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LITERATURA

"A luta verbal": conheça o novo livro do escritor pernambucano Raimundo Carrero

Publicação traz ensaio inédito sobre a escrita literária, que deve estar em diálogo com o mundo e a realidade social do país

Escritor Raimundo CarreroEscritor Raimundo Carrero - Foto: Anderson Stevens/Folha de Pernambuco

“Um país sempre desigual e injusto precisa de uma permanente luta verbal”. É com esta premissa que Raimundo Carrero lança sua mais recente obra, "A luta verbal", pela editora Iluminuras. Com mais de 20 livros lançados, o escritor pernambucano traz este novo ensaio junto ao seu já lançado A preparação do escritor, de 2007, com uma visão atualizada de sua conceituação sobre o fazer literário.

O novo livro do premiado pernambucano atualiza nesta nova obra os ensinamentos de escrita, acumulados em mais de 25 anos dando aulas e oficinas por todo o país. “A preparação do escritor” é resultado de 15 oficinas que o escritor ministrou sobre escrita para o Portal Literário, de Heloisa Buarque de Holanda, transformado em livro. Neste momento, Carrero acredita na necessidade de atualizar o livro com “A luta verbal”, onde faz uma espécie de manifesto literário que se define como um “grito de dor contra agressões sociais”.

Carrero acredita que o escritor deva estar inserido no seu tempo e estar com a “faca nos dentes”. “Quero fazer com que o escritor seja mais participante da sociedade e que seja veículo da denúncia social, da provocação e da luta”, afirma.

Escrita engajada e uma pedagogia revolucionária
“O escritor precisa sentir o sol do povo no próprio rosto”, afirma, como uma de suas lições. O livro também traz uma proposta pedagógica “revolucionária”, nas palavras do escritor. Para ele, a literatura, o hip hop, o slam, a dança, devem estar conjugados com a sala de aula. De forma que “a rua entre na sala de aula e vice-versa”, afirma. Para ele, as artes devem estar interligadas para que o ensino esteja dentro e fora da sala de aula e tenha interlocução com outras artes e com o dia a dia dos alunos.

É também uma proposta pedagógica destinada a levar a rua para dentro da sala de aula por meio de obras de Jorge Amado, Graciliano Ramos, Marcelino Freire, Itamar Vieira Júnior, Jeferson Tenório, Sidney Rocha, Ney Anderson, Lima Barreto, Nivaldo Tenório, Cícero Belmar, escritores rebeldes e em permanente confronto com a agressiva e violenta realidade brasileira.

Ele sugere, no livro, a leitura de contos, como Muribeca, de Marcelino Freire, de romances de Jorge Amado e outros autores, e possíveis atividades a serem trabalhadas a partir desses textos, como, por exemplo, a improvisação do rap, do slam ou do duelo de violeiros, que podem ser adaptados, em seguida, para teatro e dança.

O autor analisa as técnicas de escrita de Vida secas, de Graciliano, e Suor, de Jorge Amado, revelando ao leitor aproximações e diferenças, fazendo também uma breve reflexão sobre o movimento armorial.

“Agora – neste incrível momento histórico mundial e brasileiro, liderado pelo negacionismo que ofende e tenta humilhar a humanidade – é preciso dar continuidade a esta Luta Verbal contra a fome, a miséria, o racismo, toda a forma de preconceitos e discriminação – contra agressões sociais – uso esta expressão para substituir injustiças, porque são tantas e tantas, que preciso de algo mais forte – para defender o pobre e o miserável atingido, frontalmente, por todas as desgraças que não são, em absoluto, naturais, mas produzidas pelo homem. Sobretudo a fome, fruto da ganância e da intolerância”, afirma Carrero na obra.

Sobre o autor
Raimundo Carrero nasceu em dezembro de 1947 na cidade de Salgueiro, sertão de Pernambuco, e é um dos autores mais premiados do Brasil. Conquistou os prêmios Jabuti em 2000; Prêmio São Paulo em 2010; o prêmio APCA em 1995 e 2015; o Machado de Assis em 1995 e 2010; Prêmio Revelação do ano, em 1997, da Secretaria Estadual de Cultura do Rio Grande do Sul; prêmio José Condé em 1984; e prêmio Lucilo Varejão em 1986.

Atuou também como jornalista no jornal Diário de Pernambuco, além de ter tido alguns cargos públicos, como no o Conselho Municipal de Cultura do Recife, fez parte do Movimento de Cultura Popular, foi presidente da Fundação de Patrimônio Artístico e Histórico de Pernambuco (Fundarpe), além de secretário-adjunto de Cultura, em 1998. Tem obras traduzidas na França (Bernarda Soledade e Sombra severa), na Romênia (Bernarda Soledade, Sombra severa e Minha alma é irmã de Deus), no Uruguai (Minha alma é irmã de Deus) e na Bulgária (Bernarda Soledade). Recebeu a Medalha da Ordem do Mérito dos Guararapes, grau Comendador, a maior honraria concedida pelo estado de Pernambuco.

 

Sua obra foi objeto de s doutorados — Raimundo Carrero e a estética do redemunho, de Cristhiane Amorim, pela UFRJ; e Raimundo Carrero e a pulsação narrativa, de Priscila Medeiros Varjal, pela UFPE, e dos mestrados: Somos pedras na angústia, de Auríbio Farias; Raimundo Carrero e a banalização da violência, de Elcy Cruz; e A vingança  da culpa, de Maria dos Santos, todos pela UFPE.

 

Serviço

Lançamento A luta verbal, de Raimundo Carrero

Editora Iluminuras

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