense, que a UNESCO considerou o frevo como patrimônio cultural imaterial da humanidade. Os municípios mais tradicionais de Pernambuco vivem o desafio de preservar e salvaguardar suas manifestações culturais, que são base da identidade e do pertencimento. É inegável que quando nos lembramos dos papangus, completamos: de Bezerros; os maracatus: de Nazaré da Mata; os bonecos gigantes: de Olinda e de Belém do São Francisco.
Em 2015 foi sancionada lei que proíbe casas camarotes no sítio histórico do município. Na tentativa de burlar a legislação municipal as promotoras das casas camarotes migraram do sítio histórico para a área de entorno, que também é de proteção legal, menos rigorosa, estando algumas locando espaço público para elitização do carnaval olindense.
A locação desses espaços vem gerando uma promiscua utilização de parque público, que deixa de servir na totalidade para finalidade “pública” para abrigar e favorecer o privado, que há alguns anos vem faturando e influenciando para a descaracterização de um dos maiores patrimônios cultural de Pernambuco: o carnaval de rua, que deu origem ao frevo.
Aberto ao contraditório, a Associação da Imprensa de Pernambuco solicitou por três vezes ao maior promotor privado, o Carvalheira na Ladeira, informações sobre medidas compensatórias ao “crime” contra a cultura, e na inexpressiva resposta três parágrafos sobre o “projeto lixo zero”, cujo objetivo é a obter a reciclagem de 90% dos resíduos produzidos por eles mesmos, ficando claro que o evento privado em nada favorece o público, além de promover no entorno do sítio histórico de Olinda a profanação e a marginalização do carnaval, cuja característica é ser igualitário.
Diante do exposto, e das crescentes denúncias contra as casa camarotes, a Associação da Imprensa de Pernambuco informa que apresentará denúncia ao Ministério Público, bem como pedido ao Poder Executivo para que a lei já existente também contemple toda a área de entorno do sítio histórico, que seja apurado os impactos ambientais deixados pelas casas camarotes.
EMPETUR
Em nota, a Empresa de Turismo de Pernambuco (Empetur), responsável pela gestão do equipamento, esclareceu que o Memorial Arcoverde "(...) vem sendo utilizado regularmente para eventos culturais em geral, como forma de atender a crescente demanda da iniciativa privada por espaços para a realização, especialmente, de shows com atrações nacionais".
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A Empresa afirma, ainda, que, em 2020, o Governo de Pernambuco deu apoio no Carnaval a pelo menos 62 polos por todo o Estado, contemplando diferentes representações culturais do Litoral ao Sertão, ao mesmo tempo em que "faz-se necessário reconhecer a força dos eventos da iniciativa privada na atração de turistas. Em alguns eventos, o público visitante supera o local, a exemplo do festival Carvalheira na Ladeira, quem tem 60% da sua clientela representada por turistas".
Veja a nota da Empetur na íntegra:
Sobre o uso do espaço do Parque Memorial Arcoverde, o Governo do Estado, por meio da Empetur, responsável pela gestão do equipamento, esclarece que:
O espaço vem sendo utilizado regularmente para eventos culturais em geral, como forma de atender a crescente demanda da iniciativa privada por espaços para a realização, especialmente, de shows com atrações nacionais. Só no ano de 2019, o local abrigou 11 eventos, que geraram aos cofres do Estado cerca de R$ 700 mil.
Os contratos de locação firmados com as produtoras de eventos que utilizam o Parque Memorial Arcoverde durante o Carnaval e ao longo do ano são similares aos celebrados pelo próprio Centro de Convenções de Pernambuco quanto ao uso da sua área externa.
Em 2019, a Empetur deu início ao planejamento de requalificação do equipamento, que deverá passar por um extenso projeto de adaptação e melhorias para que funcione em toda a sua capacidade. O local deverá ganhar uma nova área de lazer para a cidade, arborização e espaço específico para eventos. A iniciativa encontra-se atualmente em fase de finalização dos projetos complementares da obra.
O Governo de Pernambuco ainda esclarece que o seu Carnaval é plural e diversificado em sua essência. Apenas em 2020, foi dado apoio para o Carnaval em 62 polos por todo o Estado, contemplando as mais diferentes representações culturais do Litoral ao Sertão, num investimento de quase R$ 10 milhões em festas abertas ao público.
Ao mesmo tempo, faz-se necessário reconhecer a força dos eventos da iniciativa privada na atração de turistas. Em alguns eventos, o público visitante supera o local, a exemplo do festival Carvalheira na Ladeira, quem tem 60% da sua clientela representada por turistas. Isso faz com que seja movimentada toda a cadeia do turismo, especialmente as indústrias hoteleira, de bares e restaurantes e as empresas de receptivo.
CARVALHEIRA
Eduardo Carvalheira, em conversa com a Folha de Pernambuco, como representante da produtora, afirmou que, em resposta ao que foi dito pelo presidente da AIP, Múcio Aguiar, deverá ser emitida, nesta sexta-feira (28), uma carta com justificativas que embasam, segundo ele, a realização da festa no espaço.
Entre os argumento, ele credita ao evento "Carvalheira na Ladeira" a valorização da cultura local, com o incremento, este ano, de mais de dezessete atrações populares vindas de cidades como Caruaru, Nazaré da Mata e Pesqueira. "Tivemos uma grade extensa e muitas dessas atrações até se apresentaram no palco principal, abrindo a programação", ressaltou .
De acordo com Eduardo Carvalheira, a festa, realizada há alguns anos no Memorial Arcoverde, atraiu mais de 40 mil pessoas, que, além das atrações musicais, usufruíram da culinária típica pernambucana. "Preservamos na festa a nossa cultura, incluindo a gastronomia local. Para falar o que ele (Múcio) falou, é preciso ter conhecimento. Seria muito bom que ele conhecesse nossa estrutura, o projeto que pensamos a cada ano, desde o 'lixo zero', aprovado por todas as Secretarias de Meio Ambiente do Estado e dos municípios de Olinda e do Recife. As autoridades reconhecem o nosso trabalho", reforça.
"O Carnaval de Pernambuco é multicultural, cabe todo mundo. Ninguém está obrigado a pagar ingressos caros ou baratos, com respeito e harmonia, os foliões podem curtir a festa em Boa Viagem, no Marco Zero ou nas ladeiras de Olinda também, isso é o verdadeiro Carnaval", continua Eduardo.
O representante da produtora finaliza afirmando que "o trânsito em Olinda é pesado e não é por causa da festa da Carvalheira". Segundo ele, estratégias foram firmadas junto a outras festas dos arredores. "Proporcionamos mobilidade ao nosso folião e pelo menos 30% chegou por meios dos Expressos da Folia, além de Uber e táxis que estavam à disposição. Pensamos em estratégias que funcionaram. Além disso, trabalhamos com tradutores simultâneos nas atrações, com projetos de acessibilidade aos que tinham problemas de mobilidade e pagamos impostos e aluguel. Nossa relação com o Governo do Estado não é promíscua, como o presidente da AIP alegou", concluiu Eduardo, que espera que o imbróglio entre a Associação e a Carvalheira seja sanado. "Quando ele (Múcio) ler o que vamos escrever e comprovar, ele vai mudar o discurso dele".