Futebol e Música: paixões entrelaçadas dentro e fora de campo
Ditado por ritmos diversos, o futebol ganha sonoridades que movem o torcedor
Seja encarnado e branco e preto, encarnado e branco ou encarnado e preto, o que menos importa entre música e futebol são as cores que unem as duas paixões.
Um enlace trazido, entre tantos outros, por Jackson do Pandeiro (1919-1982), cujo refrão da letra de Edgard Ferreira “Um a Um” descreve personagens que protagonizam uma partida e por Jorge Ben Jor, ao celebrar gol “celestial” do jogador do Flamengo João Batista de Sales, o Fio, que se tornaria “Maravilha” em composição da década de 1970 e que segue atual em festas, inclusive, de não-flamenguistas.
É como disse o cantor e compositor Cannibal, torcedor fervoroso do Santa Cruz, “a vida sem música não existe”, quase o tanto quanto os dias sem futebol.
“Em jogos sempre tem uma charanga, lembro disso desde os tempos da várzea. A música ultrapassa o sentimento pelo time", ressalta ele, autor de “Nem Si nem Dó”, dedicada ao Tricolor do Arruda no primeiro disco da Café Preto, banda idealizada por ele em projeto paralelo à Devotos.
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Para o professor do Programa de Pós-Graduação em Música do Centro de Artes e Comunicação da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Amilcar Bezerra, a relação 'música e futebol' “se dá mais com canções festivas e carnavalescas”.
“As que serviram como tema para a seleção brasileira em Copas do Mundo, por exemplo, quase sempre foram marchinhas mais ou menos aceleradas, como “Pra Frente Brasil”(1970)”, pontua o acadêmico.
Pensando que não necessariamente o futebol vem como protagonista em letras de canções, mesmo quando composições não tratam diretamente das “quatro linhas" se tornam essenciais fora ou dentro dos estádios.
Gêneros como o samba ecoam nos “esquentas” que precedem partidas, fato que, segundo Cannibal, “Faz pensar que o time vai melhorar com uma charanga tocando mais alto”.
Para a banda Sambstar que faz show há pelo menos seis anos na sede do Sport, instigando rubro-negros antes do início das partidas do time na Ilha do Retiro, o samba é o ritmo preferido de torcedores e de jogadores também. “Do vestiário dos tempos de Pelé até hoje, é o repertório”, opina Joaquim, um dos vocalistas do grupo.
Mas, para o professor Amilcar, outros ritmos também ecoam junto aos torcedores rubro-negros, por exemplo, mostrando que distinções musicais não têm relação com paixão clubística. “O Sport promoveu lives com Mc Sheldon e houve torcedores que reclamaram nas redes sociais uma live com Alceu Valença", lembra ele.
Futebol e Música: parceria e história
Quando o Brasil se sagrou campeão sul-americano pela primeira vez, em 1919, no Rio de Janeiro, coube a Pixinguinha e Benedito Lacerda dar o tom de choro à “Um a Zero”, em menção ao placar do título – a canção ganhou letra na década de 1960, com Nelson Ângelo, cujos versos descreviam a saga. Dos compositores que “musicaram" o futebol, vale citar nomes como Lamartine Babo e Ary Barroso, bem como Chico Buarque com “O Futebol” (1989).
Dentro ou fora dos estádios, sem necessariamente “ter a ver com o futebol”, a música se entrelaça ao esporte, “muitas vezes são sucessos populares apropriados pela torcida, pelas mais diversas razões”, explica Amilcar Bezerra, citando “Vou festejar” imortalizada por Beth Carvalho (1946-2019) e que se tornou "hino da torcida do Atlético Mineiro”.
Historicamente, porém, como bem trouxe o cantor e compositor pernambucano Silvério Pessoa - alvirrubro desde os tempos em que ia com o avô ao Clube Náutico Capibaribe testemunhar os frevos da Orquestra do Maestro Duda. “Não existe uma cultura de um povo sem a música permeando, costurando o 'tecido social', e isso inclui o futebol, obviamente”. Portanto, se há um “prego batido e ponta virada” nesse nó, é que o jogo deve seguir o tanto quanto o baile.