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'GTA 6' provoca mal-estar freudiano após dez anos de espera pela nova versão

Sequência do produto de entretenimento mais rentável da história é anunciado com recorde de audiência no YouTube e previsão de lançamento para 2025

Cena do trailer do jogo 'GTA VI'Cena do trailer do jogo 'GTA VI' - Foto: Divulgação

Com audiência astronômica, o trailer do game “Grand Theft Auto VI” (GTA 6) funda um monolito cultural. Com isso, até o lançamento do jogo, previsto para 2025, haverá uma longa expectativa à sua espera. Basta conferir o The Game Awards (TGA), o Oscar da mídia. Pelo que se viu, “GTA 6” deve ganhar no ano que vem a categoria de jogo mais aguardado pela turma do videogame. As 93 milhões de visualizações em 24 horas, recorde de um trailer no YouTube, dispensam a bola de cristal.

A reação desmesurada não é obra do acaso. “GTA” é a mais famosa série de mundo aberto, termo para jogos que oferecem liberdade de escolher o que fazer e aonde ir. É possível passear pelas ruas, cortar o cabelo, ir no cinema… ou cometer chacinas, contratar prostitutas, consumir drogas. O título é destinado ao público adulto, em caso de alguém estar em dúvida.

‘Azar, eu acho’
O anúncio de “GTA 6” segue a estrutura dos antecessores, com cenas da cidade, narrativa do protagonista e pouco mais de um minuto de duração. Informação do jogo em si é parca, mas o trailer tem atmosfera, dá vibe ao hype. Vazado um dia antes da data marcada, o anúncio mostra a prisioneira latina Lucia. Ela é questionada se sabe a razão de estar ali. “Azar, eu acho”, responde, dando início a uma sequência de cenas rápidas de Vice City, cenário do jogo, inspirada em Miami.

Pessoas com pouca roupa, polícia, lama, redes sociais, dias de sol e noites de neon tomam conta, situam um espelho ao caos da vida contemporânea. Parte das passagens, com uma mulher munida de dois martelos e um rapaz com tatuagens no rosto estilo Coringa, faz referências a acontecimentos reais. Lawrence Sullivan, o Florida Joker da vida real, desaprovou a semelhança e pede compensação de “milhões”.

“GTA 6” diminui o ar de paródia exagerada do título anterior para sugerir um recorte da atualidade. O jogo está mais próximo da realidade e vice-versa. De “GTA 5” para cá, Donald Trump, que aparentaria ser um personagem saído do jogo, foi eleito presidente dos EUA e exerceu o cargo por quatro anos.

A familiaridade da carga do trailer de “GTA 6” gera estranheza e inquietação. É o espaço do termo freudiano Unheimliche, que versa sobre elementos reconhecíveis que trazem desassossego, mal-estar e, em casos extremos, terror. De tradução incerta, a palavra alemã pode ser lida como “infamiliar”; o tradutor e psicanalista Paulo Sérgio de Souza Jr prefere “incômodo”.

O desassossego também se dá pelo digital ser cada vez mais indissociável do físico. O gráfico de “GTA 6” é realista na mesma medida de um filtro de rede social. As cenas do trailer são carregadas de estímulos e elementos, prato cheio para reações e análises frame a frame dos influenciadores. Até o Grêmio entrou na onda e colocou Renato Gaúcho lá — quem sabe a Rockstar instala uma rede de futevôlei para o técnico.

Até o lançamento, o público vai devorar cada migalha de informação sobre o jogo, seja anúncio oficial, especulação, teoria ou vazamento.

As grandes produções de videogame equilibram liberdade do jogador com gráficos, priorizam um ou outro. “The last of us”, por exemplo, que deu origem à série indicada ao Globo de Ouro, estipula um rígido roteiro, porém regala os jogadores com ambientes detalhados. O jogo de piratas “Sea of thieves” é o oposto. Ele oferece um mapa irrestrito, porém recicla objetos gráficos, não se apega a minúcias. São propostas diferentes.

Dona do “GTA”, a Rockstar tenta unir o melhor dos dois mundos com custo de produção na casa das centenas de milhões de dólares.

Testículos realistas
O último lançamento da marca foi o jogo de faroeste “Red dead redemption 2”, de 2018, que chegou a trazer animação realista nos testículos dos cavalos, que encolhem no frio. Nenhum outro estúdio tem interesse ou capacidade de atingir a escala megalomaníaca da Rockstar.

O retorno financeiro é igualmente desmedido. Lançado há uma década, “GTA 5” quebrou sucessivos recordes de vendas, com um total de 190 milhões de unidades comercializadas. É considerado o produto de entretenimento mais rentável da história — faturou mais que qualquer filme, disco ou livro.

jogo se mantém relevante desde então, atravessando três gerações de consoles — saiu nos PlayStations 3, 4 e 5 — e é um dos mais vistos na Twitch, plataforma de transmissão ao vivo de games. Atualizações oficiais e modificações feitas pela comunidade de jogadores mantém a atenção de milhões de usuários. “GTA Online” é próximo de um metaverso — palavra, aliás, muito hypada pelas empresas de tecnologia no paleolítico.

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