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"Girls Love" na Tailândia: o sucesso global da indústria de séries LGBTQIA+

Séries como "Gap: The series", "The loyal pin", "23.5", "Pluto the series" e "Mate the series" têm atraído milhões de vizualizações ao protagonizar casais de mulheres vivendo o amor

Sarocha Chankimha (Sam) e Rebecca Armstrong (Mon) em 'Gap: The series'Sarocha Chankimha (Sam) e Rebecca Armstrong (Mon) em 'Gap: The series' - Foto: Divulgação

O amor sempre vence, e na Tailândia, ele encontrou uma maneira única de atravessar fronteiras e trazer mudanças sociais. Nos últimos anos, o país se tornou um dos maiores exportadores de histórias de amor LGBTQIAPN+ para o mundo.

Séries como "Gap: The series", "The loyal pin", "23.5", "Pluto the series" e "Mate the series" têm atraído milhões de vizualizações ao protagonizar casais de mulheres vivendo o amor. Esse fenômeno cultural contrasta com a realidade social do país.

Apesar de produzir séries "Girls Love" (GL) há mais de uma década, a Tailândia só deu um passo em direção à igualdade em junho deste ano, ao se tornar o primeiro país do Sudeste da Ásia a legalizar o casamento homoafetivo.

"Girls Love" (GL), ou "Love Between Girls", é uma expressão que descreve um gênero de entretenimento, principalmente em animes, mangas, séries e filmes, que foca em relações românticas e afetivas entre mulheres. O conceito de GL surgiu no Japão, onde o termo mais utilizado era "Yuri".

Inicialmente, as narrativas de "Yuri" muitas vezes colocava as mulheres na "friend zone", uma zona de amizade que, apesar de mostrar um vínculo profundo entre as personagens, raramente evoluía para um romance explícito.

O gênero GL tende a ser mais focado em representar relações sáficas (entre figuras femininas) de forma mais direta e explícita, tornando o casal o ponto principal da trama.

O mundo dos doramas sáficos
Ana Júlia, mais conhecida como Ana Bagunceira, é uma influenciadora gaúcha de 28 anos que se destaca no YouTube por produzir vídeos focados no entretenimento sáfico, com reviews de séries, jogos e outros conteúdos relacionados à comunidade LGBTQIAPN+.

Com 680 mil seguidores em seu canal, ela se tornou uma das principais referências para jovens lésbicas, bissexuais e pansexuais no Brasil. Desde 2022, ela tem dedicado atenção especial às séries GL (Girls' Love) tailandesas, realizando conteúdos de reações e comentários sobre essas produções em seu canal.

"Eu acabei sendo recomendada, as pessoas começaram a falar sobre GL. E aí apareceu o episódio piloto de "Gap The Series", mas um ano antes de ser lançado. Eu fiz o react, mas nem imaginava que seria essa mega produção com final feliz e que depois ia explodir para virar esse universo que é o mundo dos doramas sáficos" conta.

Um exemplo desse fenômeno é "Gap: The series", da Idol Facture, que possui episódios com mais de 50 milhões de visualizações. O sucesso da série alavancou as carreiras das atrizes Rebecca Armstrong e Freen Sarocha, que protagonizaram a produção, e rendeu a elas outros títulos como "The loyal pin", além de dois filmes no cinema.

"Eu acho que essas produções estão conquistando o público porque a gente sempre tem história de romance, aquela coisa bem clichê, que às vezes chega até a doer os olhos de tão previsível, mas a gente ama. Todo mundo gosta de um romance clichê, por mais que fale que não" comenta.

Novas narrativas
"The loyal pin", outro grande sucesso da Idol Factory, lançado neste ano, teve o apoio do governo tailandês, o que revela uma mudança de postura frente ao cenário cultural e midiático. De acordo com Anna, o governo tailandês tem percebido que, embora tenha demorado, não vale mais a pena ignorar as transformações sociais e culturais da atualidade.

A aprovação do casamento LGBTQIAPN+ no país, ainda que tardiamente, é um reflexo desse movimento, onde, finalmente, os direitos civis de pessoas LGBTQIA+ começam a ser reconhecidos e validados. Ana acredita que as produções GL estão conquistando o público justamente por sua capacidade de trazer algo novo dentro do formato romântico.


A youtuber também pontua que as produções GL são importantes por oferecerem visibilidade às narrativas LGBTQIA+, especialmente ao dar protagonismo a histórias entre mulheres, que muitas vezes são tratadas de forma pesada, sem a leveza ou o final feliz que elas merecem.

"Aqui no Ocidente, a gente tem um olhar muito fetichizado em cima de relacionamentos entre mulheres. Sempre há uma objetificação. Eu acho que, na Tailândia, eles trouxeram a essência do que é um amor entre duas mulheres, um romance onde não há espaço para fetiche" traz a influenciadora.

No Brasil, o GL tem encontrado um público crescente, especialmente entre mulheres e a comunidade LGBTQIA+, que sentem a necessidade de ver suas próprias histórias representadas de forma autêntica e respeitosa.

"São simplesmente duas pessoas se amando. As cenas +18 dos GLs não têm nada explícito para ser objetificado. São detalhes, olhares, toques, coisas que mulheres que amam mulheres sentem e representam" fala.

A expansão global das séries GL
Diferente das séries convencionais, muitas produções GL são publicadas diretamente no YouTube, com empresas como Idol Facture, ZENSE Entertainment e GMMTV, que possuem canais gigantes na plataforma, sendo que a última conta com mais de 18 milhões de inscritos.

Streamings, como Crunchyroll e Netflix, também começaram a exibir séries e filmes com temática GL, o que ajudou a expandir o alcance do gênero a diferentes públicos.

Ela também observa que o impacto das séries GL ultrapassou as fronteiras do entretenimento, criando uma nova geração de fãs interessados não apenas nas histórias, mas também na cultura tailandesa.

"A galera quer aprender tailandês, quer ir para a Tailândia e consome coisas de lá. Isso acaba forçando, de certa forma, o governo e a política local a mudar" afirma.

Além do seu canal principal no YouTube, Ana Bagunceira também mantém um canal de lives que chegam a mais de 200 mil visualizações, onde interage com seus seguidores enquanto assiste às séries ao vivo e compartilha suas reações e comentários em tempo real.

"Sobre o meu público, eles pedem muito conteúdo. Às vezes, eu não consigo acompanhar tudo que está saindo. Eu estou quase sem tempo em 2024, porque tem muita coisa sendo lançada, e eu não esperava isso" revela Anna.

Apesar do entusiasmo com o crescimento do gênero, Ana também se preocupa com a possibilidade de exploração das atrizes, algo que ela vê acontecer com frequência no mundo do K-pop.

"Eu espero que as atrizes não sejam exploradas, como acontece com os artistas de K-pop. Torço para que isso não aconteça no GL, porque as atrizes merecem respeito" diz a influenciadora.

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