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Mulher na música

Gabi da Pele Preta revoluciona como mulher que desafia padrões

Artista caruaruense é nome forte da cena local e pulsa na representatividade como mulher

Gabi de Pele PretaGabi de Pele Preta - Foto: Rafaela Amorim/Braba/Divulgação

Para além de um single recentemente lançado e um clipe libertário, Gabi da Pele Preta tem em si seus próprios levantes como mulher. Quando, por exemplo, desnuda a si mesma e enxerga seu corpo envolto em uma dança de possibilidades, em meio ao propósito artístico de engajar a arte a manifestos. Em “Revolução” – disponível nas plataformas digitais, como a primeira de outras canções que vão compor o disco de estreia, para breve – ela esbanja o que há de mais legítimo em sua musicalidade: o rebelar-se em desfavor de padrões em um trânsito leve e fluido à parte de obviedades. 

Neste Dia Internacional das Mulheres, as linhas que se seguem vêm para explorar a mulher, artista, preta, do Agreste e tal qual o novíssimo trabalho de carreira, revolucionária, assim como podem ser adjetivadas todas as mulheres. “Essa forma social é o que castra todos os dias as nossas subjetividades. Historicamente, há tentativa de colocar o ser humano dentro de uma categoria universal e qualquer coisa que consiga confrontar esse sistema estabelecido, conseguir sobrepor isso ou apenas questionar, é revolucionar”, descreve Gabi acerca da sua “Revolução” como intérprete da composição de Juliano Holanda, que a fez dançar no clipe.  



“Nós queríamos uma música que transitasse em outro lugar (...). Quando a mulher se permite dançar - e eu particularmente tenho uma história difícil, tive problemas com o meu corpo até os 21 anos, porque eu me olhava e só conseguia ver a objetificação a que as mulheres pretas foram retratadas durante anos – vem essa música envolvente e sedutora, no sentido de chamar a atenção das pessoas para essa vida transformadora, mas dentro de um outro contexto”, complementa. 

A reflexão de Gabi da Pele Preta com o clipe do single inaugural do disco que está em produção, entrega ao universo de negritudes (e branquitudes) um olhar possível, quando traduz por meio do ato de dançar a perspectiva de chegar a qualquer lugar que se queira, ora “Pra sentir-se parte do todo. Pra sentir o corpo no corpo. Pra soltar as raízes do chão”, como reflete parte da letra. “Para além do corpo sexualizado conseguimos ser vistas em outros lugares de nossas subjetividades, seja produzindo ciência ou cultura. Mas houve um tempo recente da história que só nos cabia o lugar da objetificação, para cumprir e adentrar estereótipos postos”.  

Gabi da Pele PretaGabi da Pele Preta Foto: Rafaela Amorim/Braba



Sim, Gabi é representatividade da mulher do Agreste, do Nordeste. “Eu poderia ser artista e cantar qualquer outra coisa, como cantei até começar neste lugar mais revolucionário e militante, porque foi exatamente nele que me tornei desejada em muitos espaços, e isso é muito revolucionário. É conseguir fazer o meu trabalho trazendo pautas negadas cotidianamente. E meu centro é o Agreste, é lá que produzo para levar para outros lugares e é de lá que é minha equipe”, ressalta a caruaruense que levou o clipe do single para ser gravado em Garanhuns.  Para a data simbólica do 8 de março, ela celebra refletindo sobre conquistas sem, contudo, esquecer de outras que ainda precisam chegar às mulheres. 

“A melhor maneira de entender o quanto a revolução é necessária é no processo de escuta. Propor-se a ouvir minimamente a experiência de outras mulheres e sair de nossas micro-revoluções, já que elas não bastam. Temos uma estrutura que nos mata todos os dias, nos domina e quer minar qualquer traço nosso de criatividade e de liderança. Se a gente consegue furar tudo isso e se colocar no mundo mais perto do que a gente vislumbra, considerando todas as nossas subjetividades e vivências, isso é muito revolucionário”.

E a arte, Gabi, o papel desse ofício é de salvaguardar quem? “A arte... ela é respiro, né minha filha? O lugar de reflexão e confronto, mas também de descanso. A vida sem arte seria insuportável e as pessoas precisam enxergar a arte nas sutilezas. Que ela permaneça, porque está sempre sob ameaça. Se a tirarem, não sobreviveremos”.

 

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