Estudo aponta que música e audiovisual perderão R$ 116 bilhões para inteligência artificial até 2028
Pesquisa encomendada por organização internacional que representa o setor alerta para necessidade de regulamentação no uso de tecnologias
Até 2028, profissionais da música e da indústria audiovisual perderão R$ 116 bilhões em arrecadamento — o equivalente a mais de 20% da receita financeira de cada setor — em razão do avanço de recursos de inteligência artificial, a famosa IA, nas cadeias de produção da indústria criativa.
Está aí a principal conclusão apontada pela primeira grande pesquisa a nível global sobre os reais impactos do fortalecimento da IA especificamente nessa seara.
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Realidade atual e palpável — sim, já existem exemplos de livros infantis ilustrados por IA, como uma polêmica edição de "Alice no País das Maravilhas", além de vídeos e músicas criados por meio do recurso —, a produção de conteúdos "inventados" por softwares inteligentes deve movimentar R$ 339,8 bilhões daqui a cinco anos.
A título de comparação, esse mesmo mercado de obras criadas por IA arrecadou, até agora, R$ 15,9 bilhões. Ou seja, será um salto de mais de 2.000%.
Os dados estão compilados no estudo conduzido pela organização francesa PMP Strategy e encomendado pela Confederação Internacional de Sociedades de Autores e Compositores (CISAC), entidade que representa mais de cinco milhões de criadores no mundo.
Para especialistas e profissionais inseridos atualmente no mercado, as projeções não são nada animadoras — e indicam a necessidade, cada vez mais urgente, de uma regulamentação dos usos de IA.
O documento publicado pela CISAC chama atenção para o fato de que os programas de IA "generativa" — aqueles "capazes de aprender padrões complexos para gerar novos conteúdos", como explica o estudo — são treinados, gratuitamente e sem autorização, a partir do conteúdo de milhões de obras protegidas por direitos autorais.
A rigor, nada criado por IA surge "do nada", como reforçam especialistas.
Grosso modo, funciona assim: basta indicar um comando para a ferramenta de IA (exemplo: "crie uma melodia inspirada no repertório do artista tal"), e, voilà, tem-se uma canção inédita em mãos, produzida, veja bem, a partir de todo o material de tal artista disponível digitalmente.
"Sem regulamentação é a lei da selva e a instituição da barbárie sobre a propriedade intelectual e o direito autoral" afirma Marcelo Castello Branco, presidente do conselho da CISAC e CEO da União Brasileira de Compositores (UBC).
"Todo o treinamento de IA é feito com o uso não liberado de obras protegidas"
Os governos precisam fazer seu papel de controle e monitoramento e de uma arquitetura legal que proteja os criadores e suas obras. Senão, é a banalização generalizada e sem dono.
O estudo cita um fenômeno tido como "canibalização de catálogos". E mais.
Os pesquisadores calculam que a música produzida por programas de computador ficará, nos próximos cinco anos, com 20% dos lucros gerados pelas plataformas de streaming.
"Este estudo revela de forma contundente os riscos para todo o coletivo da indústria criativa e sinaliza que, sem regulamentação, o futuro será de perdas irreparáveis" reforça Castello Branco.
"Não somos contra a IA, sabemos de suas capacidades de aceleração de processos e simplificação de rotinas, mas também é vital estabelecer mecanismos e critérios de transparência e responsabilidades"