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Cinema

Estrelado por Cauã Reymond, "A Viagem de Pedro" desconstrói imagem histórica de Dom Pedro I

Filme de Laís Bodanzky estreia nesta quinta-feira (1°)

Cauã Reymond como Dom Pedro I Cauã Reymond como Dom Pedro I  - Foto: Fábio Braga/Divulgação

Dias antes dos desfiles saírem às ruas brasileiras para celebrar o bicentenário da Independência, chega aos cinemas um filme que promete desconstruir a imagem do homem tido como o herói desse marco histórico. Estreia nesta quinta-feira (1º) “A Viagem de Pedro”, longa-metragem com roteiro e direção de Laís Bodanzky, que traz Cauã Reymond no papel do primeiro imperador do Brasil.
 


A produção mostra Dom Pedro I em 1831, nove anos após o grito do Ipiranga, a bordo de um navio de bandeira inglesa rumo a Portugal. Após abdicar do trono brasileiro, o monarca retorna ao seu país de origem para tirar o poder das mãos do irmão e coroar sua filha mais velha. Durante a viagem, no entanto, o ex-imperador trava uma dura batalha interna.

Durante uma coletiva de imprensa realizada virtualmente, Laís Bodanzky revelou que recebeu de Cauã Reymond, que também é produtor da obra, o convite para criar seu primeiro longa histórico. A proposta era que ela emprestasse seu olhar feminista - muito bem impresso em “Como Nossos Pais” (2017) - para uma narrativa que se passa em outra época.


Observação do ontem, olhar de hoje

“O projeto nasceu da provocação de tentar observar o passado com um olhar de hoje e entender, por exemplo, que esse tal de Dom Pedro era um homem tóxico. Hoje nós sabemos identificar isso, mas naquela época esse termo nem existia. Há 200 anos, o que era esperado de um homem era exatamente uma estrutura patriarcal, machista e opressora. Ao longo do processo de criação foi que a gente entendeu a complexidade dessa revisão histórica”, pontuou a diretora.

Enquanto cruza o Atlântico, Pedro precisa lidar com seus próprios fantasmas. Ele revisita o passado e imagina o futuro, recordando momentos da infância, do seu casamento com Leopoldina (vivida pela atriz alemã Luise Heyer, da série “Dark”) e da duradoura relação extraconjugal com Domitila de Castro (Rita Wainer). Confinado na embarcação e sofrendo com doenças, o português entra numa espiral de acessos de raiva e alucinações que colocam em xeque sua saúde mental.

“Dom Pedro foi uma figura contraditória e retratada de formas muito diferentes. O meu grande guia para fazer esse personagem, na verdade, foi o brilhante roteiro da Laís, que escolheu o recorte desse momento em que ele está completamente frágil. Foi muito interessante poder trazer várias camadas de desconstrução dessa figura, que é mostrada no filme de uma forma muito diferente da que a gente aprendeu na escola”, comentou Cauã.

Opressão exposta

A fragata inglesa que serve de cenários para a maior parte do filme é ocupada, além do nobre português, por outros membros da corte, marinheiros, oficiais serviçais e escravizados, de diferentes culturas e falando diferentes línguas. A situação de opressão vivida pela população negra é representada por personagens de origem africana que expõem suas dores e também seus saberes, vividos por nomes como Isabél Zuaa, Welket Bunguê e Denangowe Calvin.
 
Segundo Bodanzky, “A Viagem de Pedro” foi o maior desafio de sua carreira. Sem acesso a documentos sobre o período, a diretora buscou outros elementos narrativos e estéticos que a ajudaram a reconstruir aquele momento nas cenas.

“É um filme sensorial, que convida o espectador a dar um mergulho interno no personagem através da linguagem. Em produções de época, que normalmente têm uma direção de arte muito exuberante, a tendência é que a gente amplie a tela. Nesse filme, o diretor de fotografia - o espanhol Pedro J. Marquez - fez o contrário. Ele deu um foco, induzindo uma certa claustrofobia no espectador. Além disso, foram utilizadas lentes antigas na captação. Essa imperfeição nos interessava”, revelou.

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