"Goblin Mode"? Conheça a palavra do ano eleita pelo Dicionário Oxford
Expressão viralizou após notícia falsa envolvendo Kanye West; "#IStandWith" e "metaverse" também estavam na disputa
Há um ano, os grandes lexicográfos de Oxford Languages obedientemente estenderam os braços e escolheram “vax” como a palavra do ano de 2021. Mas, este ano, a venerável editora por trás do Oxford English Dictionary entrou no modo goblin completo.
"Goblin Mode" — uma gíria que se refere a "um tipo de comportamento que é assumidamente auto-indulgente, preguiçoso, desleixado ou ganancioso, geralmente de uma forma que rejeita normas ou expectativas sociais" — foi eleita a Palavra do Ano do Dicionário Oxford em 2022.
Sim, você leu certo. Após uma votação online esmagadora, uma piada interna que ganhou destaque graças a um tweet viral satírico envolvendo uma atriz, um rapper e uma manchete adulterada foi escolhida.
“Novas palavras pegam quando capturam nossa imaginação ou preenchem a lacuna de um conceito que precisamos expressar”, diz Katherine Connor Martin, diretora de produto da Oxford Languages, em entrevista por telefone. “O ‘modo goblin’ ressoou com a sensação de que a pandemia acabou, mas ainda estamos lutando contra ela. Queremos voltar às noções de respeitabilidade do mundo pré-pandêmico?”
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A palavra do ano é escolhida com base no corpo continuamente atualizado de mais de 19 bilhões de palavras do Dicionário Oxford, coletadas de fontes de notícias em todo o mundo de língua inglesa. A seleção, de acordo com Oxford, pretende “refletir o ethos, o humor ou as preocupações” do ano anterior, ao mesmo tempo em que tem “potencial como termo de significado cultural duradouro”.
Normalmente, os lexicógrafos de Oxford montam uma lista de palavras que tiveram um aumento estatisticamente relevante e depois escolhem uma. Este ano, eles adotaram uma abordagem mais populista, anunciando uma lista de três finalistas — "modo goblin", "#IStandWith" e "metaverse" — e depois lançando uma votação online pública de duas semanas.
“A escolha ser feita por um grupo de pessoas em Oxford sempre pareceu estranhamente antidemocrático”, disse Martin. “E este ano, quando as pessoas estão falando sobre a democracia como algo que pode estar sob ameaça, não parecia a abordagem certa.”
A inclusão do “modo goblin” causou alguma consternação, e fez os menos acostumados com o mundo online correrem para o Google. Mas para alguns, era um vencedor claro — ou pelo menos o menor de três males.
Em um apelo apaixonado, o site PC Gamer exortou as pessoas a “deixar de lado nossas diferenças mesquinhas e votar no 'modo goblin'”, nem que fosse para derrotar os outros dois concorrentes, “#IStandWith” e “metaverso”.
“Vote para cuidar de si mesmo e sentir a alegria de rejeitar as normas sufocantes da sociedade”, pedia o site. Porque “o metaverso que os CEOs querem vender a você é horrível”.
A internet obedeceu, entregando impressionantes 93% dos mais de 340 mil votos para "goblin mode". “Metaverso” foi o segundo colocado, com 4%.
As origens precisas de “goblin mode” são obscuras. O termo apareceu no Twitter em 2009, de acordo com Oxford, mas se tornou viral no ano passado, graças a um tweet satírico em cima de uma manchete falsa que citava a atriz Julia Fox dizendo que ela e Kanye West terminaram porque ele não gostava quando ela "entrava em modo goblin". (Fox posteriormente foi ao Instagram dizer que: "Só para constar, nunca usei a frase "modo goblin")
O termo, diz Martin, reflete a influência da linguagem dos videogames. O “modo Goblin” pode ser novo, mas o “modo besta”, remonta ao jogo "Altered Beast", da Sega, de 1988.
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Outros dicionários optaram por opções mais convencionais. Este ano, Merriam-Webster escolheu “gaslighting” (com base em um aumento de 1.740% nas pesquisas em seu site). Os Dicionários de Cambridge escolheram “homer”, que estava entre as muitas palavras de cinco letras que surgiram este ano graças ao Wordle.
Martin reconheceu timidamente que, no concurso de Oxford, ela era #TeamMetaverse. “De certa forma, esse é o chato e óbvio”, disse ela. “Mas há muitas coisas sobre isso que são interessantes.”
A palavra tem origem na ficção científica, no romance de Neal Stephenson de 1992, “Snow Crash”. E como o “ciberespaço”, cunhado em 1982 pelo romancista William Gibson, passou “da ficção científica ao fato científico” com o florescimento da internet.
Até agora, a trajetória do “metaverso” não é clara. “Isso se tornará algo real? Ou será um termo de marketing cafona que ninguém usa?” Martin disse.
Graças, em parte, ao rebranding do Facebook como Meta (e apostando seu futuro no metaverso), o prefixo “meta” já deixou de ser uma palavra filosófica intelectual para algo corporativo e, para muitos, suspeito. “O conceito de pessoas sentadas usando óculos vai poluir o conceito de autorreferencialidade irônica?” Martin questiona.
Quanto ao “modo goblin”, certamente terá outro pico graças à publicidade em torno da Palavra do Ano. Mas — para usar um adjetivo adicionado ao Dicionário de Oxford em junho — ele já é oficialmente cringe?
Martin riu. “Quase certamente.”