Festival de música eletrônica em Israel termina em massacre 'a sangue frio'
Muitos socorristas morreram e outros foram feitos reféns
Milhares de jovens israelenses e estrangeiros dançavam até o amanhecer de sábado (7) no sul de Israel, perto da Faixa de Gaza, quando foram surpreendidos por comandos do grupo islamita palestino Hamas, que matou 250 pessoas a tiros.
Os voluntários acionados para recolher os corpos no local lembraram nesta segunda-feira (9), em estado de choque, o cenário macabro após o ataque.
"Massacraram pessoas a sangue frio, de uma forma absolutamente inconcebível", disse à AFP o porta-voz da Zaka, Moti Bukjin, uma ONG especializada em primeiros socorros e em recolher e identificar corpos de acordo com a lei judaica.
"Chegaram a matar os que estavam em seus carros", contou.
Os jovens estavam reunidos perto do kibutz de Reim, uma região remota no sul de Israel, próxima à fronteira com a Faixa de Gaza.
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O festival de música eletrônica se transformou em um cenário de desespero quando cerca de mil combatentes do Hamas lançaram uma enorme ofensiva contra Israel na manhã de sábado, infiltrando-se no território através de veículos, embarcações e paraquedas.
Em um vídeo muito difundido nas redes sociais é possível ver alguns destes paraquedas sobrevoando o evento. Em outras gravações, que não puderam ser verificadas pela AFP, jovens aparecem correndo em direção a seus carros em meio aos disparos.
Muitos socorristas morreram e outros foram feitos reféns.
Em outro vídeo compartilhado nas redes sociais, uma mulher de 25 anos, identificada como Noa Argamani, pede ajuda enquanto é sequestrada em uma moto.
"Na área onde ocorreu o festival de música e na própria festa", havia "cerca de 200 a 250 corpos", disse Moti Bukjin, com base no número de caminhões que transportaram os restos mortais durante a operação de recuperação dos corpos.
Esta estimativa confirma que o número de mortes no festival representa mais de um terço do total de vítimas fatais do lado israelense, que ultrapassa os 700 mortos, de acordo com o Exército.
"Não atiraram a esmo"
"Sou voluntário em Zaka há 28 anos e depois da catástrofe de Meron (uma avalanche humana mortal durante uma peregrinação judaica no norte de Israel) e de seus 45 mortos, pensei ter passado pelo pior", disse Bukjin em conversa por telefone, antes de voltar para as áreas do sul de Israel atingidas por milicianos infiltrados do Hamas.
"Achei que era o fim do mundo, mas, claramente, as coisas podem ser piores, claramente piores", acrescentou, recordando o que viu perto do kibutz de Reim.
As imagens aéreas obtidas pela AFP mostram dezenas de automóveis queimados ao longo de uma avenida que levava ao festival.
"Havia carros do lado da rodovia, um carro virado, outro tombado. Em cada carro havia dois ou três corpos, ou apenas um", descreveu Bukjin.
O voluntário também contou que todos os corpos que resgatou eram de pessoas que levaram tiros e foram executadas pelos agressores com um tiro na cabeça ou incendiando os carros em que estavam.
"O chocante é que eles checaram se as pessoas nas quais atiravam estavam mortas. Demorou muito até que as forças de segurança chegassem. Eles queimaram alguns dos carros com pessoas dentro", disse ele.
"Em alguns vimos (...) um tiro na cabeça, um tiro no queixo. Eles não atiraram a esmo, esperando acertar o alvo", acrescentou o voluntário.
Aqueles que tentaram fugir a pé também foram mortos. "Alguns dos corpos estavam em valas, foram atingidos enquanto tentavam fugir e acabaram caindo", contou.
Nesta segunda-feira, o Exército israelense afirmou ter retomado o "controle" da regiões atacadas no sul de Israel. A ONG Zaka poderá, então, começar a recolher os corpos das vítimas nestas localidades, entre as quais idosos, crianças e bebês.
"Será um dia difícil", lamentou Moti Bukjin.