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Gal Costa

Gal Costa, na música brasileira, é infinda

Gal Costa morreu nesta quarta-feira (10), aos 77 anosGal Costa morreu nesta quarta-feira (10), aos 77 anos - Foto: Reprodução/Instagram

Gal Costa... Por onde começar? Talvez pela tentativa de qualificá-la como diva, plural, transcendente, infinda e incontestável voz (cristalina) da música brasileira – subitamente calada na manhã de ontem, aos 77 anos.

Preâmbulo óbvio, que seja, mas habilmente pensado para dar vazão a um pesar irreparável provocado por uma partida inesperada da “Gracinha”, como era chamada pela família e por amigos, e que logo se tornaria, ainda na década de 1960, a nossa João Gilberto de saias, “apenas” por saber cantar demais e ter se tornado tal qual o seu conterrâneo baiano, fundamental e revolucionária no cenário da Música Popular Brasileira – que o diga a solar e transgressora “Gal Fa-Tal” (1971) da contracultura, musa do tropicalismo e do desbunde, em contrassenso à delicadeza em timbre e afinação que lhe eram peculiares.

Gal CostaCrédito: Reprodução/Instagram

Maria da Graça Costa Penna Burgos foi apoteótica por todos os ‘Brasis’ em que transitou com sua música, e como participante ativa, atravessou as mais diversas narrativas, políticas inclusive, em meio a discos – em pouco mais de 60 anos de carreira, foram mais de 40 gravados – shows e palcos.

 



“Gal expunha o que acontecia no Brasil, em termos artísticos, musicais e sobretudo em termos políticos. Os espetáculos, discos, grande parte deles desenhavam a situação do País, nas lutas políticas, na redemocratização, nos piores momentos da ditadura. A obra dela é muito viva e pulsante”, assevera Renato Contente, jornalista e autor do livro “Não Se Assuste, Pessoa! As Personas Políticas de Gal Costa e Elis Regina” - narrativa que conta a trajetória política das duas maiores cantoras brasileiras no regime militar do País, Elis Regina e Gal Costa.



Gal atravessou o Brasil...
O passeio de Gal pela história da música Brasil afora, partiu da bossa nova, passou pela Tropicália, pairou pela MPB e findou, em seus últimos trabalhos, pela contemporaneidade “exigida” para chegar a novas gerações, público com quem manteve trânsito fluido e como ela própria ressaltou, em conversa com a Folha de Pernambuco sobre o seu derradeiro show no Teatro Guararapes, em março deste ano, “Talvez o segredo seja o fato de eu ser uma cantora que não tem medo de seguir novos caminhos, gravar novas coisas, ousar e dar saltos na minha carreira”.

Na mesma resposta, Gal fez questão de refutar quaisquer resquícios de “fim de carreira”, assegurando que ainda tinha muitos projetos para colocar em prática. “(...) Quero fazer coisas ainda e não me sinto velha. Tenho a alma jovem, tenho energia para muita coisa ainda”. 

Gal Costa e Maria BethâniaGal e Bethânia                         Crédito: Reprodução/Instagram

E de fato, tinha mesmo muita energia. Angariar novos pupilos para o seu fazer artístico imenso foi uma cartada certeira nos últimos tempos. “Cuidando de Longe”, com Marília Mendonça, faixa do álbum “A Pele do Futuro” (2018); “Baby”, com Tim Bernardes, “Coração Vagabundo”, com Rubel e “Só Louco”, com Silva em “Nenhuma Dor”  (2021), foram versões que atestaram o quão versátil e ampla foi/é Gal Costa, que em sua essência priorizou o ‘ser intérprete’ com a propriedade de quem toma a música para si e se apodera como dona de cada letra e refrão. 

“Dizer que Gal foi uma das maiores cantoras da música popular brasileira é redundante e óbvio. Ela criou um estilo particular e intransferível (...) Deixou uma obra sólida, que continuará sendo desfrutada pelo tempo afora. Artistas assim não morrem”, ponderou José Teles, jornalista e crítico de música.

No Recife, para/com o Frevo
Gal Costa... Por onde terminar estas linhas, portanto? Talvez pela terça-feira apoteótica do Carnaval de 2007, quando em celebração ao centenário do frevo Gal elevou a noite no palco do Marco Zero, no Bairro do Recife, a uma magnitude artística memorável, sob a regência instrumental de Spok e orquestra.



Pairava ali mais um fincar perene entre os tantos registrados em cada palco pisado por ela que, entregue (como sempre), foi “Balancê”, foi “Bloco do Prazer”, foi “Frevo”, foi Gal (como sempre).

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