"Eric": Benedict Cumberbatch estrela minissérie de suspense e drama da Netflix; leia a crítica
O desaparecimento de um menino é o ponto de partida da trama, que aborda temáticas como racismo e homofobia
Depois de estrelar o curta-metragem vencedor do Oscar "A Incrível História de Henry Sugar", do diretor Wes Anderson, Benedict Cumberbatch retorna em mais uma produção para a Netflix. O aclamado ator britânico é o protagonista da minissérie "Eric", que estreia nesta quinta-feira (30) e já pode ser considerada uma das melhores coisas lançadas pela plataforma de streaming neste ano.
A Folha de Pernambuco teve acesso antecipado aos seis episódios da obra, que entrega suspense de primeira, drama familiar na dose certa, grandes atuações e uma abordagem contundente de temas urgentes. O roteiro envolvente assinado por Abi Morgan, aliado à direção precisa e eficaz de Lucy Forbes, fazem com que seja difícil não querer emendar um episódio no outro e só desligar a televisão após a conclusão da história.
Na trama, que é ambientada em Nova York, na década de 1980, Cumberbatch interpreta Vincent, ventríloquo e criador de um programa de TV infantil de sucesso. Na vida pessoal, no entanto, ele não vai nada bem. Em um casamento falido com Cassie (Gaby Hoffmann), ele tem um filho de nove anos, que presencia as brigas constantes do casal.
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Certo dia, o pequeno Edgar (Ivan Morris Howe) some misteriosamente a caminho da escola, para o desespero dos pais. Tomado pela culpa, Vincent se agarra aos desenhos de um monstro azul criado pelo filho. Sua esperança é de que, ao transformar Eric em uma marionete do "Good Day Sunshine", o menino retorne para casa.
Protagonista ambíguo
Acontece que Vincent não é bem o herói que esperamos encontrar em uma história como essa. Egoísta, prepotente e autodestrutivo, ele se torna cada vez mais instável com o desaparecimento do filho, afastando amigos e familiares. Ao nos depararmos com o contexto de sua infância vazia de afeto, no entanto, somos levados a um sentimento de empatia inevitável, que contrasta com a irritação gerada pelo comportamento abusivo do personagem.
Com a saúde mental deteriorada, Vincent passa a "ver" e a "conversar" com Eric, um boneco azul de 2,10 metros de altura e que só existe na sua cabeça. Um personagem rico em camadas psicológicas, perfeito para um ator experiente em fazer tipos dúbios e excêntricos. Para quem é pai ou mãe, impossível não se desesperar junto com os personagens de Cumberbatch e Hoffmann, que sintetizam bem os sentimentos de culpa e impotência que envolvem a parentalidade. No fim das contas, fica a mensagem de que criar filhos também tem a ver com espantar seus monstros internos.
Histórias paralelas
Um dos aspectos positivos em "Eric" é que, em torno do desaparecimento de Edgar, orbitam outras tramas igualmente interessantes. Enquanto Vincent tenta fazer o seu plano mirabolante dar certo, as investigações são conduzidas pelo detetive Michael Ledroit (McKinley Belcher III). É ele quem nos conduz pelo submundo de corrupção, violência, drogas e protituição da Nova York dos anos 1980, enquanto vive seu próprio drama, tentando esconder sua sexualidade e acompanhando o adoecimento de seu companheiro.
A minissérie abre um leque bastante abrangente de abordagens, tocando em assuntos como homofobia, racismo estrutural, gentrificação, alcoolismo, uso abusivo de drogas, AIDS, pedofilia e a situação dos moradores de rua, sem esvaziar ou negligenciar nenhum desses temas.