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INVESTIGAÇÃO

Esposa de MC Poze do Rodo movimentou quase R$ 10 milhões em um ano com rifas fraudulentas

Agentes apuram esquema que finge seguir a Loteria Federal, mas usa app com indícios de manipulação

MC Poze e Vivi Noronha se casaram há menos de uma semana atrásMC Poze e Vivi Noronha se casaram há menos de uma semana atrás - Foto: Reprodução/Instagram

Viviane Noronha Geovanini, conhecida como Vivi Noronha e esposa de MC Poze do Rodo, foi alvo nesta sexta-feira de uma operação da Polícia Civil, que investiga sorteios ilegais promovidos nas redes sociais.

A operação, batizada de "Rifa Limpa," aponta que o "núcleo" da influenciadora movimentou cerca de R$ 10 milhões entre maio de 2022 ao mesmo período de 2023, com rifas fraudulentas, oferecendo prêmios em dinheiro.

Segundo a polícia, Vivi usava seu perfil no Instagram, com mais de 1,6 milhão de seguidores, para incentivar a compra de bilhetes ao valor de R$ 0,99. Ela também oferecia prêmios extras aos seguidores que comprassem mais bilhetes, prometendo pagamentos via Pix entre R$ 500 e R$ 100 mil.

 

O objetivo da investigação é recolher documentos que comprovem fraudes nos sorteios realizados e nas entregas dos prêmios aos ganhadores supostamente contemplados. O marido de Viviane, MC Poze do Rodo, apesar de não ter sido alvo da busca e apreensão, também está sob investigação no inquérito.

Para manter o engajamento, a esposa do funkeiro chegou a criar um perfil reserva onde continuava promovendo os sorteios. Em uma publicação recente, ela chegou a oferecer R$ 500 para seguidores que curtissem, comentassem e compartilhassem seu conteúdo, buscando assim ampliar o alcance de suas postagens.

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

Uma publicação compartilhada por Vivianne Noronha (@reservadavivinoronha)

Rifa de carros de luxo
Marlon Brendon Coelho Couto, o MC Poze do Rodo, que no Instagram acumula mais de 15 milhões de seguidores, segundo a Polícia Civil, é suspeito de ter ajudado a esposa a divulgar rifas fraudulentas, segundo a Polícia Civil. Poze chegou a publicar um vídeo em que aparece sorteando um veículo elétrico Tesla Cybertruck, avaliado em R$ 2 milhões, por bilhetes vendidos a R$ 0,99. Além do carro, o MC também oferecia dez prêmios em dinheiro no valor de R$ 100 mil cada. Em suas redes, ele ainda prometia que o vencedor poderia escolher entre o veículo ou a quantia.

No vídeo, Poze aparece divulgando os bilhetes ao lado do funkeiro Mauro Davi dos Santos, o Oruam, filho do traficante Marcinho VP, e do influenciador paulista Danielzinho do Grau, que, inclusive, de acordo com investigadores, responde a processos por crimes de fraude.

A oferta do Tesla, no entanto, carrega uma série de irregularidades. A investigação revela que não há documentação que comprove a posse legítima do veículo e que, em alguns casos, os influenciadores anunciavam um vencedor, mas não realizavam a transferência do carro, voltando a oferecê-lo em sorteios subsequentes.

R$ 15 milhões em cinco meses
O influenciador Roger Rodrigues dos Santos, o Roginho Du Ouro, também é investigado por movimentar milhões com o esquema de rifas fraudulentas de carros, bebidas e eventos. Segundo a investigação, Roger teria movimento em apenas cinco meses cerca de R$ 15 milhões. Ele é apontado no inquérito como responsável pela lavagem do dinheiro obtido com as rifas ilegais, usando para isso uma distribuidora de bebidas registrada em seu nome.

Na casa dele foram encontrados R$ 120 mil em espécie, uma máquina de contar dinheiro e uma mala com cédulas falsas — que, de acordo com a polícia, seriam usadas para enganar os apontadores.

