Exposição "Mancha de Dendê Não Sai": mostra no Paço do Frevo passeia por legado de Moraes Moreira
Exposição abre nesta sexta-feira (16) e segue em cartaz até março de 2025
É na "cidade velha e bonita (que) assim já nem há", e na base de "Um frevo em ré, pra deixar você fora de si" (como lá, feito lá no Recife) que Moraes Moreira (1947-2020) se basta como o 'baiano mais pernambucano' que se tem notícia.
Afinal, segundo o próprio exaltava, "Pernambuco é Brasil" e tal qual, a partir de hoje, Pernambuco é Moraes na exposição "Mancha de Dendê Não Sai".
Depois de passar por Salvador e Rio de Janeiro, a mostra, que mergulha em vida e obra do artista de Ituaçu (BA), deságua no Paço do Frevo, Bairro do Recife, e segue até março de 2025 sob a robustez de uma retrospectiva abundante pelo infindo universo de Moraes, compositor de ritmos (e de frevos) - nada mais óbvio, portanto, que seja ele o protagonista de um espaço pensado para aclamar uma das expressões máximas da cultura.
"Ele nasceu no Sertão baiano, o que trouxe uma conexão muito forte com Luiz Gonzaga, com a música nordestina, que fez parte da formação dele.
Desde lá, ele tinha esse elo com os mestres que admirava e muitos eram pernambucanos", ressalta a filha do músico, Cecília Moraes, em conversa com a Folha de Pernambuco.
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Cecília segue falando sobre a inclusão do Recife no roteiro da exposição.
"Ela compõe as cidades que tiveram mais importância na vida dele, e Recife é um lugar em que ele tinha muitos amigos e parceiros. É muito especial ter chegado aqui", conclui.
O caderno
Em três andares do Paço do Frevo, Moraes pode ser percebido em quaisquer dos sentidos humanos, inclusive, e talvez principalmente, no sensorial que exala da atmosfera que toma toda a exposição, idealizada para ser assistida, ouvida, cantada e lida, não necessariamente nesta ordem e com a possibilidade de experimentar todos ao mesmo tempo - e inevitavelmente emocionar-se.
Mas, para Cecília, escritos rascunhados pelo pai, encontrados por ela após sua partida - no Rio, em abril de 2020 -, e que está em cópia na exposição, tem um quê de especial.
"Uma das coisas que mais mexe comigo é um caderno que encontrei depois do falecimento dele, com escritos de 1976 de músicas do álbum 'Cara e Coração', incluindo 'Pombo-Correio'. Ele estava compondo a letra, com correções ainda, no processo de feitura da música", conta.
O violão
Indicar pontos de culminância na mostra é um desafio, já que em qualquer parte dela Moraes está - inclusive em copos de liquidificador pendurados que, encostados ao ouvido, fazem o visitante cantarolar.
Mas é bem possível que no último andar, as emoções irremediavelmente aflorem.
Por lá, dezenas de microfones apontam para 'o violão', "(...) o que o acompanhou durante os últimos trinta anos e que carrega muito a alma e a presença dele na gente", descreve Cecília.
De fato. Como quem adentra o tempo, em passado, presente e futuro, a sala funciona como apogeu de uma narrativa potente e que não se encerra ali, mas perfaz Moares em excelência.
"Moraes é esse cidadão brasileiro, baiano e carioca, mas muito pernambucano e recifense, e que cantou o ritmo como poucos. Tê-lo neste centro de referência é motivo de orgulho e satisfação", gaba-se Luciana Félix, diretora do Paço.
Frevo do Mundo
E será na vibe de "Moraes é Frevo" - álbum lançado este ano nas plataformas digitais, em roupagens novas comandadas por Pupillo e Marcelo Soares (Muzak), na produção musical, em parceria com o músico e guitarrista, filho de Moraes, Davi Moraes - que a exposição será aberta hoje ao público, a partir das 18h, na casa do frevo, o Paço.
Por lá, a Orquestra Frevo do Mundo faz show do disco, com Pupillo, junto a Davi Moraes, Bráulio Araújo, maestro Nilsinho Amarante, Gilmar Black, Adilson Bandeira e Jonatas Araújo, com participações de Almério e Ylana.
A apresentação marca a estreia da mostra, trazida pelo Mercado Livre, via incentivo da Lei Rouanet.
"Mancha de Dendê Não Sai – Moraes Moreira" tem produção cultural e direção geral assinadas por Fernanda Bezerra e pela cenógrafa Renata Mota, que também está à frente da direção de arte e curadoria do projeto.
Serviço
"Mancha de Dendê Não Sai - Moraes Moreira"
Quando: a partir desta sexta-feira (15), às 18h, até 9 de março de 2025
Onde: Paço do Frevo - Praça do Arsenal da Marinha, s/n, Bairro do Recife
Ingresso: a partir de R$ 5, no Sympla ou bilheteria do museu; acesso gratuito às terças
Informações: @pacodofrevo
*A abertura com a Orquestra Frevo do Mundo e o álbum "Moraes é Frevo tem acesso gratuito
Visitação: de terças a sexta, das 10h às 17h; sábado e domingos, das 11h às 18h