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Estreia "Trama fantasma", novo filme de Paul Thomas Anderson: impactante e hipnótico

Na corrida pelo Oscar, longa-metragem marca a aposentadoria do ator Daniel Day-Lewis, aos 60 anos, e disputa em seis categorias

Imagem do filme "Trama fantasma", do diretor Paul Thomas AndersonImagem do filme "Trama fantasma", do diretor Paul Thomas Anderson - Foto: Divulgação

Diferentes sentimentos compõem o romance que está no centro do novo filme de Paul Thomas Anderson, "Trama fantasma", que entra hoje em cartaz no circuito nacional. O longa, que disputa o Oscar em seis categorias (melhor filme, diretor, ator, atriz coadjuvante, figurino e trilha sonora original), tem a fascinante capacidade hipnótica dos melhores trabalhos do cineasta norte-americano, autor de "Magnólia" (1999) e "O mestre" (2012).

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O roteiro, escrito pelo próprio diretor, se passa em Londres, nos anos 1950, e fala sobre os caminhos delicados da relação entre o estilista Reynolds Woodcock (Daniel Day-Lewis), homem obcecado pelo trabalho, pelo processo de criação artística, pela essência da beleza e do estilo, um erudito que oculta sentimentos no rigor da rotina, e Alma (Vicky Krieps), jovem cuja combinação de vigor, paixão e carisma se torna um encanto surpreendente para Woodcock.

Reynolds é reconhecido por seu talento, autor de peças únicas para mulheres ricas e importantes. Ele trabalha com Cyril (Lesley Manville) em um cotidiano cuja ordem parece indicar interesse por formas de controle e proteção diante das contingências da vida. Alma é garçonete e um dia atende Reynolds, que pede para o café da manhã uma combinação peculiar de coelho galês, ovos, linguiças, bacon, manteiga e geleia: um instante de encanto.

O filme não seria o mesmo sem esses atores: Daniel Day-Lewis (que anunciou que vai se aposentar após este filme, aos 60 anos) e Vicky Krieps parecem chegar à essência dos personagens, recorrendo aos gestos e à expressividade do silêncio como meios para acessar o que fundamenta os sentimentos mais complexos e contraditórios. A relação entre eles avança por caminhos diferentes e fascinantes, um panorama elegante e claustrofóbico de sensações que se tornam mais intensas com a admirável construção do cenário e dos figurinos.

A certa altura parecem abolidos os limites entre amor e ódio, carinho e desilusão, e a história chega a novo território, um lugar que expande o conceito de afeto. É intensa a maneira como Paul Thomas Anderson trabalha a ideia de romance, um filme grandioso e eloquente, impregnado por um sentido trágico de amor e decadência, sem dúvida entre os trabalhos mais impactantes do diretor.

Trilha sonora

Jonny Greenwood, guitarrista da Radiohead, assina a trilha sonora do filme. O músico, que já fez trabalhos excelentes nos filmes anteriores do diretor PTA, especialmente "Sangue negro" (2007), volta a experimentar pequenas melodias e sonoridades que se tornam mais intensas e dramáticas de acordo com a cena. É uma forma fascinante de afetar o sentimento de um determinado momento através do som, algo especialmente valioso quando em geral a trilha sonora serve apenas para ressaltar algum detalhe da imagem.

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