Grupo pernambucano leva moradores de rua ao teatro
O espetáculo 'Diário da Independência', que ganha pré-estreia nesta quarta-feira, no Teatro Arraial, aborda o cotidiano da população em situação de rua
Viver nas ruas, infelizmente, implica em ter muitos dos seus direitos básicos negados. Um deles é o acesso aos bens de cultura, algo que mesmo para quem possui um CEP nem sempre é facilitado. Cientes deste problema e visando romper preconceitos, os artistas do grupo pernambucano São Gens de Teatro propõem uma experiência incomum. A proposta é levar moradores de rua ao teatro para, ao lado de outros espectadores, assistirem a uma apresentação cênica.
O coletivo teatral está em contagem regressiva para estrear seu mais novo espetáculo, "Diário da Independência", que aborda o cotidiano da população em situação de rua. O lançamento ocorre no Rio de Janeiro, no dia 16 de agosto, na programação do Festival de Cultura de Petrópolis, mas antes será realizada uma pré-estreia na capital pernambucana, no Teatro Arraial, nesta quarta-feira (7), às 19h. Os ingressos custam R$ 30 e o valor inclui a entrada de um morador de rua.
"Precisamos aprender a deixar de ver o outro como parte da paisagem. É um ser humano que está no chão, deitado, com fome e frio. A nossa ideia é desconstruir preconceitos e propor a troca, para que as pessoas exercitem o olhar. A cidade está pulsando, mostrando o tempo todo a sua vulnerabilidade social, e a gente precisa discutir isso. Nosso papel enquanto artistas é esse: provocar mudanças", defende o diretor e autor da peça, Anderson Leite.
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Antes da sessão, o grupo fará uma performance aberta na Praça da Independência, na região central do Recife, às 18h, para convidar quem mora no local para a apresentação no teatro. O que será encenado na noite de hoje é apenas uma prévia, já que o espetáculo completo só será conhecido no Rio de Janeiro. Toda a verba arrecadada na pré-estreia será utilizada para custear a viagem do grupo, além de viabilizar futuras ações voltadas para pessoas desabrigadas.
O título "Diário da Independência" é uma referência à Praça da Independência, também conhecida como Praça do Diário. A trama retrata o universo dos moradores de rua pelos olhos de um homem que, em busca de respostas para suas questões existenciais, decide passar uma noite de réveillon nesta mesma praça. "A peça nasceu de uma inquietação nossa, ao passarmos por esse ponto específico da cidade e notarmos o aumento da população em situação de rua. Gostamos de trabalhar com a poética marginal. Toda temática que costuma ser invisibilidade nos interessa", explica.
"No contato desta noite, esse cidadão vai descobrindo pessoas que necessitavam serem ouvidas. Então, ele abre o diário e começa a escrever as crônicas urbanas contadas por cada um que ele conhece", revela. Para conhecer melhor essa realidade, o grupo teve como laboratório a experiência de visitar a praça que serviu de inspiração e conversar com os moradores. "Fomos abraçados por alguns, mas também existiu uma repulsa inicial. Sempre respeitamos o espaço deles, porque o que queremos com a montagem é tentar aproximar o público ao máximo da dor e da luta diária que essas pessoas enfrentam", afirma.