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[Entrevista] José Celso Martinez fala sobre teatro, política e disputa com Silvio Santos

Ator, dramaturgo e diretor paulista, José Celso Martinez Corrêa apresenta palestra em festival, nesta sexta-feira (28), no Sesc Santa Rita

José Celso Martinez Corrêa José Celso Martinez Corrêa  - Foto: Jennifer Glass/Divulgação

No auge de seus 81 anos de idade, José Celso Martinez Corrêa segue como uma das figuras mais ativas do teatro brasileiro. Sem pensar em aposentadoria, o ator, diretor e dramaturgo paulista vive em função do trabalho, seja montando espetáculos, ministrando cursos, administrando seu centro cultural ou militando em prol da cultura.

Convidado do festival Transborda - Usina Teatral, ele comanda a conferência "O teatro no Brasil ainda é possível?", nesta sexta-feira (28), a partir das 18h, no Sesc Santa Rita. Nesta entrevista concedida por email à Folha de Pernambuco, o artista aborda temas como a disputa com o empresário e apresentador Silvio Santos, que se arrasta por mais de 30 anos, pelo terreno no entorno da sede do Teatro Oficina, no bairro do Bixiga, em São Paulo.

Parafraseando o título da conferência que você traz ao Recife: o teatro no Brasil ainda é possível?

É uma impossibilidade absoluta, eternamente possível. Nestes tempos que vivemos no Brasil, paradoxalmente, nós loucos de teatro estamos nos virando do avesso e conseguindo produzir peças inacreditavelmente vivas e com um público fissurado. Apesar disso, estamos com problemas imensos, como por exemplo, o de vir até Recife com "O Rei da Vela" e "Roda Viva 2018". Em vez disso, sou convidado para vir fazer uma conferência sobre a impossibilidade ou não do teatro.

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Desde os anos 1980, você vem lutando para que o projeto imobiliário do Grupo Silvio Santos não seja construído na área onde está localizado o Teatro Oficina. O que te motiva a persistir numa disputa como essa durante tanto tempo?

São 38 anos de uma luta histórica maravilhosa. Foi um alimento antropofágico revitalizador contracenar com um ser humano que é uma entidade do capital vídeo-financeiro personalizada. Se há duas coisas que agradeço na vida, elas são: desde 1993 até hoje ter criado neste inspirador teatro todo aberto pra natureza - criado por Lina Bardi e Edson Elito - e ter contracenado, durante quase 40 anos, com Silvio Santos antes e depois do “golpeachement”. Por enquanto, ele não quer mais trocar por um terreno, mas sim aceitar o monopólio da revitalização do Bixiga, isto é: o genocídio dos habitantes do Bixiga, proposto por Dória e Alckmin. Aprendi muito em criar num teatro aberto para a natureza e sobre o capitalismo especulativista.



Até quando você pretende seguir nessa empreitada de manter em atividade o Teatro Oficina?

Não sou eu, mas a Associação Teatro Oficina Uzyna Uzona, que com muitos artistas de talento em todas as áreas, trabalhando juntos já há muitos anos, criou o milagre de uma associação autogovernada com um poder de vida que transcende minha existência.

Você viveu a experiência de fazer teatro em plena ditadura militar. Hoje, após a abertura democrática, as coisas estão mais fáceis para os artistas?

Não se pode falar em abertura democrática depois do “golpeachment”. Todas as portas estão fechadas desde 2016, quando perdemos o patrocínio da Petrobras para a Associação Teatro Oficina Uzyna Uzona. Estamos travando uma batalha insana, felizmente com todo o apoio de multidões amantes da vida, contra a destruição de todos os órgãos de proteção do patrimônio cultural estadual, municipal e federal, que o Grupo Silvio Santos - com seus melhores advogados da América Latina - quer transformar em organismos de proteção à especulação imobiliária. Boto fé que, numa ambiência mais democrática, Silvio Santos ainda tenha a lucidez de utilizar o mesmo instrumento de transferência de seu potencial construtivo para outras áreas da metrópole, em terrenos cedidos pela Prefeitura, como aconteceu recentemente com o Parque Augusta.

Por falar em ditadura, qual é a sua percepção sobre o processo político que o Brasil está vivendo atualmente, às vésperas de uma eleição presidencial?

Nos últimos resultados das pesquisas do Ibope, "Ele Não" [em referência ao candidato à presidência Jair Bolsonaro] não saiu do lugar, anunciando a ascensão de forças populares. Mas é evidente que o falso centro e todas as direitas vão acabar se copulando. Então, teremos um confronto f*. Mas as forças antinazistas - seja qual for o resultado eleitoral - vão ter que continuar atentas e em ação.



A Lei Rouanet é um dos alvos preferidos das pessoas na internet. O que você pensa sobre esse mecanismo de financiamento?

Depois do “golpeachment”, só leva quem já vai com patrocinador. Vai precisar de uma modificação estrutural.

No ano passado, Chico Buarque autorizou você a remontar "Roda Viva". Quando o espetáculo estreia?

Estamos em pleno ensaio marcando a estreia em torno dos 60 anos do Teatro Oficina, dia 28 de Outubro - dia do segundo turno das eleições. Projetamos estrear nas duas noites mais estranhamente belas de teatro: 1º de Novembro, Dia de Todos os Santos, e 2 de novembro, Dia dos Mortos.

Serviço

Conferência "O teatro no Brasil ainda é possível?", com José Celso Martinez Corrêa 
Nesta sexta-feira (28), às 18h
Sesc Santa Rita (Cais de Santa Rita, 156, Santo Antônio)
R$ 20 e R$ 10 (meia-entrada)
Informações: (81) 3224-7577

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