Eula Rochard vira 'heroína' após prisão de George Santos e detalha passado drag de deputado
Segundo drag queen, Santos tinha 17 anos na época, queria ser Miss Gay Rio como Kitara Ravache e já mentia muito: 'A gente dava um tapinha na orelha dele e dizia: 'Acorda, viado'
Não pergunta a idade da drag queen Eula Rochard. A história que ela tem para conta dá conta de sua fama desde os tempos em que a internet ainda era mato, gíria usada para lembrar daquele passado sem vida exposta nas redes sociais e tutoriais sobre tudo nos canais de vídeo. Em Niterói, cidade de 514 mil habitantes no Estado do Rio, ela era uma referência ("patrimônio", prefere).
Cabe Eula por Eula: "Eu era gloriosa, a mãe de 300 mil viados". Ela lembra que shows de drags eram marginalizados e feitos em guetos ("boate é coisa de muito depois") e que correu muito da polícia ("a gente andava em bando para se proteger"). Nesta semana, após o deputado de origem brasileira George Santos, acusado de cometer fraude, lavagem de dinheiro, desvio de verbas públicas e mentir perante o Congresso, entregar-se à Justiça americana, Eula se viu "gloriosa" mais uma vez. Nas redes sociais, seu perfil foi marcado em inúmeros compartilhamentos sob a bandeira "a drag venceu".
Para quem não está ligando os pontos. Em janeiro deste ano, depois de ver a história de Santos na TV, Eula botou a boca no trombone dizendo tê-lo conhecido em 2005, quando o então rapaz de 17 anos ainda morava em Niterói e tinha um sonho bem longe do americano: ganhar o concurso de Miss Gay Rio de Janeiro.
Segundo a drag queen, foi ela quem ensinou diversos segredos da profissão para Kitara Ravache, nome artístico adotado na época por Santos. Dicas de como se montar, basicamente: enrolar e desenrolar a peruca, colar cílios postiços, dublar, desfilar numa passarela.
Não tinha vídeo na internet ensinando nada naquele tempo. A gay mais nova procurava a gay mais velha para aprender. E foi isso que ele fez. Frequentava muito a minha casa, sentava do meu lado, via eu botando peruca, colando cílio, para aprender. Ele fazia igual. Quando errava, repetia até aprender — lembra Eula. — Agora você vê... Como uma bicha sai de Niterói e engana um país. E não é qualquer país, são os Estados Unidos!
Eula conta que conviveu com ele em 2005 e em 2007. No primeiro período de contato, que se estendeu praticamente pelo ano todo, ela diz que ele era bem "pobrezinho", usava um "vestidinho preto simples":
Depois, ele foi para o Estados Unidos e voltou em 2007, já com bastante dinheiro, figurino caro.
A drag não sabe a origem do nome artístico escolhido por Santos, embora até tenha tentado descobrir conversando com uma travesti de Niterói chamada Angélica Ravache, que negou conhecê-lo:
Não sei de onde saiu o nome... Ele já chegou como Kitara.
De acordo com Eula, em 2007 Santos já tinha estado nos Estados Unidos, onde vivia o pai, e voltou ao Brasil "montado na grana", com figurino caríssimo. Para provar a convivência, ela lança mão de uma foto de jornal em que aparece ao lado de Kitara, drag que realmente guarda semelhança física com Santos. Depois da revelação dela, também surgiu nas redes um vídeo de Santos/Kitara numa parada gay em Niterói.
Ele já mentia muito naquela época. Mas a gente dava um tapinha na orelha dele e dizia: 'Acorda, viado'.
Eula diz que em 2008, Santos/Kitara chegou a participar do concurso Miss Gay Rio de Janeiro. Mas não conseguiu ser eleito.
Para ganhar tinha que ser lindo, alto, saber desfilar. Ele não era nada disso.