Espetáculo 'Soledad' retorna aos palcos no Recife e pelo interior de Pernambuco
Encenação conta a história da paraguaia Soledad Barrett Viedma, assassinada pelo regime militar brasileiro em 1973, na Região Metropolitana do Recife
Sete anos depois de sua estreia e algumas circulações pelo Brasil e o mundo, passando por cidades como Rio de Janeiro, São Paulo, Montevideo (Uruguai), Assunção (Paraguai) e Havana (Cuba), o espetáculo "Soledad – a terra é fogo sob nossos pés" já tem data definida para seu retorno aos palcos, desta vez em uma circulação que contemplará as cidades do Recife, Caruaru, Pesqueira e Arcoverde.
Os ingressos para as apresentações que serão realizadas no Recife já estão disponíveis no seguinte neste link. Nas demais apresentações, os ingressos poderão ser retirados a partir de uma hora antes do evento. Além disso, é importante ressaltar que será requisitada a apresentação do comprovante de vacinação contra a Covid-19 a todos os presentes.
"Soledad - a terra é fogo sob nossos pés"
O espetáculo conta a história de Soledad Barrett Viedma (1945-1973), militante paraguaia, que após ter lutado em diversos países da América Latina, veio militar no Brasil. No Recife, teve sua trajetória de lutas e idealismo interrompida brutalmente, em um dos episódios mais violentos da ditadura brasileira: o massacre da chácara São Bento. A obra, contudo, não se restringe a um caráter memorialista, mas abrange algo que se quer contar hoje, traçando um ousado diálogo entre o passado e o presente.
“Falar sobre Soledad é traçar um caminho de poesia onde a dor e a alegria estão juntas, seguindo em marcha para erguer ideais libertadores. Falar sobre “Sol” é falar de um pedaço de todos nós, que nos impulsiona diariamente a enfrentar, resistir, sem nunca abrir mão do brilho nos olhos ao imaginar um mundo melhor, com direitos iguais para todos e todas, na compreensão das nossas diferenças”, define Hilda Torres, atriz pernambucana e idealizadora do projeto.
Malú Bazán, atriz argentina radicada em São Paulo assina a direção do espetáculo, dividindo com Hilda a construção da dramaturgia, que toma fôlego a partir de uma costura entre diversos instrumentos de pesquisa e obras poéticas, que datam de 1904 até a contemporaneidade.
"O trabalho partiu da inquietação e do desejo da atriz Hilda Torres em contar essa história. E o projeto contou, desde o início, com a ajuda de muitas pessoas: ex-prisioneiros políticos, militantes da época que tiveram contato com Soledad, ou não, além de parentes e compatriotas paraguaios. Também recebeu o apoio de militantes contemporâneos, que entenderam a relevância do projeto como contribuição importante para diversas lutas sociais, como as de gênero, direitos humanos e a do entendimento da arte como instrumento de formação e empoderamento sociopolítico e cultural. Um espaço de reflexão, provocação e possibilidades”, relembra Malú.
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A dramaturgia de "Soledad" surge a partir da cronologia da personagem, alcançada através de pesquisas de campo, músicas da época, poesias (muitas de ex-presos políticos), cartas, entrevistas sistemáticas, acesso a documentos e o contato com familiares – especialmente as parceiras do projeto, Ñasaindy e Ivich Barrett (filha e neta de Soledad, respectivamente). Vale ressaltar que Ñasaindy, inclusive, além de ter contribuído para esse processo de pesquisa, ainda assina a identidade visual do projeto, cedeu uma de suas composições para a trilha sonora do espetáculo e integra, como debatedora fixa, a equipe base de circulação da obra.
Após o término de todas as apresentações a produção realiza debates, geralmente com temas que envolvam o ativismo artístico encampado pelo grupo.Com duração de 60 minutos, o solo desloca o espectador pra uma época aparentemente conhecida, mas pouco entendida e ao mesmo tempo levanta questões da atualidade, proporcionando um espaço de reflexão, provocação e possibilidades, sobretudo nos dias atuais. Trata-se de uma narrativa que traça um ousado “diálogo” entre o passado e o presente, nos levando a perceber que as coisas não mudaram tanto assim.
