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Literatura

Escritor pernambucano faz ensaio sobre Dom Quixote

Texto trata da biblioteca do cidadão Alonso Quijano, fidalgo decadente, protagonista do Dom Quixote de la Mancha

Dom Quixote e Sancho PançaDom Quixote e Sancho Pança - Foto: Reprodução/Wikipédia

Livro famoso do escritor espanhol Miguel de Cervantes, Dom Quixote ganhou um ensaio do escritor pernambucano Pedro Américo de Farias. No ensaio, que tem edição e publicação na revista eletrônica Caliban, é interessante entender a relação entre o fantástico trabalho deste precursor do romance ocidental, Miguel de Cervantes, com o seu Dom Quixote, e a literatura que fez a cabeça deste seu anti-herói.

Com o título “Escarafunchando Quixote: Indícios de sua biblioteca”, o texto trata, de acordo com o escritor, da biblioteca do cidadão Alonso Quijano, fidalgo decadente, protagonista do Dom Quixote de la Mancha, formada por histórias fantasiosas componentes da chamada “literatura ligera”, em sua maioria, romances de cavalaria, que faziam o divertimento dos leitores da época, entre a Idade Média e o Renascimento.

“Quijano era um desses fanáticos leitores. Acreditava que tudo aquilo, aventuras maravilhosas de valentes cavaleiros, era a mais absoluta verdade. E assim, sabendo tudo da vida e obra desses incríveis heróis, resolveu que estava na hora de vestir uma armadura, transformar-se em cavaleiro andante, montar num cavalo e ganhar o mundo. Precisava de um nome cavaleiresco e escolheu: Don Quijote de la Mancha. Sua luta, como mandava o figurino, seria pelos ideais medievais de justiça e equidade: ser em toda parte o defensor dos fracos e oprimidos, o protetor da mulher e do órfão, o sustentáculo das causas justas”, explica Pedro Américo.

A ideia de escrever o ensaio surgiu quando um amigo de Pedro, professor da Universidade Federal de Pernambuco, o provocou para colaborar com a revista eletrônica “Eutomia”. A partir de então, Pedro ofereceu a ideia de fazer o ensaio sobre Dom Quixote, ideia que antes não havia passado pela sua cabeça. Pedro contou que ele tinha começado a leitura do livro há vários anos e parou. Mas depois resolveu retomar.

“Ele achou boa a ideia e eu, encalacrado, tinha que escrever. Intensifiquei a leitura, caprichando nas entrelinhas e rodapés, ao mesmo tempo em que fui localizando, em minha própria estante, uma bibliografia de apoio. Assim foi”, contou Pedro.

Mesmo antes de ter a ideia clara sobre o que poderia fazer com a retomada da leitura do livro, Pedro disse que já se sentia “mexido” por temas relacionados com livros que acompanhavam os colonizadores e colonos, pequena minoria de leitores entre eles, que vinham para a conquista e, posteriormente, ocupação dos territórios no Novo Mundo, América. 

“Tais leituras eram predominantemente de livros de formação religiosa e, mais do que estes, de romances em prosa e verso de literatura popular, lidos por homens e mulheres na Espanha e em Portugal, para citar apenas estes dois, de interesse para o nosso trabalho. Tratava-se de uma literatura carregada de mitos enganadores da boa fé dos leitores, em que todos os ‘bons sentimentos’ apresentados constituíam, em verdade, uma gama bastante rica de valores profundamente reacionários, justificando toda sorte de violência contra povos conquistados, africanos, indígenas, mulheres, pobres trabalhadores e tantas outras categorias exploradas pelas elites, incluindo a cúpula sacerdotal. Tais valores, impregnados na consciência dos seus portadores, perduram, ainda hoje, ocupando não raramente o poder”, disse o escritor.

Entre a leitura do Quixote, de vários outros livros e produção do texto, Pedro levou cerca de quatro meses para concluir o ensaio. “Não sou jornalista e não tenho vida acadêmica, raramente escrevo um trabalho assim de pesquisa, com o rigor inerente à produção científica. O processo da criação literária de prosa ou poesia tem outra pegada”, afirmou.

Ainda segundo Pedro, o ensaio chama atenção para a importância de se estudar, o que não significa louvar, a literatura da Idade Média. “Daí posso dizer que nada mais fiz do que lembrar as advertências de Cervantes com relação à necessidade da leitura crítica”, finalizou.

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