Os agentes explicaram que Roger utilizava uma distribuidora de bebidas registrada em seu nome para lavar dinheiro, integrando um esquema criminoso. Seu irmão, Leandro de Medeiros, e sua esposa, Juliana Fiocchi dos Santos, também estariam envolvidos na operação. Outro membro do grupo, William Douglas Barbosa Oliveira, atuava com Leandro como "promotor" das rifas. Todos fazem parte da organização conhecida como "Família Du Ouro".

Alvos de busca e apreensão
Na manhã desta sexta-feira, agentes da Delegacia de Defraudações fizeram buscas na casa onde o cantor e a influencer moram, no Recreio dos Bandeirantes, na Zona Oeste do Rio. Ao todo, foram cumpridos dez mandados de busca e apreensão. Poze falou sobre a operação em vídeo publicado em seu perfil no Instagram e afirmou que apenas sua esposa foi alvo da ação:

"Os caras vieram aqui em casa, mandado de busca e apreensão. Eu não sou o indiciado, não foi sobre mim. Foi sobre minha esposa. Mas como vocês sabem também nós estamos super tranquilos, não fazemos nada de errado. Sabe como é, né? Quando o favelado começa a colocar a 'bagaça' no bolso, incomoda. E é isso aí. Creio eu que até semana que vem já estará tudo resolvido. Meus carros, meus ouros, celular, tudo o que levaram... porque levaram tudo. Eu não estou nem no 'bagulho', mas levaram. Mas tranquilo. (...) Tudo sendo resolvido com os nossos advogados".

Na residência de Poze e Vivi foram apreendidos, segundo a polícia, 11 telefones celulares, dez porta-joias, dois radiotransmissores e 16 joias, incluindo cordões de ouro e diamantes. Quatro carros alvos dos mandados — avaliados em mais de R$ 1 milhão — também foram levados para a Cidade da Polícia, além de bens como motocicletas e joias.

A influenciadora utiliza as redes sociais para incentivar a compra de bilhetes de sorteios com prêmios em dinheiro. De acordo com a polícia, um dos investigados do inquérito é Matheus Gouveia Mendes, titular da conta responsável por receber os pagamentos das rifas promovidas pela influenciadora. Ele também é apontado na investigação como facilitador na entrada de capital no esquema, atuando por meio de um intermediador de pagamento.

Entre os demais alvos da operação estão os influencers Roger Rodrigues dos Santos, o Roginho Dú Ouro; Jonathan Luis Chaves Costa, o Jon Jon; e Bolívar Guerrero Silva, cirurgião plástico equatoriano que já foi preso em 2022 por manter uma paciente em cárcere privado num hospital particular, em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, e que responde a pelo menos 19 processos na Justiça. Secretárias do médico, Ítala Ferreira Lima e a filha, Edvania Ferreira da Silva, ajudavam a promover a rifa e dividiam o lucro com ele, de acordo com as investigações.

Dinheiro falso
Roginho Dú Ouro é apontado no inquérito como responsável pela lavagem do dinheiro obtido com as rifas, usando para isso uma distribuidora de bebidas registrada em seu nome. Na casa dele foram encontrados R$ 120 mil em espécie, uma máquina de contar dinheiro e uma mala com cédulas falsas — que, de acordo com a polícia, seriam usadas para enganar os apostadores.

O irmão de Roginho, Leandro de Medeiros, e a cunhada do influencer, Juliana Fiocchi dos Santos, também estariam envolvidos no esquema.

As investigações da Delegacia de Defraudações (DDEF) são de crimes de jogo de azar, associação criminosa e lavagem de capitais. Os influencers estariam usando suas redes sociais — com milhões de seguidores — para divulgar e promover sorteios e rifas ilegais.

O golpe
A polícia aponta que os suspeitos usam parâmetros do sorteio da Loteria Federal e, assim, passam uma aparente impressão de credibilidade e legalidade ao sorteio. Mas não há processo de auditagem oficial para checar o real ganhador, já que eles utilizam um aplicativo customizado com indícios de fraudes, o que torna a prática ilegal.