O espetáculo
Era início de 2015. A conjuntura sócio-política brasileira já dava sinais de que tempos ainda mais conturbados estavam por vir. Uma agenda baseada na intolerância e perseguição à liberdade artística voltava a ser adotada no país. Foi em meio a esse contexto, 42 anos depois da morte da paraguaia Soledad Barrett Viedma, assassinada pelo regime militar brasileiro, em 1973, na Região Metropolitana do Recife, que surgiu o espetáculo "Soledad – a terra é fogo sob nossos pés".
“Sol”, como era conhecida entre os mais próximos, teve sua história desenhada em meio ao engajamento político de sua família. Seu Avô, o renomado jornalista e escritor espanhol, Rafael Barrett (1876 – 1910), foi uma grande inspiração ideológica para ela. Quando nasceu, seus pais e irmãos mais velhos já eram militantes e dedicavam suas vidas quase que integralmente à luta contra ditaduras em toda a América Latina. Os exílios políticos fizeram parte da sua vida desde muito nova, com menos de um ano idade enfrentou o seu primeiro, na Argentina. Aos 17 anos, em mais um exílio, dessa vez no Uruguai, Soledad foi sequestrada por um grupo neonazista e teve suas duas pernas marcadas com a suástica, através de uma navalha. Ela negou-se a gritar palavras em saudação a Hitler e por isso sofreu essa brutal violência.
Com isso, ao invés de se intimidar, Soledad passou a se dedicar ainda mais a militância. Imediatamente foi para Moscou estudar teorias comunistas. Depois de um ano foi novamente para a Argentina e em seguida para Cuba, onde treinou táticas de guerrilha, casou e deu a luz a sua única filha, antes de vir para o Brasil e ser entregue à morte pelo seu então companheiro, conhecido por todos como Daniel, mas que, na verdade, era o Cabo Anselmo - o infiltrado dos órgãos de repressão mais conhecido do país. Sozinho, ele levou à morte aproximadamente metade de todos os mortos e desaparecidos políticos contabilizados pela ditadura brasileira. O fato de Soledad estar grávida dele não foi suficiente para sensibilizá-lo.
Circulação de "Soledad" em Pernambuco
O espetáculo estará em cartaz nos dias 12 e 13 de março, no Teatro Hermilo Borba Filho (Recife). No dia 18 de março será a vez da apresentação no Centro de Formação Paulo Freire (Assentamento Normandia – Caruaru); No dia seguinte (19/03), na Casa de Sementes Mãe Zenilda (Aldeia Xukuru – Pesqueira); e no dia 20 de março, no Sesc de Arcoverde. Complementando a programação, mais ainda sem data fixada em decorrência da pandemia, a Ilha de Fernando de Noronha encerra o roteiro.
SERVIÇO:
Espetáculo "Soledad - a terra é fogo sob nossos pés"
Teatro Hermilo Borba Filho (Recife)
12/03 – 19h (Ingressos R$ 40 e R$ 20)
13/03 – 18h (Gratuito)
Centro de formação Paulo Freire (Normandia – Caruaru)
18/03 – 18h (Gratuito)
Casa de Sementes Mãe Zenilda (Aldeia Xukuru – Pesqueira)
19/03 – 19h (Gratuito)
Espaço Escadaria (Sesc Arcoverde)
20/03 – 18h30 (Gratuito)
Ingressos das apresentações no Recife neste link
FICHA TÉCNICA:
Idealização, atuação e coordenação do projeto: Hilda Torres
Dramaturgia: Hilda Torres e Malú Bazán
Direção: Malú Bazán
Cenário e figurino: Malú Bazán
Desenho de luz: Eron Villar
Direção musical: Lucas Notaro
Produção Geral: Márcio Santos
Produção executiva: Áurea Luna
Assessoria de imprensa: Márcio Santos
Debatedora Fixa: Ñasaindy Barrett de Araújo
Administração do Projeto: Hudson Wlamir
Designer: Tiago Melo