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"Grade", documentário de diretor pernambucano, é exibido no Teatro do Parque

Filme revela o potencial criativo de pessoas encarceradas

Filme "Grade"Filme "Grade" - Foto: Divulgação

A população carcerária - que, atualmente, chega ao total de 919.951 pessoas no Brasil - costuma ser vista pela sociedade como uma massa uniforme, sem direito a subjetividades ou fabulações. “Grade”, documentário do pernambucano Lucas Andrade, busca quebrar esse olhar desumanizante, revelando o potencial criativo de quem está em situação de cárcere.

Depois de estrear em janeiro dentro da 25ª Mostra de Cinema de Tiradentes, o filme ganha uma sessão no Recife. A exibição gratuita ocorre nesta terça-feira (26), às 19h30, no Teatro do Parque, sendo sucedida por um bate-papo com o diretor do longa-metragem, que atualmente reside em Niterói, no Rio de Janeiro.

“Grade” nasceu como parte do projeto de mestrado de Lucas Andrade no programa de pós-graduação em artes da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). O intuito do cineasta era investigar, através da linguagem do audiovisual, a experiência vivenciada em uma Associação de Proteção e Assistência aos Condenados (APAC), entidade que atua na recuperação e reintegração social de condenados a penas privativas de liberdade.
 

Lucas acompanhou de perto a rotina dos detentos que vivem na unidade da APAC de São João del Rei, em Minas Gerais. As filmagens no local aconteceram pouco antes da eclosão da pandemia de Covid-19, entre dezembro de 2019 e fevereiro de 2020. Mais do que registrar o dia a dia dos encarcerados, o diretor quis torná-los parte do processo de criação do filme. A opção, segundo o cineasta, tem a ver como a instituição lida com os seus moradores. 

Partindo da premissa de humanizar o sistema penitenciário, os ambientes que adotam a metodologia da APAC promovem um tipo diferente de reclusão. Nestes locais, os apenados têm uma maior participação nas decisões, assumindo a manutenção do espaço, o controle das próprias atividades e até de sua segurança. “Pensar em filmar em tal local sem a presença ativa dos que ali cumprem pena não me fazia sentido”, comentou. 

Ao longo de um ano, a equipe envolvida na obra realizou visitas esporádicas ao local, tentando envolver os presos na experiência audiovisual por meio de um cineclube. Depois desse período, foi ofertada uma oficina de prática e criação cinematográfica. As atividades deram aos participantes conhecimentos técnicos, como o funcionamento dos equipamentos, e também sobre a linguagem que seria trabalhada na obra. 

Na narrativa proposta pelo filme, real e imaginário se entrelaçam, de acordo com as percepções dos residentes. “Buscamos estimular que o cinema pudesse não só retratar a vida no local, mas também os sonhos daqueles que ali cumprem suas penas”, apontou. Através da autorrepresentação dos apenados, o longa expõe um modelo alternativo ao sistema penitenciário brasileiro, conhecido por sua superlotação e insalubridade, mas sem deixar de lado as problemáticas que esse outro método também carrega.

“Por ser um modelo que pretende reformar nosso sistema penal e não aboli-lo, existem também alguns pontos que devem ser vistos com atenção. A presença da religião é um deles, já que estamos em um estado laico e na APAC a presença do cristianismo institucionalizado muitas vezes apaga as possibilidades dos apenados de professarem outras fés”, crítica.

Serviço

Exibição do filme “Grade”, de Lucas de Andrade
Quando: nesta terça-feira (26), às 19h30
Onde: Teatro do Parque (Rua do Hospício, 81, Boa Vista)
Entrada gratuita
 

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