Gal, Chico César e Geraldo Azevedo entre os shows memoráveis do Festival de Inverno de Garanhuns
Shows apresentados neste domingo (23) marcaram décima noite do FIG 2022, e teve público uníssono aos repertórios dos artistas
Das noites memoráveis da 30ª edição do Festival de Inverno de Garanhuns (FIG), a décima, deste domingo (24), integrará o rol das mais aclamadas pelo público que, assim como os demais dias, tomou o espaço da Praça Mestre Dominguinhos, polo principal da festa – que bateu o recorde de público nas apresentações de Pitty, Titãs e Duda Beat, ocorrida no último sábado (23).
Na programação de ontem, além da caruaruense Isabela Moraes, em repertório do seu “Estamos Vivos” – tendo sido antecedida pelo grupo Rogério e os Cabra - o palco do Dominguinhos estava reservado para a estrela da noite, a cantora Gal Costa, que veio logo em seguida à artista pernambucana.
No entanto, foi com a dupla Chico César e Geraldo Azevedo, e o show “Violivoz”, que a noite ganharia o mérito de ser uma das mais celebradas do Festival.
Leia também
• Rock e recorde de público marcam noite do sábado no FIG 2022
• Dezenas de fãs ficam de fora de show de Adriana Calcanhotto no FIG
• Simone, Lenine e Spok inebriam público do palco principal do FIG 2022
Nordestinidade Pulsante
Rogério e os Cabra ficaram à frente da abertura da noite e em meio à mescla de ritmos e harmonias nordestinas, levantaram o público. Além do repertório com cancioneiro autoral, a apresentação contou também com a veia poética de Rogério, vocalista e idealizador do grupo, formado por sete integrantes.
Em seguida a cantora e compositora caruaruense Isabela Moraes imprimiu, com intensidade que lhe é peculiar, repertório de “Estamos Vivos” (Deck, 2020) – trabalho que teve a produção do multiartista pernambucano, Juliano Holanda, que também a acompanhou no palco da noite de ontem.
E para entoar uma das faixas do disco, “Do Contra”, Isabela convidou a artista garanhuense Bella Kahum, que deu conta do recado e emocionada, ao final, agradeceu e pediu para que artistas locais ganhem mais atenção.
Gal Costa, a mais esperada da noite...
Embora sem a lotação alcançada da noite anterior, com Pitty, Titãs e Duda Beat no palco, responsáveis por atrair mais de 60 mil pessoas no Mestre Dominguinhos, até então o recorde de público da atual edição do FIG 2022, Gal era a mais esperada da noite do domingo. E como atração principal, a artista baiana, 76 anos, foi ovacionada em sua entrada e acompanhada em uníssono na maioria das canções que trouxe para o Festival.
De pronto, Gal abriu o show – cuja direção tem assinatura de Marcus Preto - com “Fé Cega, Faca Amolada”, música de Milton Nascimento em parceria com Ronaldo Bastos.
Na sequência, com “Divino Maravilhoso”, composição de Gil e Caetano, e o refrão conhecido de que “É preciso estar atento e forte, não temos tempo de temer a morte”, o público começou mais efetivamente a participar da apresentação – que trouxe uma Gal sem os agudos lancinantes de outrora, com voz falha e por vezes complementada com o coro dos fãs que acompanhavam o show.
Fato que, por óbvio, não cabe ser enaltecido em tom de crítica. Afinal, trata-se de Gal Costa, artista das mais incontestáveis da Música Popular Brasileira ao longo de quase seis décadas de carreira.
As clássicas “Dom de Iludir” (Caetano Veloso), “Desafinado” (Tom Jobim) e “Paula e Bebeto” (Milton e Caetano), Gal movimentaram o público, que parou para ouvir “Palavras no Corpo”, música composta por Silva em parceria com o poeta Omar Salomão, lançada por ela como single inaugural em 2018 para o disco de inéditas que viria a seguir, “A Pele do Futuro”.
Outras como “Lua de Mel” e “Sorte” foram recebidas com louvor pelos fãs, que em delírio acompanharam Gal em “Maria, Maria”, outra das composições irretocáveis de Milton.
Na sequência, com “Brasil”, música do repertório de Cazuza e que segue necessária quanto no tempo em que foi lançada por ele, o show chegou ao seu ápice, com ressalva para o tom o político imposto na letra e corroborado palavras de Gal Costa antes de começá-la. “Eu tenho tentado tirar essa canção do meu roteiro, mas não consigo, o Brasil não deixa”.
Poderia ter sido a derradeira de Gal, que chegou a despedir-se do público para voltar instantes depois e finalizar a apresentação com outra de seu repertório que, inevitavelmente, é tomada pelo coro uníssono de que a ouve.
“Mais uma música para vocês, porque estão achando que o show é curto”, iniciou ela, antes de botar novamente o público para cantar “Dia de Domingo”, composição de Tim Maia reverberada pela cantora baiana.
Violivoz
Para boa parte do público, talvez, Gal Costa levaria o título de estrela da noite. E foi, também. Porque a apresentação de Chico César e Geraldo Azevedo, com show da turnê "Violivoz" não deixou a desejar. Ao contrário, não é temerário afirmar que superou e foi, portanto, a atração principal da noite do domingo.
Desde a entrada, com os cumprimentos ao público, carregados pelo sotaque nordestino da Paraíba de Chico ao Pernambuco de Geraldo Azevedo, o show ratificou um dos enlaces recentes mais felizes da música brasileira.
Com "Táxi Lunar" abrindo os trabalhos, em meio ao dedilhar arrebatador de ambos nos violões, o público, devoto, acompanhou a dupla com euforia, externada em especial com clássicos como "Mama África", "Moça Bonita", "Pensar em Você" e "Dia Branco", sequência que alternou repertório de um e de outro - ambos veteranos do Festival. Geraldo, inclusive, da primeira edição, há três décadas.