Futebol nos quilombos é tema de exposição fotográfica
Mostra 'QuilomBOLA Imersão', do pernambucano Costa Neto, estreia virtualmente
Em quase toda comunidade no Brasil é possível encontrar um campo de futebol, ainda que seja improvisado. Desde 2013, o fotógrafo pernambucano Costa Neto vem se dedicando a registrar o que ocorre nesses espaços de prática esportiva e socialização, com foco especificamente nos quilombos. A exposição virtual “QuilomBOLA Imersão”, fruto desse trabalho, chega ao público hoje.
Até o momento, o artista já visitou cinco comunidades quilombolas diferentes, atento à relação entre os seus moradores e a bola. O resultado pode ser acessado através dos canais no YouTube e no Vimeo da Bacurau Filmes, produtora responsável pela ação. Produzida com recursos da Lei Aldir Blanc, a mostra busca oferecer uma experiência imersiva, guiando o público por um tour em uma galeria virtual com imagens em 360º.
O projeto nasceu no intervalo de um trabalho realizado por Costa Neto, que na época estava a serviço do Governo do Estado. Ao avistar um grupo reunido em um campo amador, o fotógrafo se aproximou para fazer alguns cliques e acabou se surpreendendo com o resultado. “Fiquei impressionado com a luz diferenciada. Depois disso, sempre que chegava em uma comunidade quilombola para alguma pauta procurava um jogo de futebol para fotografar no final da tarde”, revela.
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Na primeira etapa do projeto, foram contemplados os povoados de Chã dos Negros, em Passira; Águas do Velho Chico, em Orocó; e São Lourenço, no distrito Tejucupapo, no mucicípio de Goiana. Essas imagens integram uma exposição presencial, realizada em 2017, durante o Festival de Inverno de Garanhuns (FIG), no Parque Euclides Dourado.
Futebol é coisa de mulher
“Retomei a proposta recentemente, em meio à pandemia, para registrar mais duas comunidades. Percebi que só havia fotografado homens. Fui em busca de uma representação feminina no futebol, que é muito forte no quilombo de Conceição das Crioulas”, explica. Além da comunidade localizada em Salgueiro, o fotógrafo esteve em Castainho, na cidade de Garanhuns.
Costa Neto busca revelar em suas imagens as características dos vilarejos, mostrando a integração entre o ser humano e a paisagem. Os campos possuem características em comum, como o chão de terra batida e barras improvisadas de madeira. No entanto, para o artista, cada lugar impõe sua própria identidade.
O esporte como escape
“Eles se entrelaçam em alguns aspectos, mas cada quilombo é um cenário completamente diferente”, defende. A forma como todos lidam com o esporte, no entanto, é semelhante. “Percebo que o futebol, além de integrar aquelas pessoas, é uma forma de lazer que traz muita paz e felicidade para elas. Sinto também que, ao serem fotografados, eles se sentem mais valorizados”, comenta.
Os planos de Costa Neto para o seu projeto nos quilombos não chegam ao fim com o lançamento na nova exposição. Ele já está inscrito nos mais recente edital do Funcultura e, caso seja selecionado, deve partir para uma circulação internacional. A ideia do fotógrafo é expor na ilha da Sardenha, na Itália, onde uma equipe intermediará o contato com um clube de futebol local. “Meu sonho é que essa iniciativa também possa revelar talentos. Quem sabe, a gente consegue exportar algum jovem para jogar bola na Europa”, imagina.
O fotógrafo pretende ainda levar as imagens para dentro dos quilombos, fazendo com que as pessoas retratadas tenham a oportunidade de ver o resultado em suas próprias comunidades. “Meu objetivo é caminhar muito mais, ampliando os locais fotografados. O que eu quero é não só incentivar a prática futebol, mas valorizar a identidade negra nesses lugares, que são verdadeiros focos de resistência”, aponta.