— Os influenciadores utilizam as suas redes sociais, principalmente o Instagram, e vêm promovendo e divulgando diversos sorteios e rifas ilegais. Essa investigação começou há mais de cinco meses. Com essas ações, os envolvidos vêm cada vez mais auferindo lucro, ganhos ilícitos, em detrimento de um número indeterminado de pessoas que compram esses bilhetes dessas rifas acreditando na lisura do processo — disse a delegada Josy Lima Leal Ribeiro, titular da DDEF.

De acordo com a delegada, o Setor de Inteligência da DDEF apurou que os influenciadores faziam vídeos apontando pessoas como ganhadoras das rifas e mostravam documentos como sendo delas. A polícia investiga se pessoas próximas aos influencers investigados estariam se passando por falsos ganhadores para enganar os participantes e validar os sorteios fraudulentos:

— Nossa equipe visualizou que, na verdade, os carros sorteados ainda constavam no nome das agências bancárias. As pessoas ganhavam, mas não levavam.

Segundo a policial, para a realização de rifas é preciso uma autorização prévia da Secretaria de Avaliação, Planejamento, Energia e Loteria (Secap), vinculada ao Ministério da Fazenda — elas podem ser feitas apenas por instituições sem fins lucrativos.

— Os fins têm que ser sociais, beneficentes, para a prática da rifa — afirmou a delegada.

Josy disse ainda que MC Poze figura como investigado porque durante a apuração, que corre em sigilo, o nome dele apareceu como um dos envolvidos. Segundo ela, a investigação continua e, nos próximos meses, será deflagrada uma segunda fase da operação Rifa Limpa.

Rifa de cirurgias e pix
A delegada afirmou que o cirurgião Bolívar Guerrero Silva rifava cirurgias em suas redes sociais:

— Um absurdo. Ele rifava procedimentos estéticos, cirurgias. Ele só visava ao lucro e não ao bem estar da paciente, que não fazia nem o risco cirúrgico.

De acordo com ela, depósitos via pix também eram rifados.

— Pix de cem mil, pix de 200 mil. A gente ainda continua investigando para robustecer nosso inquérito policial.

Segundo a investigação, a prática de rifar cirurgias plásticas viola resoluções do Conselho Federal de Medicina, que proíbe o uso de procedimentos médicos como prêmios.

Casamento recente
O cantor Poze do Rodo e Vivi Noronha se casaram no último sábado. A cerimônia foi no Rio de Janeiro. Alguns detalhes do casamento foram registrados pelas redes sociais. Poze do Rodo usou um terno em tons claros e gravata borboleta. Já Vivi escolheu um vestido de noiva no estilo princesa. Na beleza, optou por ir com cabelos soltos acompanhados de um longo véu.

Estouro em 2019
Marlon Brendon Coelho Couto Silva, o MC Poze do Rodo, tem 25 anos e nasceu na Comunidade do Rodo, localizada em Santa Cruz, Zona Oeste do Rio de Janeiro. Ainda adolescente, ele se envolveu com o tráfico de drogas, experiência que afirma ter largado pela música. Sua realidade e a da comunidade em que cresceu, no entanto, estiveram presentes nas suas canções, algo que, por vezes, causou controvérsia.

Poze do Rodo estourou em 2019, quando já tinha um cachê de R$ 20 mil por show, o que chegava a somar R$ 240 mil por mês. De lá para cá, ele se manteve entre os funkeiros mais badalados da cena nacional, lançando faixas de sucesso, como "Vida louca", e participando de diversos feats, com nomes como MC Kevin o Chris, DJ Gabriel do Borel, MC Hariel, Xamã e Ferrugem. No ano passado, Poze lançou seu primeiro EP, intitulado "O sábio".

Em agosto de 2023, quando a Funarj decidiu cancelar um show do artista dentro do projeto "Fim de tarde", foi revelado que seu cachê seria de R$ 40 mil por um show.

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