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"Funk generation": Anitta mantém o tamborzão batendo e fala (muito) de sexo em três línguas

Com letras que chegam a soar ingênuas de tão 'safadas', cantora faz nova tentativa de exportar o ritmo das favelas cariocas

"Funk generation", novo album da Anitta"Funk generation", novo album da Anitta - Foto: X/Reprodução

Se, lá nos anos 1960, o quarteto inglês The Who (quem?) falou de seus pares em “My generation” (aquela do “Espero morrer antes de ficar velho”), e, duas décadas depois, a Legião Urbana definiu sua patota como “Geração Coca-Cola”, nada mais justo do que Anitta aparecer, no auge de seus 31 anos, com este “Funk generation”, seu sexto disco — sim, o pop moderno às vezes usa o desgastado formato, em meio a enxurradas de singles e feats.

Uma homenagem ao funk (apenas funk, sem essa de “funk carioca”; James Brown daria sua bênção, do alto de seu trono de Godfather of Funk)? Uma atualização do gênero? Funk para exportação? Um pouco de tudo, e não exatamente tudo.

Nas letras, ela mistura espanhol, inglês e português — com vantagem para o idioma de Maluma e Shakira, que Anitta sabe muito bem jogar o jogo e tem consciência de que o mundo hispânico é um belo mercado a se conquistar —, mas o tamborzão do funk (carioca?) aparece em praticamente todas as 15 faixas. Com uma média de 140 segundos por música, a moça de Honório Gurgel dá aos fãs o que eles querem. E isso não é muito, convenhamos: apenas bons motivos para mexer o bumbum ao som da batida pasteurizada a partir dos tambores de cerimônias religiosas de matriz africana.

Sexo? Claro. Muito. Músicas como “Double team”, em que Anitta recebe o porto-riquenho Brray e a espanhola Bad Gyal, e “Savage funk” chegam a ser hilárias de tão “safadas”. Na primeira, Bad Gyal contribui com um verso genial em portunhol: “Olha só pra mim/ Más perra (mais cachorra) que Rin-Tin-Tin”, que ela confirma com “Soy bien puta, bien pupupupupuputa, puta, puta”. A segunda, curtinha, quase uma vinheta, tem apenas Anitta, e a palavra-chave percussiva é “fode”. Enfim, clichês tão comuns no universo funkeiro que acabam soando ingênuos. Alguém ainda se ofende, se surpreende ou se excita?

Não por acaso, a faixa em que Anitta se cerca de brasileiros é forte candidata a melhor do disco. Já estourada desde seu lançamento como single, em 2023, “Joga pra lua” traz os figurões Dennis e Pedro Sampaio e uma estrofe que, se não é exatamente Aldir Blanc, gruda como um chiclete de melancia: “De longe eu te avistei/ Bateu a sintonia/ Papo que eu viajei/ Querendo essa boquinha”. No refrão, “Joga pra lua, vai/ Joga essa bunda” dá ao povo exatamente o que ele quer.

Outro destaque vai para “Love in common”, que foge um pouco do funk para um pop-soul contemporâneo, melódico, em uma letra mais elaborada, que trata de um amor que chega ao fim. Anitta tem coração, afinal.

Nas duas ela aparece com uma voz mais grave, redonda, do que na maior parte do disco, em que se apresenta em um registro agudo genérico que não permite sua identificação frente a dúzias de outras cantoras atuais. Por falar em voz, o britânico Sam Smith comparece bem em “Ahi”, que não chega a ser uma grande composição, mas a presença do astro lhe confere um selo de qualidade.

Com tão poucos destaques, “Funk generation” — que tem produção afiada, como tudo o que traz a assinatura de Anitta — precisava de 15 músicas? Talvez valesse fechar em 10 ou 12 e trabalhar mais arranjos e letras. Mas Dona Larissa sabe que a quantidade é a alma do negócio, como mostrou, outro dia mesmo, Taylor Swift e seu interminável “The tortured poets department: the anthology”, com 31 faixas, que ultrapassam as duas horas de música. Como discutir com milhões de ouvintes mensais e literais bilhões de cliques? Solta o tamborzão.

Cotação: Regular

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