Famosos lamentam morte do ator Paulo César Pereio: 'ícone do nosso cinema'
Artista, que atuou em mais de 60 filmes, vivia no Retiro dos Artistas desde 2020
Morreu na tarde deste domingo o ator Paulo César Pereio, aos 83 anos, no Rio de Janeiro. Ele estava em tratamento de doença hepática avançada, em estado grave, e havia dado entrada de madrugada no Hospital Casa São Bernardo, na Barra da Tijuca.
A atriz e apresentadora Cissa Guimarães, que foi casada por 15 anos com Pereio, descreveu o ator como o "grande amor" de sua vida e agradeceu a ele pela família que construíram juntos.
"Peréio, grande amor da minha vida, te sinto e te tenho nos nossos 'sucedâneos', Thomaz e João, que você pediu tanto para mim! Te agradeço meu amor, por tanto aprendizado e amor. Eu era uma menina e você me mostrou o mundo e o amor pelo nosso ofício! Fizemos filhos e história meu amor, e agora temos nossos netos lindos para continuar nosso amor, que será sempre eterno! Brilhe, como sempre, nos palcos e telas do céu para que todos nós sejamos abençoados pelo seu talento, sua verdade e sua coragem! Te amo e te reverencio imenso! Obrigada pelos nossos sagrados filhos, obrigada, obrigada, obrigada! Vai na luz meu companheiro, com todo meu amor! Salve Paulo César Peréio!!!!!", escreveu a atriz.
A atriz Zezé Motta lamentou a morte do artista ao afirmar que o Brasil perdeu um "ícone do nosso cinema".
O colunista do GLOBO Leo Aversa disse que fotografar Pereio "foi uma das experiências mais radicais como retratista".
A cantora Fafá de Belém destacou a "irreverência, a inteligência e o humor cáustico" do ator.
O ator Tuca Andrade relembrou a grandeza do artista em postagem no X (antigo Twitter).
A atriz Lúcia Veríssimo disse que o país perdeu um "gênio", que era "louco pela arte e pela liberdade".
Paulo César Pereio
Nascido em Alegrete, no Rio Grande do Sul, em 19 de outubro de 1940, Pereio atuou em mais de 60 filmes, trabalhando com diretores como Glauber Rocha, Hector Babenco, Arnaldo Jabor, Hugo Carvana e Ruy Guerra.
Pereio tinha como inspiração o ator americano Humphrey Bogart, símbolo da masculinidade dos anos 1940 e 1950. Como Bogart, Pereio abusava de seu vozeirão e da forte presença em cena.
O ator começou a se destacar a partir de sua associação com Ruy Guerra, no elogiado "Os fuzis". Embora tenha saído brigado com o diretor, iniciou durante as filmagens a sua longa amizade com Hugo Carvana, que também se tornaria uma figura marcante do Cinema Novo. Quatro anos depois, com "O Bravo Guerreiro" (1968), de Gustavo Dahl, Pereio aprofundou sua relação com o cinema de vanguarda no Brasil, que alcançava o seu auge.
Na pós-produção de "Os fuzis," Pereio conheceu Glauber Rocha, com lhe convidaria para fazer uma pequena participação em "Terra em Transe" (1967). A ligação com o Cinema Novo continuaria ao longo dos anos 1970, trabalhando com diretores como Joaquim Pedro de Andrade ("Os Inconfidentes"), Cacá Diegues ("Chuvas de Verão") e Arnaldo Jabor ("Toda Nudez Será Castigada" e "Eu Te Amo" (1981).
Nos anos 1970, trabalharia ainda em filmes experimentais como "Bang Bang" (1971), de Andrea Tonacci, que não chegou a ser programado no circuito comercial brasileiro.
Além do cinema, Pereio brilhou no teatro durante 60 anos, entre 1956 e 2016. Atuou em espetáculos marcantes como "Roda viva" e "As bacantes", de Zé . Em 1974, dirigiu a penúltima peça de Nelson Rodrigues, "O anti-Nelson Rodrigues".
— O Pereio foi o ator que mais trabalhou nessa vida - diz o ator e amigo de longa data Stepan Nercessian. — Ele não descansava. Onde estivesse, estava o Teatro.
Nercessian é presidente do Retiro dos Artistas, onde Pereio residia desde 2020, após uma existência de excessos e brigas, bebidas, drogas, polêmicas... Assim como fazia em cena, o ator vivia à flor da pele.
A sua personalidade difícil é retratada em "Pereio, eu te odeio" (2023), dirigido por Tasso Dourado e Allan Sieber. O longa retrata as excentricidades do ator e o sentimento de amor e ódio que inspirava entre seus próximos, como a ex-mulher Cissa Guimarães, com quem teve os filhos João Velho e Tomás Velho. Em outubro de 2023, Pereio saiu de sua reclusão do Retiro dos Artistas e compareceu para a sessão do documentário no Festival do Rio. Acompanhado de Cissa e dos filhos, foi aplaudido pelo público.