ESPECIAL FREVO, TRADIÇÃO EM MOVIMENTO

Frevo, um leque de possibilidades: movimento atravessa o tempo sem envelhecer

Pandora Calheiros e Getúlio Cavalcanti, cantores e compositores Pandora Calheiros e Getúlio Cavalcanti, cantores e compositores  - Foto: Alexandre Aroeira/Folha de Pernambuco

Havia encantamento nos olhos, nas falas, nos gestos. Conclamar o frevo em uma prosa, causa rebuliços em quaisquer circunstâncias. Foi assim que se deu com a diretora do Paço do Frevo (Bairro do Recife), Luciana Félix - à frente do espaço que reforça o quão atemporal é o frevo como movimento incólume em importância histórico-cultural e ao mesmo tempo, envolto por possibilidades que torna o Patrimônio Cultural Imaterial (e Pernambucano) da Humanidade, pulsante e vivo, aberto e acessível para novos repertórios, assinados por quaisquer "gentes".

Lucian Félix, diretora do Paço do FrevoLuciana Félix, diretora do Paço do Frevo                                     Crédito: Paullo Allmeida/Folha de Pernambuco

Inclusive por mulheres, nicho cuidadosamente salvaguardado pelo Paço, pensado que é, como Centro de Referência para preservação e tradução do frevo e suas reverberações. De nove lideranças do Paço, seis são mulheres. Uma parcela que a-i-n-d-a causa surpresa, quando comparada com a predominância de homens à frente de orquestras e outras variantes do gênero.



Mas no Paço, "Elas estão num lugar de muito afeto, de muita deferência, de uma memória que precisa constantemente ser visibilizada", contou Luciana, ao ser indagada sobre o papel e lugar das mulheres no gênero, complementando que "Há um reconhecimento do trabalho que é feito com resultado e propósito", sob a ressalva de que, quando colocado em prática, fica muito mais afetivo". 

Gerações que passeiam pelo frevo
Seguindo no campo das afetividades - e das mulheres no frevo, e das gerações que perpassam o movimento - a cantora e compositora pernambucana Pandora Calheiros, 18, é especialista nele, no frevo, a ponto de deixar-se levar pelas lágrimas ao se deparar com o seu extremo geracional, o cantor e compositor Getúlio Cavalcanti, 81. 

Em uma espécie de duelo, colocados frente a frente, além da admiração mútua, o frevo literalmente trocado entre ambos deu o tom da conversa com a Folha de Pernambuco. Ocasião em que também foi atestado que "Pode acabar tudo, enfim", mas o frevo seguirá resguardado por composições como a de Pandora, "Cinzas da Quarta-Feira", frevo de bloco vice-campeão no II Concurso Nordestino de Frevo realizado o ano passado pela Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj)

Getúlio Cavalcanti e Pandora CalheirosGetúlio Cavalcanti e Pandora Calheiros                                                      Crédito: Alexandre Aroeira/Folha de Pernambuco

A letra da música, Pandora divide com a mãe, já a melodia, voz e o desejo externado em seguir adiante com o frevo, a cada verso executado ao lado de Getúlio - nome que, há pelo menos seis décadas, engrandece o Carnaval de Pernambuco - tem assinatura própria.

"Para mim é algo bem natural (cantar frevo)", comentou Pandora para em seguida ouvir um "Vá em frente" de Getúlio, de pronto celebrado pela jovem compositora com "O Bom Sebastião", uma das tantas contribuições sonoras concedidas por um dos imensuráveis da Folia de Momo de outrora - e da atualidade, por óbvio. 

E depois de um "Pode me acompanhar?" acanhado, feito à "velha guarda" do frevo,  os versos que conduziram/conduzem o Bloco da Saudade veio sob lágrimas e aplausos trocados entre duas gerações vivas e pulsantes.

Com lucidez e diálogo, portanto, as boas-vindas ao velho frevo novo devem ser dadas. O Carnaval é de vastidão, em letras, arranjos, cores e fantasias, assim como é também uma manifestação resguardada pela resistência de há décadas seguir bradando o quão "É lindo ver o dia amanhecer (...) dizendo bem, que o Recife tem, o Carnaval melhor do meu Brasil".

E para a assertiva, inexiste passado duelando com o presente, muito menos com o futuro. O frevo é para todas as gentes, todos os passos e rebuliços orquestrados em uníssono quando, por exemplo, o "Pã rãn rãn rãn rãn rãn rãn" ressoa em qualquer hora e de qualquer lugar, inflamando multidões.

            Silvério Pessoa e a capacidade de metamorfosear do frevo

Silvério Pessoa, cantor e compositor pernambucanoSilvério Pessoa, cantor e compositor pernambucano                               Crédito: Paullo Almeida/Folha de Pernambuco

"O frevo tem essa capacidade de se metamorfosear, não só ele mas a cultura popular em geral e as expressões culturais de Pernambuco. Essa permanência e hereditariedade do frevo, com a essência através dos seus capoeiras, dos frevos de bloco, canção, de rua, é preciso que se mantenha uma matriz, mas cultura não é estática.

A cultura dialoga e promove conexão e disciplinaridade, interfaces. Desde as gerações primeiras, de Capiba, Nelson Ferreira, a Expedito Baracho e Claudionor Germano, e ao mesmo tempo com a cena mangue, com o caixa da Nação Zumbi, ali também tem frevo. E com as bandas de Olinda e novas orquestras surgindo, a hereditariedade contemporânea do frevo é notória".
 


Maestro Oséias: "Pra mim Carnaval é frevo"

Maestro OséiasMaestro Oséias                                                              Crédito: Alexandre Aroeira/Folha de Pernambuco

"Música de São João em tirmo de frevo? Vai dar certo não. Mas eu topei e deu certo, até atraiu um público mais jovem do frevo, que agora é tocado e cantado pelas ruas. É nas ruas que eu gosto mais de botar o frevo pra fora, porque gosto do povo em cima da gente.

E não repito frevo. E o povo acompanha e canta, até música da Banda Eddie sai também. A turma gosta. Eu criei minha família com o frevo e pra mim Carnaval é frevo, eu gosto do frevo, e do frevo bem feito. Eu toco três, quatro horas que nem sinto, e por mim é de janeiro a janeiro, tem isso de ser só no Carnaval não".

 

 

 

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